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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

HUMANA VIDA (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


A vida humana não é a mesma coisa que a humana vida. As duas vidas não se confundem, ainda que façam parte do mesmo percurso existencial. A primeira é a mera experiência  existencial, na vivência de cada um; já a segunda, a humana vida, é aquela cujo percurso existencial é repleto de significações.
A vida humana está presente do nascer ao morrer, no cotidiano das pessoas, nos seus atos e atitudes. É a expressão do ser humano perante a realidade, nos seus aspectos positivos e negativos. Está baseada na constante busca da sobrevivência e da satisfação pessoal. A morte simplesmente põe fim ao ciclo de realizações, ou não.
Por sua vez, a humana vida é o redirecionamento ou norteamento que se dá à vida humana. Desta acolhe a existência e soma ao ser tudo aquilo que possa trazer um senso humanista da vida, com realizações que possam engrandecer espiritualmente a si próprio e aos demais. E, pelos feitos e boas sementes espalhadas ao longo da vida, a morte não significa a imediata ruptura com o que deixou para trás.
A vida humana é caracterizada por concorrências pessoais, por ciúmes, por vaidades, egoísmos, pelos caminhos entremeados de pecados capitais e pela desobediência aos mandamentos divinos. Está envolta da violência premeditada, da desconfiança, da brutalidade e da desesperança.
Bem diferente é a caracterização da humana vida. Ainda que o humano ser necessariamente faça parte e viva as influências da vida humana - e por ser humano, logicamente -, ainda assim possui uma comportamento bem diferente daquele observado em outras pessoas.
O ser humano da humana vida é um ser compromissado com princípios que para muitos não têm importância alguma. Está sempre atento a aspectos éticos, morais, humanistas, preservacionistas, solidários, religiosos; enfim, a situações que reforcem o compromisso do homem com a sua existência.
Humana vida porque uma existência pactuada com os grandes e verdadeiros sentimentos, com o afeto, o respeito, o carinho, o amor, a consideração, a fraternidade, a ternura, o compartilhamento. E humana porque vivida significativamente, buscando o bem comum e a cordialidade nas ações.
O ser vivente dessa humana vida é uma pessoa compreensiva, afetuosa, que sabe ouvir, sabe respeitar a opinião dos outros, procura dialogar suas convicções. E, pela sabedoria resguardada diante das situações vivenciadas, jamais se deixar conduzir por caminhos senão aqueles traçados pela experiência.
Como se percebe, enquanto a vida humana se fundamenta no materialismo, a humana vida tem por base a valorização do ser e o uso de sua racionalidade para uma existência pacífica e benemérita; enquanto a vida se contenta em trabalhar para garantir a sobrevivência ou acumular riquezas, a humana vida se perfaz com aquilo que seja o bastante para garantir o conforto da alma e o fortalecimento espiritual.
Humana vida possui, por exemplo, aqueles que se despem de egoísmos e vaidades, se despojam de autoritarismos e arrogâncias, e passam a ver os outros nas suas características humanas fundamentais, como seres dotados de valores que precisam ser respeitados. Procuram engrandecê-los através do acatamento, do apoio, da consideração, ainda que para muitos pareçam incorrigíveis.
Aqueles que se conduzem pela humana vida, e que por isso mesmo procuram transformar a existência em verdadeira missão de semear os valores humanos mais positivos, acabam se voltando para aquele homem que permanece entrincheirado em labirintos da vida humana. Ensinar caminhos, compartilhar sentimentos e procurar a valorização do ser, são algumas de suas práticas mais constantes, permitindo não só uma realização pessoal como um amparo ao espiritual, física e vivencialmente mais necessitado.
Pessoas como Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Chico Xavier, Gandhi e Chiara Lubich, só para citar alguns nomes, são exemplos do perfil daqueles que, buscando humanizar o homem e a vida, foram além da existência na vida humana para transformá-la em humana vida. Eis o aspecto essencial: depois de conhecer-se, conhecer o outro, buscando valorizá-lo.
Mas as pessoas comuns também podem e devem procurar se inserir no contexto da humana vida. Não há ensinamento especial ou preparação alguma, bastando simplesmente que busquem valorizar cada vez mais suas próprias aptidões, reconhecer a existência de um caminho do bem a ser seguido e, compartilhando a experiência adquirida, alcançar o próximo que tanto precisa de amparo e de reconhecimento de suas capacidades na vida.
É possível, pois, a humanização da vida em meio às agruras do viver humano.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr. Rangel: Saudações.
À cada momento você está me direcionando a PENSAR. Parece que é uma das funções do poeta e filósofo, ensinar o outro a pensar? Acredito que sim!
Este texto que procura diferenciar A VIDA HUMANA da HUMANA VIDA, é de uma grandiosa relevância, e me faz lembrar o que você na adolescência e juventude realizava em favor de alguém que ainda não conhecia a origem. Estou falando da VELHA CONSTÂNCIA, genitora do ex-cangaceiro que foi injustiçado, a qual você ajudava nas suas necessidades. Olhe que você ainda não possuia o senso de compreensão que tem hoje! Esse comportamento caracteriza a HUMANA VIDA, salvo melhor juízo, logo que não sou poeta nem filósofo.
E veja bem Professor Rangel, na vida corrida destes dias agitados de hoje, praticar a HUMANA VIDA tem sido difícil, salvo aqueles que são altruistas por vocação.
Os meus parabéns por mais um artigo valioso.
Antonio José de Oliveira - Bela Vista - Serrinha-Ba.