SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 17 de novembro de 2018

Palavra Solta - saudade



*Rangel Alves da Costa


Eu ia caminhar pelo mato, armar arapuca ou catar araçá, e achava tudo imensamente belo naquele meu mundo-sertão. Eu andava ao redor dos monturos em busca de ponta de vaca para minha fazenda de canto de quintal, e achava tudo imensamente belo naquele meu mundo-sertão. Eu caminhava nas vizinhanças dos quintais para avistar fruta madura dentro dos cercados dos outros e de repente eu me deparava com as velhas senhoras estendendo roupas nos varais e achava tudo imensamente belo naquele meu mundo-sertão. Hoje já não há mato nem caatinga, não há monturos sem lixeiras, não há mais quintais de cercas nem varais de roupas que esvoaçavam feito asas soltas. Por onde caminho, eis que encontro somente a devastação na mataria. Por onde ando encontro apenas o lixo se espalhando por todo lugar. E avisto apenas o muro. Esse muro que esconde a vida desde a porta da frente até o caco de vidro fincado no alto na construção. E nem pensar no cheiro de café torrado exalado da chaleira no fogo de chão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: