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domingo, 8 de maio de 2011

NOVÉJIAS MERICANAS: O PREÇO DO AMOR (Sátira)

NOVÉJIAS MERICANAS: O PREÇO DO AMOR

Rangel Alves da Costa*


Rosalba Santaflor e Mirtes Santaflor eram irmãs gêmeas que nunca se deram bem. Desde a infância que perceberam suas diferenças e até hoje, já aos vinte e poucos anos, não se falavam e faziam tudo para nem se olhar. A única coisa que as aproximava era o mesmo homem que amavam.
O mesmo homem que amavam se chamava Albertino Augusto, rapaz humilde, trabalhador numa das empresas do grande grupo empresarial da família Santaflor. A gerente de uma dessas empresas, precisamente onde trabalhava o rapaz, era Rosalba Santaflor, moça arrogante, egoísta, extremamente vaidosa, daquele tipo que gosta de ser reconhecida por sua mão de ferro e com poder de ter tudo o que desejasse, no mesmo instante, em suas mãos.
Albertino Augusto namorava com a irmã gêmea da arrogante Rosalba. Muito diferente desta, Mirtes Santaflor era verdadeiramente um amor de pessoa, terna, meiga, serena. Muitas vezes já haviam comentado como uma flor poderia ser irmã gêmea de uma jararaca, de uma cobra cruel. Contudo, o destino as colocou consangüíneas, lado a lado, com o mesmo sobrenome, na mesma raiz familiar.
Mirtes não era afeita aos negócios familiares, não tinha sonhos de poder e mando como sua irmã gêmea. A riqueza jamais havia lhe subido à cabeça nem mudado o seu jeito de ser. Era dona de uma pequena loja de roupas, coisa simples mesmo, ainda que pudesse transformar aquela butique num verdadeiro shopping se quisesse.
Mesmo comandado uma das maiores empresas do grupo Santaflor, Rosalba morria de ciúmes da irmã Mirtes e sua pequena loja. Vivia perguntando aos conhecidos se a outra ainda continuava com aquele pequeno comércio ou se já havia fechado a espelunca. Chegava a implorar às amigas que não adquirissem sequer um lenço daquela loja.
Sua raiva maior, seu ódio exagerado, era exatamente porque a irmã namorava com o rapaz pelo qual já havia feito tudo. Tendo o rapaz como seu empregado, quase todos os dias o convidava à sua sala, onde fazia os mais explícitos assédios, oferecia os mais caros presentes, prometia altos cargos na empresa e salários que ele jamais pensou em receber. Só bastava que ele renunciasse ao amor de Mirtes e caísse em seus braços.
De tanto assediar, agarrá-lo e beijá-lo à força, ficar totalmente despida na frente do rapaz, pretender fazer da sala de negócios um verdadeiro festim, e o rapaz jamais aceitar aqueles tentadores apelos, ela decidiu que ou ele se tornava seu amante ou o expulsaria da empresa por uma justa causa que inventaria e jamais ele seria aceito em qualquer outra empresa.
Mesmo passando por tantas pressões, Albertino Augusto nunca chegou nem a comentar sobre o fato perante Mirtes. Continuavam mais apaixonados do que tudo e não seria nem uma empresa que lhe fosse oferecida que faria com que a trocasse por outra. Porém teve que mudar sua atitude no dia que lhe informaram que passasse no setor competente para receber suas contas, pois havia sido demitido.
Quando lhe passaram a informação sobre a demissão, a primeira coisa que Albertino Augusto fez foi procurar aquela que sabia que estava por trás dessa história toda. Pediu que anunciassem que desejava falar com a gerente e depois de muito tempo esperando recebeu das mãos da secretária um bilhete de Rosalba Santaflor: “Não quis trabalhar aqui, então vá arrumar emprego na espelunca da Mirtes. Pobre é pra viver junto mesmo”.
Depois de ler, pediu a mesma secretária que fizesse o favor de entregar à patroa um envelope com um pequeno embrulho. No papel, numa frase curta, dizia: “O mundo vai saber como trabalha a empresária Rosalba Santaflor”. E no embrulho havia uma cópia das filmagens feitas com câmera escondida, tendo como personagem principal a grande gerente nua, seduzindo, falando os assuntos mais picantes, assediando o rapaz. Era vídeo e áudio.
Em seguida, procurou a namorada, irmã de Rosalba, e entregou-lhe mais uma cópia. Quando esta assistiu, pulando trechos pelo constrangimento causado pelas cenas fortes, caiu num pranto que parecia não mais parar de tantas lágrimas e soluços. Contudo, nem bem lhe saiu a vermelhidão do rosto e alguém bateu à porta dizendo que tinha uma informação urgente para repassar: “Rosalba se atirou do 8º andar!”.
Mirtes jamais aceitou se desfazer do seu pequeno negócio para assumir o gerência vaga com a morte da irmã. Preferiu continuar vivendo com a mesma humildade e tendo ao lado aquele homem que tinha demonstrado tanta honestidade com ela. Só não sabia que estava sendo traída.
Albertino Augusto estava completamente apaixonado pela única empregada da butique de Mirtes, a saliente Carmela.
FIM




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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