SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 6 de novembro de 2018

DE DOER (O MUNDANISMO DA JUVENTUDE)



*Rangel Alves da Costa


A religiosidade de hoje está muito mais da boca pra fora ou nas ilusórias postagens em redes sociais do que em qualquer cantinho da alma.
Basta lançar um olhar no facebook e santos e mais santos, orações e correntes, logo aparecerão. E alguém logo dirá que o fervor religioso continua cada vez aceso e resplandecente. Mas nem sempre assim, infelizmente. Há muito lobo passando por lebre, há muito pecador dando uma de santo.
Para uma ideia mais aprofundada, basta saber quantos se esbaldam em farras bem pertinho da Igreja Matriz de portas abertas e solitária, basta sentir quantos passam perante a Casa da Mãe Senhora Sertaneja e sequer fazem a reverência do sinal da cruz, basta olhar quantos jovens vão procurar respostas para suas angústias ali no Templo Sagrado.
Os jovens seguem adiante sem se incomodar com quaisquer portas sagradas. Preferem os paredões, preferem as baladas, preferem as bebidas e as paqueras, preferem as devassidões escondidas e os pecados perante todos, preferem Devinho Novaes e Luãzinho e seu vizinho insuportável.
Coisa de jovem? Não. Coisa de falta de espiritualidade, de ausência de sentimento próprio, de carência de Deus em suas vidas. E a religiosidade, a crença e o pacto sagrado, se não consertam o pau que nasce torto, certamente evitará que ele se dobre de vez.
A fé e o compromisso religioso, se não resolvem todos os problemas da vida, certamente fortalecem a pessoa para os seus enfrentamentos. Mas não, o que se tem é grande parte da juventude de corpo aberto às perversidades do mundo e entregue aos mundanismos, às pecaminosidade, às libertinagens da moda.
Cada um faz o que quer, pois tudo direito de cada um. Mas o preço a ser pago sempre será muito alto, tantas vezes insuportável. Quando o coração começar a doer, quando as lágrimas começarem a cair, quando os abismos surgirem abaixo dos pés, então as mãos e os lábios aprenderão que existem orações, então os passos saberão seguir rumo a uma igreja qualquer.
Será tarde demais? Não. Nunca é tarde demais para o encontro com Deus. Deus é calmo, é bondoso, é paciente. Contudo, muito seria evitado se as pessoas de hoje se mirassem nos exemplos passados.
Talvez uma mãe, uma avó ou bisavó, saiba dizer sobre o bem que uma igreja traz à alma e ao espírito. Antigamente, os pecados também existiam em profusão, mas muito mais pessoas devotadas e obedientes aos ensinamentos sagrados.
Não se deseja - até porque impossível - que a mocinha se transforme em beata e faça - como noutros idos se fazia - da igreja como extensão de seu lar. Mas se deseja sim que ela encontre tempo também para a fé.
Sintam essa imagem poderosa do passado: senhoras com roupas longas, xales encobrindo a cabeça, livros sagrados à mão, cadeiras de oração, e todas se dirigindo a igreja, mesmo sem ser dia de missa.
Foram tais pessoas que balizaram suas famílias e moralizaram o convívio sertanejo no antigamente. Hoje não se pede nada disso. Apenas que não deixem a igreja a solitária, o coração vazio de fé e o corpo entregue ao pecado.
Onde falta a fé e a devoção, o mal vai se instalando em cada copo, em cada requebro, em cada fraquejar da carne. Ao invés dos cantos e rezas, das preces e orações, os paredões ecoando e chamando aos portais escurecidos e sem saída.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: