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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

ARTIGO DE ALCINO (Tributo a Clemilda)

Tributo a Clemilda

Texto: Alcino Alves Costa (O Caipira de Poço Redondo)

Sergipe tem uma dívida grandiosa com uma celebridade de seu mundo artístico. Fabulosa intérprete que durante décadas vem oferecendo aos sergipanos a sua extraordinária capacidade e competência na arte de cantar a terna e meiga cantiga que tanto glorificou a essência e singeleza da fonte musical sertaneja e nordestina. Estou falando de Clemilda Ferreira da Silva, a nossa querida e amada Clemilda, que com sua maravilhosa voz enterneceu e enternece o sentimento e a alma daqueles que tiveram a felicidade e o prazer de conhecer e ouvir as suas incomparáveis canções, especialmente aqueles de seus primeiros tempos; aqueles que não possuíam o recurso condenável do duplo sentido.

Em que arquivo da cultura sergipana estão cuidadosamente guardadas as imortais melodias interpretadas pela inesquecível companheira de Gerson Filho? Será que Sergipe sabe da existência das majestosas, "Saudade vai me matar", "Sete meninas", "Morena dos olhos pretos", "Guerreiro alagoano", "Meu guerreiro", "Beata mocinha" e "Siricora". Será que Sergipe reconhece, agradece e louva o altíssimo desempenho e valor dessa sua guerreira e uma das maiores representantes do cenário musical brasileiro? Não. Com certeza que não. O povo sergipano não se lembra, ou talvez nem conheça, maravilhas como estas: "Fazenda Taquari", "Rosa branca da serra", "Recordação de vaqueiro", "Recado a Propriá", "Console ela papai", "Leva eu benzinho", "Tiro o lírio", "Estou chorando por você" e tantas outras beldades musicais que seria impossível enumerá-las, mas que elas tanto mereciam.

Eu tive a honra e o privilégio de um dia, que já se encontra lá longe, na distância de um passado de saudade, ter uma estreita e respeitosa amizade com Clemilda e Gerson Filho. Foi desse companheirismo que Gerson e Clemilda conheceram Poço Redondo. Surpreso com aquela pequenina cidade, portadora de tanta alegria e felicidade, o saudoso e inesquecível "Rei dos 8 baixos" gravou, em 1969, na faixa 1 do lado B, do LP "Ingazeira do Norte", a música "Forró em Poço Redondo". Assim Gerson Filho prestava a sua homenagem à famosa festa do dia 15 de agosto, que naquele município e em todo o sertão do São Francisco era a grande e maior atração. Esse belíssimo solo musical saído do incomparável fole de Gerson também está na faixa 3 do CD de Clemilda e Gerson Filho, "Eu só quero um forró".

A generosidade de Clemilda me fez seu parceira na música "Seca desalmada", sendo a letra de minha autoria e a melodia nascida de sua extraordinária vivacidade e sentimento poético. Aliás, essa bela canção foi que deu o título ao LP gravado pela Musi Color, em 1973.

Não podemos desconhecer as tremendas dificuldades e provações que os intérpretes da verdadeira música sertaneja nordestina, aquela do fole, do pandeiro e do ganzá, vêm passando por anos seguidos. Sabemos perfeitamente da luta insana dos poucos abnegados que tentam sobreviver em meio à tão medonha borrasca. Clemilda é parte importantíssima desse reduzido grupo que vive numa inglória luta que tem como principal objetivo preservar essa tão desprezada cultura musical nascida nos recônditos mais escondidos e distantes dos campos, ribeiras e pés de serras de nosso sertão caboclo.

Em outros tempos, o baião, o coco, o rojão e a mazurca eram portadores de imenso brilho e de fulgurante esplendor. Com o surgimento de novos movimentos musicais, os defensores da música brejeira se viram obrigados a deixar de lado as ternas e meigas melodias para enveredar pelos caminhos do duplo sentido, o que é compreensível, mas lamentável.

Ainda mais deplorável é sermos obrigados a admitir que para desgraça de nossa cultura a beleza de nossas poesias, portadoras de tanta meiguice, aquelas que nasceram sob o som sublime e divino de um oito baixos, foram vencidas, desbancadas e derrotadas miseravelmente por essas bandas que com o nome de "bandas de forró" envergonham as nossas tradições musicais. Constatação que é um acinte e uma afronta à inteligência brasileira, se é que o brasileiro tem inteligência. Um Brasil que um malfadado BBB fecal que tem ilimitada audiência e prende ardorosamente a atenção do povo, esse povo é marionete, é obtuso e ignorante e ele é fruto de um país sem perspectivas e réu de uma malsinada mídia que vive a assassinar os reais e verdadeiros costumes brasileiros.

No entanto, em Sergipe existe uma exceção: é a TV Aperipê. Essa casa de comunicação, durante décadas, tem em sua grade de programação o "Forró no Asfalto", marca registrada de Clemilda. Ali a nossa deusa do forró canta e propaga a cantiga de sua terra de adoção e coração, a terra sergipana e nordestina. Tudo que se fizer por essa invulgar artista ainda é pouco. Clemilda é patrimônio cultural de Sergipe.

Deus lhe abençoe, minha querida heroína e amiga. Deusa e rainha do forró!

3 comentários:

Anônimo disse...

Clemilda, cantora alagoana, com certeza é a representante maior do forró nordestino, portanto é denominada "a rainha do forró" - pena que seu estado de saúde não é dos melhores, não podendo mais viajar - mas, nosso agradecimento à cantora que tanto exaltou o seu estado de Alagoas com seu marido Gérson Filho que é natural de Penedo. O seu acervo musical que vem do final dos anos 60 é belissimo. Radicalizada em Aracaju, há muito tempo, por vezes homenageada, merece mais um pouco da nossa atenção, nosso carinho e agradecimento enquanto viva.

Rogério Lima

jota passos disse...

gerson filho não era de penedo e sim do povoado manibú. vinha a penedo vender carvão.sacos atrelados em burro.clemilda era de palmeira dos indios alagoas.
jota passos. penedo alagoas.
8 de junho.2011.15-15 hs.

Rogério Lima disse...

Tenho muita saudade do meu Penedo.
Observei um comentário de J. Luis Passos, meu grande amigo, que o Gérson Filho marido da Clemilda não era de Penedo. Ele não era do município séde de Penedo, mas era penedense nascido na Fazenda Mundeis (hoje um povoado). Portanto ele é penedense, com nosso orgulho. E a Clemilda é de São José da Laje - AL. O Gérson Filho (Gerson Argolo Filho - O Rei dos 8 Baixos),também usava pseudônimos como "Penedo, Baianinho da Sanfona e Zé Piaba".

Tenho vários blogs dos nossos queridos cantores das alagoas, inclusive eles.

Rogério Lima