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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

DISCORDANDO DE LUIZ EDUARDO COSTA (Artigo)

DISCORDANDO DE LUIZ EDUARDO COSTA

                                           Rangel Alves da Costa*


Reconhecidamente, uma das características mais marcantes do jornalista, imortal, secretário de governo e empresário de comunicação, Luiz Eduardo Costa, é a defesa intransigente de alguns que foi tecendo amizades ao longo dos anos na sua vida pública e pessoal.
Seus escritos sempre inteligentes, contudo muitas vezes pecam pela exacerbação das qualidades de uns e outros amigos. Não que esteja errado em colocar coroas nas cabeças de reis, não. É sempre melhor afagar o ego do que se dar por omisso. Isso às vezes custa caro, e como custa. Entretanto, quando o ilustre imortal contradiz a realidade para querer mostrar algo realmente inexistente, então passa a confrontar também a inteligência, a sabedoria do povo, o seu conhecimento sobre a realidade.
Pois bem, vamos aos fatos. Na última edição dos dias 09 e 10 de outubro do Jornal do Dia, na sua coluna o profícuo escrivinhador foi além das medidas e num texto de canto de página, intitulado “Um frade político e sua igreja”, comete as seguintes e absurdas constatações:
“O Frei Enoque, prefeito de Poço Redondo, exerce o seu terceiro mandato. Nesses quase 12 anos, o município que era o mais pobre de Sergipe, viveu importantes mudanças”. Mais adiante exagera de vez: “A maior transformação é, contudo, a cidadania que o povo foi adquirindo ao longo da ‘caminhada’ do Frei, iniciada quando ainda vivíamos sob uma ditadura, e falar em reforma agrária dava cadeia, como o próprio frade constatou pessoalmente”. E agora o maior absurdo dos absurdos: “Frei Enoque tem dado exemplos permanentes de espírito público, de rigorosa honestidade pessoal. Ele é importante para o povo sertanejo”. (grifos nossos)
Enquanto sertanejo, filho de Poço Redondo, mesmo respeitando as surrealistas e fantasiosas – num realismo fantástico insuperável – constatações do jornalista, tenho de afirmar que apenas na ótica Voltairiana poderia aceitar passivamente tais inverdades.
Com efeito, é de Voltaire a frase afirmando “Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de o dizer”. Como afirmado acima, é plenamente reconhecido o direito que possui o missivista de colocar o Frei no púlpito de onde ele caiu há muito tempo; é justo que o defenda, mesmo sabendo que a flor que pensa cheirosa possui o mesmo odor imundo das feiras livres de Poço Redondo, o mesmo empesteamento das moscas que circundam dia e noite pelo mercado da carne e adjacências.
Vou também de Voltaire, ilustre imortal: “'Todo homem é culpado por todo bem que ele não fez”. Agora, se puder me responda qual foi o bem que Frei Enoque fez a Poço Redondo e ao sertão nesses quase 12 anos à frente da administração municipal? Quem passa pela pista em direção a Canindé do São Francisco e pensa que de lado a outro está tudo às mil maravilhas, parece realmente não conhecer a realidade de destruição, abandono, negligenciamento, omissão, terror, propagação do medo, perseguição e descalabro administrativo, além de outras mazelas.
Do mesmo modo, confunde a cidadania como um bem de todos que deveria ser almejada pelo administrador com relação ao seu povo, seus munícipes, com a dita caminhada da cidadania promovida pelo terrível homem público. Nessa caminhada, a cidadania tão propalada sempre teve e continua tendo endereço certo, voltada que é para o oferecimento de benesses a puxa-sacos, fofoqueiros e alguns escolhidos.
E é assim porque aquela administração municipal não é nem para o bem do povo nem do município, mas tão-somente para alguns escolhidos, os bobos da corte – que são mais espertos do que o rei -, como se a prefeitura estivesse a serviço apenas de grupelhos. O povo em si, o verdadeiro cidadão poçoredondense, está muito longe disso, de conhecer uma administração cidadã, que o respeite como gente e como filho da terra. Mas pelo contrário, o povo é humilhado, maltratado, submetido, subjugado, achincalhado e desrespeitado desde a primeira geração por aquele que se diz um prefeito tendo os olhos virados para a cruz e uma mão sob a bíblia. E o que faz com a outra? Tudo falácia, mentira, enganação!
O Frei haverá, sim, de ter espírito público, como bem afirma o jornalista. Mas somente para o seu público, para aqueles escolhidos ou porque acham bom ficar debaixo de suas franciscanas em troca de qualquer promessa ou porque fazem parte do seu metiê político e administrativo, que, diga-se de passagem, profissionalizou-se num xiitismo tamanho que não seria impossível de se martirizar com a certeza da salvação.
Com relação a ter rigorosa honestidade pessoal, agiu com acerto o ilustre Luiz Eduardo Costa. Honesto pessoalmente todo mundo sabe que o homem é, e tanto é assim que jamais tirou ou colocou um ponto sequer nas usas convicções. E é tão honesto pessoalmente que até hoje parece não ter deixado na igreja o seu voto de pobreza e castidade. Anda humilde feito pobre franciscano, com olhar de esmola, parecendo a pessoa mais carente do mundo. Mas o pior é que essa falsa imagem transmite também com relação ao município, pois o mesmo quer porque quer – algo como cisma pessoal – que Poço Redondo seja o município mais pobre, mais miserável do mundo. Então, o município miserável seria a cara do seu prefeito.
Contudo, Luiz Eduardo Costa não teria melhor sorte se tivesse escrito a frase completa. Inteligente como é, preferiu apenas dizer que o homem é honesto pessoalmente, pois verdadeiramente não teria como afirmar que o indigitado administrador também o é honesto administrativamente. Basta analisar quantos processos este prefeito de Poço Redondo responde administrativa e judicialmente por improbidade administrativa para se ter a certeza que toda fama cairá por lama.
Ademais, e fato que não ficou claro no texto do jornalista, verdade é que as pressões políticas, judiciais e das massas eleitoras são tantas que o Frei agora está vendo brotar todo o mal que plantou nesses quase doze anos de poder. E se ele renunciar ao mandato não será por nenhum tipo de pressão da igreja. E por que somente isso agora? Mas tão-somente porque sabe que se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Resta saber o que ele prefere.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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