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segunda-feira, 17 de junho de 2013

APOIO CULTURAL E AS DESCULPAS ESFARRAPADAS (Artigo)


Rangel Alves da Costa*


Sempre imaginei que a cultura fosse prioridade nas políticas governamentais. Ao menos em Sergipe - e perante leis e órgãos criados para incentivar a produção cultural - verdadeiramente não é. Pelo contrário. Negam a cultura tanto pelas exigências burocráticas como pela velha e descabida desculpa de contenção de despesas.
Mas não foi sempre assim. Em 1996 tive o apoio do governo estadual, sob o comando de Albano Franco, para publicar o meu primeiro livro: Todo Inverso. Foi publicado pela Pesquise/Sociedade Editorial de Sergipe, tendo à frente Luiz Antônio Barreto. Daí em diante os apoios acabaram e os meus livros passaram a ser publicados por uma editora paulistana, a Agbook.
Contudo, diante da importância do novo livro que escrevi, “Todo o Sertão num só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa”, uma biografia completa do meu pai falecido em novembro de 2012  - e que deixou um extenso e importante legado cultural no estado e por todo o país -, eu acreditava que os bons ventos do apoio cultural soprariam a meu favor.
Redigi ofício, mostrei a importância do livro e do biografado, afirmei sobre a contrapartida do eventual apoio, juntei orçamentos para a obra com cerca de 400 páginas, e o encaminhei à superintendência do Instituto Banese. Ora, é um órgão estatal cuja missão é, dentre outros aspectos, “promover o resgate, preservação e difusão da cultura sergipana”. Contudo, a resposta foi exatamente contradizendo sua missão de difusão da cultura sergipana.
O Instituto Banese se negou a colaborar com a publicação do livro. E, ao negar apoio, o fez de uma forma muito antiga e utilizada para dizer não: “Informamos que o Instituto Banese está passando por um período de contenção de despesas, deixando assim de atender a sua solicitação ao apoio da publicação do livro de sua autoria, ao tempo em que estamos à disposição para futuras solicitações”. Só isso, e pronto.
Não precisa muito esforço mental para saber que contenção significa diminuição, limitação. Do mesmo modo, de forma mais abrangente, se tem contenção de despesas como economia nos investimentos ou diminuição dos gastos com a promoção e difusão da cultura. Não significa, contudo, que investimentos, apoios e patrocínios não continuem sendo realizados pela instituição. Contudo, o meu livro foi escolhido para exemplificar essa alegada nova realidade de negação à difusão cultural.
A não ser que se tenha a literatura como produção cultural menor, insignificante no contexto daquela instituição, que não mereça de apoio estatal para ser produzida, divulgada e conhecida. Mas creio que não seja assim, vez que o mesmo órgão tem patrocinado a publicação de livros de poesia e outras manifestações.
O que escrevi é uma biografia sobre um importante homem da cultura sergipana e nordestina, que com os seus livros, composições e palestras, difundiu com maestria os valores culturais, históricos e sociológicos do Nordeste, principalmente no aprofundamento de seus estudos sobre o fenômeno cangaço e suas afluências. Porque Alcino Alves Costa, além de político vitorioso na região sertaneja, foi o porta-voz de suas raízes mais profundas e mais marcantes.
Não é, ainda que a alguns possa parecer, apenas um breve relato sobre a vida desse sertanejo que gostava de se intitular “O Caipira de Poço Redondo”. É, ao lado do histórico do homem, também o histórico da realidade sertaneja, pois seus livros procuraram analisar em profundidade fenômenos sociais marcantes do Nordeste, numa saga envolvendo cangaceiros, coronéis, jagunços, volantes, coiteiros, misticismo, violência e religiosidade, dentre outros aspectos. E tudo isso é avistado na sua biografia.
Mas o Instituto Banese se negou a apoiar sua publicação. Como afirmado, contenção de despesas foi a justificativa. E na mesma via da negação da cultura sergipana age o próprio Banese enquanto instituição financeira que, paradoxalmente, criou recentemente um programa de crédito especial para a cultura denominado Credi Cultural.
O Credi Cultural Banese, um projeto criado pelo Banese em parceria com Secretaria de Estado da Cultura/Secult, visa disponibilizar uma linha de crédito destinada especialmente para o empreendedor cultural de Sergipe, com acesso de financiamento também para pessoa física. E antes mesmo de procurar o Instituto Banese procurei me informar sobre a tal linha de crédito cultural.
E a minha impressão foi que a linha de crédito nada tem de especial e que se a cultura sergipana depender dela continuará no limbo. Ora, fui informado das mesmas exigências para a obtenção de um crédito bancário normal, sujeito à análise, com comprovação de rendimentos e a necessidade de ser correntista do banco a pelo menos seis meses, além de outras miudezas burocráticas.
Daí o questionamento: O que será da cultura sergipana se precisar de tais instituições governamentais? O Instituto Banese não pode patrocinar cultura por contenção de despesas e o Banese pela inviabilidade que deu a um programa criado exatamente para viabilizar a produção cultural. Daí não se chegar a outra conclusão que não seja a da certeza que a valorização estatal da cultura se satisfaz apenas com a aparência.
Enquanto isso o meu livro continua na gaveta. Mas quem quiser pode ajudar. Confio mais na iniciativa privada do que no Estado. Qualquer apoio/patrocínio será de boa acolhida para a publicação da obra. Contato pelo e-mail: rac3478@hotmail.com.

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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