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quarta-feira, 20 de abril de 2011

O CONCEITO DE BELO NO AMOR (Crônica)

O CONCEITO DE BELO NO AMOR

Rangel Alves da Costa*


É mais que costumeiro se ouvir conversas desse tipo: “Mas ele é tão lindo pra ela”, “Bem que ela, tão bonita que é, poderia arranjar alguém do seu tipo”, “Só mesmo o amor sendo cego, pois ela é feia demais pra ele”, “Não sei o que ele viu naquela coisa tão feia”.
Ninguém diz isso ao que está envolvido na relação, mas perante o estranho logo surgem as visões e conceitos, discriminações e preconceitos, como se a beleza de um ou do outro surgisse necessariamente da ideia do que este faz do que seja belo ou feio.
Nada mais certo do que a assertiva no sentido de que o que é belo para um pode não ser para o outro, aquilo que é feio aos olhos de uns pode ser pura beleza aos olhos de outros. Isto ocorre porque a beleza, por mais caracterizada que esteja, nunca é vista e conceituada de modo igual por todos.
Academicamente até que se pode definir o belo e a beleza. Poderíamos afirmar que belo é aquilo que atrai por estar esteticamente próximo ao conhecimento que o ser humano tem da perfeição. Por sua vez, a beleza seria a expressão mental para exteriorizar aquilo que se vê como belo.
Então, o belo está sempre relacionado a uma questão estética, de aparência. O belo pode corresponder ao muito bonito, que tem proporções e traços que satisfazem a padrões estéticos de harmonia e beleza, que agrada aos olhos quando é visto.
Por sua vez, a beleza qualifica aquilo que é belo, conceituando a visão estética daquilo que é visto como agradável aos olhos e formalmente perfeito ou próximo à perfeição. Diz-se, então, que o por do sol é uma beleza, o sorriso de uma criança é uma beleza. Exterioriza-se também como lindeza, boniteza, encanto.
Daí surgir a questão de os outros acharem que determinadas pessoas são feias perante as que namoram, que convivem, que são casadas. O problema todo está no fato de que a pessoa que critica procura sempre ter por base apenas o lado estético da pessoa, o belo, e jamais a beleza.
Muitas vezes não veem a beleza no outro que presume feia porque não conseguem enxergar a moradia das virtudes que tornam uma pessoa doce, amável, amorosa, compreensiva e que verdadeiramente qualifica a pessoa como bela. Daí ser correta a afirmação de que, na maioria das vezes, a beleza de um ser humano é invisível aos olhos.
E torna-se ainda mais invisível se o outro quiser enxergar somente o belo. Ora, o belo é a aparência, é apenas a parte frontal, a porta de entrada, aquilo que se vê imediatamente. O belo se enxerga ao longe; diferentemente da beleza, que exige que se entre no âmago para vivenciá-la e amá-la.
Uma pessoa que é vista como aparentemente feia, aos olhos de quem não a conhece será sempre caracterizada como tal, como não atraente fisicamente. E aí é que reside a solução de outro problema. O presumível não atraente talvez não seja feio perante aquele que o conhece, pois também conhece suas virtudes interiores que são belas.
E urge então indagar: É preferível o belo ou a beleza? Vale mais a perfeição estética do que as virtudes positivas interiores? É melhor o belo e vazio ou o aparentemente imperfeito, mas que possui uma extrema beleza interior? Você prefere ter o belo ou viver ou conviver com a beleza?
É exatamente por isso que as pessoas estranham quando alguém corporalmente bonito está namorando ou é casado com outro tido e visto como feio. É que os olhos da pessoa bonita são também inteligentes, o pensamento muito mais e o seu senso de ser humano ainda mais. Além de enxergar a beleza do outro, sabe que dali pode-se extrair conforto e felicidade, verdadeira consideração, amor e correspondência.
Sintetizando, afirmo sem medo que o verdadeiro amor jamais teve o belo puramente estético como premissa maior. Ninguém ama o belo, apenas gosta de estar e de ter. Aquele que sabe que ama não olha nem enxerga a pessoa senão na sua completa beleza.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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