*Rangel Alves da Costa
Recordo-me agora daqueles idos de estudante
de Direito na Universidade Federal de Sergipe, quando o sempre acanhado
sertanejo de Poço Redondo, sem muita vontade de tecer amizades com aqueles
colegas de garbo e sobrenome (na sua maioria), contentou-se por inteiro ao
encontrar, no mesmo curso, outro inesquecível sertanejo: E sertanejo de raiz e
tronco, pois legítimo buraqueiro: Dogival.
Já éramos acostumados com os corredores da
UFS, pois tanto ele como eu oriundos de outros cursos. Contudo, sem os laços de
profunda amizade nascidos a partir do curso jurídico. Creio que por sermos
sertanejos, por possuirmos linguagem e visão de mundo aproximadas, então
começamos a criar um mundo à parte naquele mundo acadêmico. Conversas sobre
nossas raízes, enredos de um sertão tão presente em nós. E foi assim que eu e
Dogival começamos a tecer verdadeira amizade.
Um encanto de pessoa, um ser humano
maravilhoso. De mais idade que eu, também mais baixo, sempre bem vestido com
camisa de botão e mangas curtas, trazia nos cabelos uma marca de viva memória:
cabelos bons, cheios sem serem compridos, sempre tão bem penteados que se
deitavam sobre a testa como que engomados. E mais o sorriso franco, amigo,
sincero. E mais a postura mista de seriedade e extrema cordialidade. Este, em
feições aproximadamente retratadas, o amigo Dogival.
Nascido nas terras buraqueiras de Porto da
Folha em 12 de agosto de 1947 e batizado como Dogival Alves da Silva,
mostrava-se sempre como pessoa interativa, culta, estudioso, inteligente. Além
de professor e formado em Direito, era também graduado em Ciências Vernáculas
(Português/Francês). Na juventude, resolveu ser seminarista (Seminário Menor,
em Propriá, e Seminário Maior, em Aracaju), daí sua profunda religiosamente e
apego ao sagrado. Enquanto docente, lecionou na rede estadual, no
Arquidiocesano e no Tiradentes, dentre outros. Contudo, ainda na flor da idade,
ainda no viço dos ofícios da vida, passou a contrair uma enfermidade e faleceu
em 14 de dezembro de 2016, aos 69 anos de idade.
Do seu maravilhoso legado, além da
incomparável memória afetiva, Dogival deixou um lar formado por esposa e filhos
admiráveis. Ana Sá, sua esposa, e os filhos Dogival Filho, Robson e Adriano (e
quatro netos), emolduravam docemente o seu viver. Ainda hoje todos se norteiam pelo
seu legado e é como se presente ainda estivesse entre todos. Sua esposa Ana
continua uma apaixonada. Não há um só dia em que ela não se recorde de seu
saudoso amado, a quem chamava de “Meu Pequeno Príncipe”.
Nas palavras da esposa Ana Sá: “É difícil
encontrar palavras que descrevam todos os seus predicados! Menino culto e de uma
simplicidade extraordinária! De uma pureza inigualável e de uma extrema
responsabilidade. Fora tantas outras virtudes indescritíveis. Passei a lhe tratar de "Meu Pequeno Príncipe"
para fazer jus àquele que cuidou da sua rosa com tanto carinho e a fez ver que
era única. O mesmo deu asas àquela rosa tão pequenina e com tão pouco brilho! A
incentivando a continuar estudando, trabalhando e a apoiando na realização de
todos os seus sonhos. Sua
serenidade e simplicidade eram a tônica para vivermos sempre harmonizados.
Nos seus últimos anos, sua maior
realização foi levar uma vida simples. Sempre em contato com a natureza e
realizando múltiplas tarefas. Foi um retorno às suas origens. Apesar da sua
partida aos 69 anos, sua vida foi bastante intensa e nos deixou um grande
legado e amor infinito. Concluo com lágrimas banhando a minha face. Mas,
satisfeita por haver cumprido o que havia lhe prometido”.
Sim, após ser diagnosticado com enfermidade
já avançada, o amigo Dogival recolheu-se a um pequeno e confortável sítio, onde
passou a compartilhar da natureza seus últimos sopros de existência. E então
partiu. Partiu passarinho. E ainda voa nas alturas perante os céus de todos que
o amaram.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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