NOVÉJIAS MERICANAS: OS GÊMEOS IRMÃOS
Rangel Alves da Costa*
Somente a malvada da Condessa Concepción Deloures sabia da verdade sobre os gêmeos que moravam tão próximos e nem sequer imaginavam existir entre eles a mesma origem familiar. Contudo, apenas um não conhecia esse fato.
Fernando Lupano, grande proprietário de terras, era irmão gêmeo de Ernando Panulo, este um pobre aldeão que prestava serviços, em troca de um miserável salário e uma vida de trabalho chegando mesmo à escravidão, na grande fazenda do próprio irmão gêmeo.
A Condessa Concepción Deloures, conhecedora de toda a verdade, vez que a milionária mãe dos gêmeos era sua grande amiga, assim que esta faleceu viúva e após dar à luz filhos gêmeos, mandou que uma serviçal de sua residência fosse até a mansão da então falecida e roubasse um dos dois filhos gêmeos nascidos.
O intento da Condessa com esse odiento e desumano ato não era outro senão unir, futuramente, as duas fortunas, fazendo com que uma neta casasse com aquele herdeiro tido como filho único. Foi nesse sentido que ela mesma cuidou de todo crescimento e formação da neta Sol Deloures.
Sol Deloures, agora já moça feita, era realmente muito bonita, humana, cordial com os empregados da família e nem parecia ter vindo de raiz hereditária tão arrogante, prepotente, egoísta e desumana. O seu problema maior era a tristeza, a angústia infinda que lhe corroia o peito.
E o motivo de toda essa aflição, desse desgosto pela vida, não era outro senão as imposições da matriarca da família, a Condessa Concepción Deloures. Sem dar qualquer chance aos desejos e sentimentos da neta, desde ainda criança que esta já estava prometida ao milionário Fernando Lupano.
Sentia verdadeiro enojamento dele, com suas palavras certinhas demais, seus cabelos penteados na brilhantina, suas roupas engomadas demais, suas botas de enormes fivelas, seu bigodinho ridículo. Ainda assim tinha de suportá-lo por causa de sua avó.
A própria Condessa se encarregava de levá-la ao casarão de Lupano, ali mesmo na sede de uma de suas propriedades. Numa dessas visitas, ao chegar com a avó de charrete, enxergou o seu futuro esposo açoitando um pobre trabalhador.
Sem saber que tinha sido visto praticando a violência, Fernando Lupano se voltou ao ouvir uma voz já conhecida. Era ela, Sol Deloures, gritando que não precisava agir com tal brutalidade e depois correndo para levantar o humilde trabalhador ofendido, que outro não era senão Ernando Panulo, o irmão gêmeo esquecido do seu futuro esposo. Contudo, nada sobre esse fato ela tinha conhecimento.
A Condessa quase se desespera, desmaia, dá um faniquito, quando viu a neta se aproximar daquele rapaz. Não tinha as características idênticas ao outro irmão, mas em muitos aspectos eram parecidos.
Quando Sol levantou o rapaz e olhou no seu rosto pareceu que estava segurando o próprio Fernando Lupano. Mas muito mais bonito, mais forte, mais vigoroso, mais atraente. E fixou ainda o olhar para depois perguntar: “Fernando, tem certeza que este rapaz não é seu parente?”.
Neste momento a velha caiu da charrete e teve de ser socorrida, tão grande foi o impacto da pergunta. Mas Lupano respondeu que não e no mesmo instante chamou um capataz e ordenou que despedisse urgentemente aquele trabalhador.
Ao retornar para casa, Sol Deloures não parou de ficar pensando um só instante naquele pobre rapaz. Tão bonito, com um jeito tão especial e tão escravizado, parecendo que Fernando tinha alguma coisa pessoal contra ele.
Vendo a amiga tão preocupada pelos cantos, a velha empregada perguntou se a mesma estava se sentindo bem. E nesse momento Sol Deloures contou o fato e perguntou-lhe se conhecia o rapaz. E foi quando a velha senhora levou a mão ao peito e dando os últimos suspiros revelou o que tinha feito anos atrás, a mando da Condessa. E morreu nos braços de Sol.
Imediatamente a neta correu e foi perguntar a avó se era realmente verdade aquele fato. Ao ouvir a revelação, a imponente senhora foi se contorcendo até cair com o rosto contorcido. No outro dia os jornais anunciaram o fato em manchete: “O milionário Fernando Lupano possui um irmão gêmeo que tratava como escravo”.
Aquela revelação destruía toda sua vida, toda sua honra e reputação. E o pior é que teria que dividir sua fortuna com o irmão Ernando Panulo. Verdade é que não suportou a vergonha e ainda na tarde desse dia fechou o quarto e se matou.
Hoje o ex-escravo do próprio irmão vive feliz com a ex-prometida também do irmão e plenamente felizes com a fortuna do amor.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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