Rangel Alves da Costa*
A realidade é cheia de insignificâncias, de
coisas efêmeras, de nada. Até mesmo o tudo alardeado depois se revela como
coisa nenhuma.
O destino do ferro é a ferrugem, da madeira
de lei o cupim, do cimento o pó, da vida a morte. Nada é pleno, absoluto,
potente, indestrutível. Tudo existe com a sina do desaparecimento.
Os grandes impérios ruíram, os grandes
conquistadores foram conquistados pela ganância, os reinados absolutos jazeram
sobre os escombros das civilizações. E as civilizações floresceram e
desapareceram como chegaram. E assim também acontecerá com o mundo novo.
De nenhuma valia ter tanta riqueza, tanto
apego a bens materiais e ao poder. Todos são seres nus na mesma pobreza. Todos
são as mesmas pessoas nos seus destinos. E mais ainda doloroso para aqueles que
imaginam que fruirão além-túmulo de qualquer tostão.
A verdadeira riqueza está naquele que colhe o
fruto na hora da fome, encontra guarida na hora do cansaço, se enche de
contentamento por tudo o que deseja naquele momento. Não pensa em guardar, em
ter além do necessário nem lança mão daquilo que não lhe será útil no instante.
As vaidades são os cálices envenenados do
homem. Quanto mais brilha o cálice e quanto mais vinho transborde, mais o homem
lança seus lábios com a voracidade dos sedentos, ainda que saiba que correrá
risco de morrer no instante seguinte. O que lhe importa é viver a ganância do
ter.
Pessoas suicidam porque perdem suas fortunas,
mas todos morrem por viver somente de fortunas. A rainha destronada preferiu
andar nua a vestir roupa humilde de camponês. E o pobre rei, destronada também
de toda moeda de ouro, enlouqueceu contando estrelas e acreditando ser sua
riqueza.
De que vale uma felicidade falsa, construída
e mantida na aparência? De que vale achar que o brilho do ouro é mais
fascinante que a luz do sol e da lua? Muitos fogem das ruas, das pessoas, das
palavras, porque se acham importantes demais para se misturar aos seus
submissos. Enquanto o velho sábio preferiu o enclausuramento na gruta da
montanha a lançar o olhar a pessoas assim. E ali permaneceu conversando com
Deus.
Vaidade das vaidades, tudo vaidade. De ouro
vestido, em diamante calçado, com rubis nos olhos e pétalas na boca. No
entanto, seu destino é a morte. E mais apressadamente é chamado que aquele que
negou um pão, um moeda, um olhar.
Será preciso compreender a vida para não ser
por ela surpreendido. O ser humano é muito menos que o menos que imagine ser.
É, verdadeiramente, um nada. E ainda mais quando se despoja da espiritualidade,
da fé, da religiosidade, de uma crença verdadeira.
A pedra sabe que não passa de pó, que em
minúsculo grão será transformada e como simples poeira tomará seu destino. E
por isso mesmo reconhece sua transitoriedade e insignificância, sua valia de
nada, ainda que simbolize a consistência de tudo.
O jardim florido também sabe que terá seu
momento de esmaecimento, de fragilidade, de agonia e morte, ao menos perante
aquela estação. As flores tão belas, perfumadas e radiantes se curvarão ao sol,
ao tempo, ao outono voraz. E pétala a pétala se deitarão pelos canteiros
esturricados.
E assim também com o arvoredo que será desnudado
pela mão do outono e terá seus galhos encurvados e suas folhas levadas por
qualquer ventania. A pujança verde perderá sua seiva, o viço se transformará em
palidez, toda folha se dobrará sem cor, feia, morta, para cair ou ser levada
além.
E nada poderá ser feito para que alguma coisa
aconteça de outro modo, de uma forma menos voraz e dolorosa. E assim acontece
porque as coisas do mundo possuem uma existência própria e nenhum ser humano
poderá interferir no seu rumo. Nem ele próprio, que acredita ser tão poderoso, é
capaz de mudar a direção da ventania que vai lhe levar.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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