*Rangel Alves da Costa
Olhai os
lírios do campo com suas belezas nascidas da simplicidade, mas olhai
principalmente para nossa sertaneja flor do mandacaru e sua beleza tão frágil e
tão transitória.
Olhai os
jardins da vida com seus pássaros e madrigais, com seus aromas e perfumes, suas
cores e suas belezas, mas olhai também para a flor do mandacaru com sua seiva
de tão curta existência.
Olhai o
que possa maravilhar o olhar, o que possa encantar a visão, mas não se esqueça
de olhar o nascer e o existir da doce e meiga flor do mandacaru. E nela talvez
aviste o significado da vida.
E você,
que é tão prepotente, tão vaidosa, tão egoísta, que usa de tanta desfaçatez nas
suas relações com os outros, veja só o que acontece com a beleza exuberante da
flor do mandacaru.
Nasceu
ontem ao entardecer, já estava brotada nos braços abertos do mandacaru e ontem
foi gestada como flor sem igual: coisa mais linda, coisa mais bela, a natureza
em perfeição maior!
Mas hoje,
já logo ao amanhecer, começou a perder o seu viço, as suas cores, o seu
encanto. A flor do mandacaru simplesmente definha. Desde o entardecer de ontem
ao alvorecer de hoje, aquela lindeza toda em algum lugar do sertão.
A lua e os
seres da noite se ajoelharam perante sua majestade. O brilho da lua caía como
dourado nas suas pétalas esbranquiçadas e nas suas hastes amarelo-avermelhadas.
Uma verdadeira paixão noturna.
Contudo,
bastou que o sol aparecesse para que a flor do mandacaru começasse a morrer.
Sim, dura apenas uma noite a linda flor do mandacaru. Sim, de pouca existência
é a bela flor do mandacaru.
Algo assim
parecido com o que temos como vida. Ao nascer, imagina-se uma eternidade, em
existência sem fim, mas para de repente ter o mesmo destino da flor do
mandacaru. Nascer, fulgurar e expirar.
Então
repito: você, que é tão prepotente, tão vaidosa, tão egoísta, que usa de tanta
desfaçatez nas suas relações com os outros, possui menos tempo de vida que a
flor do mandacaru.
Por maior
beleza que tenha ou imagine ter, sempre será uma flor qualquer perto da flor do
mandacaru. E para não existir no momento seguinte. Significa dizer que o seu o
brilho e seu resplendor não dura mais, na existência, que a flor do mandacaru.
Por ser a
vida transitória demais, aonde tudo vem e tudo passa, sequer os seus instantes
são devidamente aproveitados. Por isso cuidado. Cuidado em querer ser mais
espinho que flor. Cuidado em não querer ser além daquilo que é.
Muitas
vezes, a beleza é apenas um espelho de fingimento. Muitas vezes, a escultura
corporal é apenas uma curva ao precipício. Muitas vezes, o encanto repassado
por onde passa, é apenas um silvo de cobra de bote armado.
A grande
diferença está no fato de que a flor do mandacaru morre para nascer outra flor
no mesmo lugar. E quando a flor humana morre, não há nada que a faça renascer.
Apenas morre sem adeus e nos escombros do esquecimento terá seu destino.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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