SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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domingo, 9 de junho de 2013

LUZ DA LUA (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


A lua está em todo lugar, mas não é a mesma lua avistada em todo lugar.
A mesma lua é avistada de modo diferente segundo o olhar, mas não possui o mesmo brilho ou mesmo significado para todo olhar.
A lua daqui é a de lá, brilhando na noite, cortando o negrume, num véu de sentimento e poesia, mas sem a mesma profundidade que em todos pode despertar.
Mesmo que a lua daqui seja a mesma de lá, de qualquer lugar, jamais será lua completa sem que se saiba nela se banhar.
Porque a lua não é somente uma lua, o luar não é somente o brilhar, o seu brilho não é somente uma luz, sua cor não é apenas a que se sente.
Toda lua é mais que luar, mais que brilho, mais que luz, mais que cor. O mistério da lua está no seu poder de transformar, de despertar, de fazer renascer.
Tudo porque a lua é sempre envolta em poesia, em sentimentos, em saudades, recordações, romantismo, aflição, angústia, melancolia, em vontade de luarar.
A lua ainda que lua, jamais será luar de qualquer modo que seja avistada. O seu enxergar exige muito mais que o ver, que a certeza de estar brilhando imponente lá em cima.
Só se vê a profundidade e a intensidade da lua a pessoa que faz do olhar um espelho dos sentimentos, um portal do coração, uma emanação espiritual do seu ser.
Só consegue enxergar os mistérios da lua quem tiver olhos sem medo de admirar, de chorar, de sorrir e se encantar, tomar-se de comoção e enternecimento.
Lua branca, lua imensa, lua cheia, lua nova, lua escondida, lua surgida com seu clarão. Tudo lua? Não. Apenas luz, apenas cor, apenas forma, pois a lua depende do olhar.
A lua não surgida, a lua entre as nuvens, a lua escurecida, a lua eclipsada, ainda assim a mesma lua diante do olhar que enxerga sabe enxergar seu brilho, sua imensidão.
Mas avistar a lua, sentir a lua, ser e estar na lua não é para qualquer um. Quem apenas olha nada vê, quem apenas aprecia pouco aproveita. É preciso viver a lua.
Viver a lua como faz o doido, que de sua janela ou do alto da pedra dialoga, sente sua presença, quer voar bem alto para tocar no clarão de sua face. Beijar a lua.
Viver a lua como faz a donzela apaixonada no seu quintal, no umbral da janela, nos descampados solitários. Lua que aflige, que aflora sentimentos e melancolias.
Viver a lua como sempre faz o noctívago andante, o ébrio solitário na noite, o relegado aos caminhos abandonados. A lua no copo, a lua no trago, a lua na lágrima.
Viver a lua no passo do olhar da mocinha apaixonada, do poeta em busca de inspiração, dos enamorados de mãos dadas na noite, de quem a encontra no telhado.
Viver a lua como faz o solitário deitado no seu quarto. Sobre a cama, lá em cima só o telhado, mas ainda assim chega a se comover com ela pertinho de sua saudade.
Viver a lua como faz o navegante nas águas distantes da solidão, o ilhéu debaixo do seu coqueiral de fim de mundo, o acendedor de pavios ao anoitecer.
Viver a lua, sentir a lua, beijar a lua, amar a lua. Cantar a lua, chorar a lua, gritar a lua, ser a lua. Pedir à lua, culpar a lua, à lua agradecer. Pois se é noite, tudo lua será.
A velha senhora conhece a vida, sabe do futuro de tudo, após avistar a lua na bacia cheia de água. Se a água não molhar a lua, uma tristeza danada será a sua.
Mas se a lua se firmar na água, não se retorcer no seu balançar, então menina pode ter certeza que a luz do amor estará em seu caminho, e abençoado pelo clarão do luar.
Lua que já foi lua dos namorados, dos esposos, dos apaixonados, que já foi lua de mel. Sem a flor virginal a lua entristece e nem aparece nas noites de prazer qualquer.
Lua cantiga, a lua, quando ela roda é nova, crescente ou meia, a lua é cheia, e quando ela roda, minguante e meia, depois é lua novamente...
Ah, lua, minha lua. Hoje à noite, ainda que chova e esteja escondida, vou namorar contigo, beijar sua boca, sentir sua luz me abraçando. Por que é minha, somente minha, lua...

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com  

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