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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 3 de abril de 2011

FULANINHA (Crônica)

FULANINHA

Rangel Alves da Costa*


Oh, Fulaninha, se soubesse a saudade que sinto não sumiria assim pelo meio do mundo e me deixaria largado à beira de qualquer caminho.
Fulaninha minha, me deixe chamar assim. Pela tua meiguice, beleza e formosura, somente um nome assim Fulaninha para ser mais doce de ser chamado.
Sempre imaginei que nunca foste somente minha, mas Fulaninha de um monte, de todos, mas nenhum daqueles meninos com tanto amor como eu sentia e ainda sinto.
Porque você foi e talvez continue Fulaninha nada impede que o meu coração sinta saudade e implore para te encontrar. Mas sei o que ele quer Fulaninha minha, e você sabe também, e não é somente te ver, mas querer fazer tudo de novo.
E não finja que não lembra, que não sabe o que é, que não tem culpa desse coração ainda menino continuar tão apaixonado. Foi sua calcinha de chita Fulaninha, foi você subindo no coqueiro Fulaninha, foi você descendo por cima de mim. E vou parar por aqui Fulaninha.
Mas Fulaninha, você bem que podia açoitar como quisesse meu coração inocente e depois desinfeitiçar o feitiço tão bom. Mas você sabia de tudo, você entendia de tudo, você conhecia demais cada passo do meu olhar e até onde ele chegava sempre. Você me testou, você brincou comigo Fulaninha.
Bem que você podia continuar como sempre era, assim toda moreninha, toda bonitinha, toda bem-feitinha, toda sibitinha, toda encantadora demais, tudo demais Fulaninha, mas jamais podia atiçar o meu fogo, me dar esperança, me olhar com aquele jeito de quem chamava para o capim do quintal.
Você tem culpa demais Fulaninha. Você sabia que eu ia olhar tomando banho nua no riachinho, que eu ficava espiando pelo buraco da fechadura você trocando a roupa, que eu ficava escondido debaixo da mesa olhando por debaixo de sua saia.
Você até sorriu quando a telha quebrou comigo lá em cima olhando você tomar banho no banheirinho do quintal. E por que você não contou aos meus pais Fulaninha?
Certamente você gostava daquilo tudo, apreciava ver minha paixão traquina e ainda por cima fazia de tudo para o desespero aumentar. Bastava você saber que eu estava por perto e ficava se insinuando, fazendo poses insuportáveis aos desejos adolescentes.
Não diga que minto não porque você sempre vestia a saia mais curta que tinha, fazia de tudo para mostrar a calcinha, esquecia de propósito a porta do quarto aberta quando ia deitar. E quando sabia que estava olhando por alguma fresta, então é que deixava quase o corpo inteiro descoberto.
Você fazia isso tudo comigo, brincando, machucando meu coração, mas um dia eu vi você triste Fulaninha. Quando soube que eu ia estudar noutro lugar, na cidade grande e só voltaria ali durante as férias você chorou Fulaninha. Olhei pela fresta e vi você chorando no travesseiro.
Quando eu estava pronto pra viajar, você não foi se despedir de mim Fulaninha. Hoje eu sei por que, Fulaninha. Quando eu já esta lá longe, bem na curva da estrada, eu vi você toda nua, acenando por trás do pé de mangueira.
E quando eu voltei de férias, foi pertinho desse pé de mangueira que você disse que tinha um presente pra me dá. E me deu. E nunca esqueci. E jamais poderei esquecer Fulaninha. Você me beijou Fulaninha, você me tocou Fulaninha, você me amou Fulaninha, você me fez homem Fulaninha!
Eu já te amava e fiquei ainda muito mais apaixonado Fulaninha. Queria escrever uma carta de amor, mas não podia mandar para o endereço de minha casa. Mas ficava contando os dias para retornar e encontrar minha Fulaninha. Mas quando voltei você não estava mais lá Fulaninha.
Alguém nos viu e alguém mandou você ir embora. E desse dia em diante você se transformou em Fulaninha. Não mais só minha Fulaninha, mas ainda a minha Fulaninha, como sempre será onde estiver.





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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