Rangel Alves da
Costa*
Afirmam
que toda ilha é uma ponta visível de uma montanha submersa. O ser humano
enquanto ilha, seria o quanto ele se deixa aparente perante o mundo ao redor.
Richard
Bach fez Fernão Capelo Gaivota voar sobre a ilha de nossas incertezas e frágeis
sentimentos para mostrar que é preciso voar em busca de outras terras mais
firmes.
J. M.
Simmel já afirmou, literariamente, que ninguém é uma ilha. Afirmo diferente.
Todo ser humano está propenso a estar ou ser isolado, um ilhéu.
O limite
que cada um se põe é também o limite de sua ilha. Ninguém vai além daquilo que
não tenha um cais de chegada e acolhida. E toda ilha possui sua margem de
chegada.
Toda ilha
distante, desconhecida, guarda em si um mistério. E não é muito diferente da
situação do ser humano cercado por todos os lados.
Mas também
ilha distante de tudo aquilo que a cerca. E igualmente ao ser humano que se
coloca em redoma, num invólucro em si mesmo, para não ser alcançado.
Assim,
duas possibilidades de ser ilha. Uma ínsula distantemente perdido num ponto
qualquer, ou uma porção que se afasta cada vez mais daquilo que está ao redor.
Uma ilha
de si para si e outra de fora para dentro; uma que não deseja ser visitada ou
alcançada, e a outra esquecida pela dificuldade de se ter acesso.
Dizem que
existe outro tipo de ilha. E esta no limite da água e da terra firme, com um
passo dentro outro fora, bem ao modo daquele que se torna ilhéu por instantes.
Dependendo
da situação, basta seguir o caminho das águas, ser ilha de si mesmo, ou
preferir a terra firme para ser ilha diante das outras pessoas.
Às vezes
me vejo tomado de temores em me transformar em ilha. Uma ilha cercada de mim
mesmo por todos os lados.
E você,
teme ser ilha ou vive em terra firme demais para pensar na solidão das
distâncias azuis?
Ou você é
realmente uma ilha e tudo faz para construir um barquinho de lua e flor e
retornar para além do cais?
Talvez sua
ilha seja existente e imensa, porém continua submersa esperando somente o
instante em que você pretenda ser avistado como algo difícil de ser alcançado.
Ilhas
existem que basta um só nado para serem alcançadas. Mas permanecem solitárias
porque as águas ao redor são profundas demais para serem vencidas.
O barco
nem sempre consegue chegar à ilha, o voo da gaivota nem sempre repousa na ilha,
nem as ondas quebram na ilha. Como a pessoa, a ilha pode ser apenas miragem.
Se ainda
não sou, certamente serei ilha. Todo ser humano é ou ainda será ilha. Não há
como fugir de ser uma ínsula cercada pela solidão daqueles dias futuros.
O tempo, a
idade, a caminhada, tudo sempre leva à beira do cais. O barco de partida não
leva a nenhum outro lugar que não à ilha. Há uma ilha chamada velhice.
Mas não há
que temer ou não a ilha. Você pode estar caminhando por ela e nem perceber.
Somente quando tudo se afasta, vai ficando distante, chega a compreensão.
Ser ilha,
ou não, não é o problema. No céu da ínsula pode ter gaivotas, coqueirais podem
estar espalhados ao redor, há uma rede e água fresca.
Ou mesmo
que seja diferente, mais áspera e entristecida. Não se avista nada além do
perdido olhar, as águas parecem adormecidas e solenemente tristes.
Tanto faz.
A ilha não está na ilha senão em você mesmo, em mim e em cada um. A ínsula
jamais estará distante do continente se não nos conhecemos como náufragos.
A ilha que
chama o náufrago é aquela aonde não se chega através das águas. A terra firme
vai minando as forças, formando abismo, inundações.
Não
naufraga aquele cujas forças vão além das águas das desesperanças, das
premeditadas angústias, dos sofrimentos trazidos para o convívio.
E saiba: é
bem melhor ser uma pequena ilha a um continente. A ilha se reconhece; enquanto
continente vai muito além de qualquer desejo de retornar.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
2 comentários:
Lindo e reflexivo texto. Acho que sou uma ilha, por livre e espontânea vontade, mas uma ilha com cais e barco.
Caro Professor Rangel: Esta é uma crônica enormemente filosófica. Portanto, só num momento de concentração irei entendê-la. Até aqui o que pude compreender é o que diz respeito a mim (70 anos), a ILHA DA VELHICE. Essa sim, já entendo, e muito. Parabéns.
Antonio José de Oliveira - Bela Vista - Serrinha-Ba.
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