Olha que lua bonita!
Rangel Alves da Costa*
Ontem, 28 de janeiro, por volta das seis horas da tarde/noite, despretensiosamente resolvi dar uma olhadinha no horizonte, apreciar aquela paz que reina pelos ares, formar desenhos com as nuvens, dar boas vindas às estrelas e mirar a lua, simples e demoradamente mirar a lua. E que lua bonita! Seria cheia, como dizem os astrônomos, ou lua de poeta, como eu mesmo digo? Não importa. A lua estava lá, embranquecida, num oval em perfeição, linda.
Não, não posso e não devo mentir. Havia ainda outro motivo para essa contemplação no final da tarde. Queira ou não, ela me chega na lembrança e dança, baila docemente no meu olhar de saudade. Às vezes, a coloco no espelho da lua e vejo ora sorrindo, ora com a mesma feição de despedida daquele tempo ido.
Naquele tempo ido não te amava mais do que agora. É que o ser humano, por pensar que tem tudo o que quer na hora que desejar, não valoriza aquilo que realmente possui, que está ao seu lado. Quando não estavas mais, e não pude ter o que queria como desejava, simplesmente passei a amar pelo não ter. E onde estava o amor de antes, que eu não soube revelar por achar que jamais perderia?
Naquele tempo ido não precisava tanto de ti como agora. Fiz da minha prepotência, do meu egoísmo e da minha suposta autossustentabilidade formas de imposição que somente confirmaram minha fragilidade. Mas isso reconheço agora; naquele tempo não, pois pensava que voltaria sempre no dia seguinte, sorrindo e com as doces palavras de sempre. Quando chegou uma manhã sem você, as armas que possuía simplesmente deixaram de existir. E o imbatível guerreiro chorou feito menino.
Naquele tempo ido eu pensava que até hoje estarias aqui. Tinha até certeza disso. Nascemos um para o outro, afirmamos após o beijo; nada jamais nos separaria, dissemos após o abraço; um não viveria sem o outro, juramos no instante do amor. Tudo que existia entre nós indicava uma união duradoura, um compromisso de amor eterno entre duas pessoas jovens que não souberam alicerçar nem o amanhã. Quando comecei a reivindicar a posse de toda a sua vida única e exclusivamente para mim, quando não respeitei sua liberdade de mulher que tinha outros compromissos na vida, é que fui percebendo que tudo aquilo que havia sido dito eu quis dizer de outra maneira: você nasceu para mim, você não pode separar de mim, você não vive sem mim. Pretensão demais para quem não tinha alicerçado nada. E tudo ruiu.
Perdoa-me por tudo. É que naquele tempo ido eu quis fazer de tudo aquilo existente entre nós uma mera posse, pensando ter direitos adquiridos sobre você. Mas eu nem sabia o real significado nem as conseqüências disso. Apenas jogava o jogo do homem e sua virilidade, seu poder de mando e desmando, sua obsessão doentia. Hoje sei que apenas joguei o jogo dos perdedores. E quanto perdi...
Naquele tempo ido eu não sabia amar como agora. Na solidão, aprendi a amar e faço desse amor uma paixão. Mas alguém amaria tanto sem um outro ser para dizer que amo? Não sei dos outros, sei de mim que amo. E é por isso mesmo que em todo entardecer venho te dar um beijo, venho matar a saudade e dizer que te amo mais ainda. Por isso mesmo é que vou mirar a lua, cheia, linda, como a tua lua de mel que não tenho mais.
E dirá meu coração com saudades: Olha lá que lua bonita!
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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