SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

A OUTRA (Crônica)

A OUTRA

                            Rangel Alves da Costa*


Num entardecer de poeta, na varanda da moradia de brisa e vento, o esposo deitado na rede, tomado por pensamentos, de repente chamou a esposa, pediu que sentasse num canto e começou a falar:
- Sempre fui verdadeiro com você e preciso confessar uma coisa.
- Sou toda ouvidos meu querido...
- É que eu arranjei uma namorada e a estou amando mais do que tudo na vida.
- Mais do que a mim?
- Mais, muito, imensamente mais!
- Que bom um amor assim. E ela tem quantos anos?
- Deve ter metade de sua idade e metade do corpo também, por isso ela é tão linda, tão doce, tão meiga...
- E o que você pensa em fazer agora?
- Amar, somente amar e amar mais ainda. Verdade é que estou completamente apaixonado.
- E nós dois como ficamos?
- Como sempre fomos: amantes, esposos, namorados e apaixonados também...
- E você acha que vamos continuar tão amantes assim mesmo você tendo outra?
- Mas seria tão bom meu amor, você me veria mais contente, me encontraria sempre mais feliz, até porque você sabe que um verdadeiro amor transforma a gente todinho...
- Também acho que sim, mas você não acha que não é mais nenhum rapazinho pra ficar tão apaixonado assim de repente?
- Eu também pensava assim e até fiquei temendo, mas depois pensei melhor e passei a ter certeza que um grande amor não só rejuvenesce a gente como também dá muito mais disposição para os prazeres da cama.
- Você tem certeza que vai dar conta certinho de duas mulheres, eu e a outra?
- Também pensei muito nisso, mas agora já sei o que vou fazer. O jeito que tem é a gente diminuir um pouquinho nosso ritmo, compassar mais nossas relações, de modo que eu não perca a potência, a força e disposição sexual para estar sempre ao lado da outra.
- Você é realmente muito inteligente e pensa em tudo. Já sabe onde vai alugar casa pra botar ela?
- Mas que alugar que nada, mulher. Aluguel consome dinheiro demais. Já mandei ela escolher o apartamento que quiser e onde quiser que vou comprar e entregar as chaves como presente...
- Que sorte ela tem, pois você nunca saiu do aluguel dessa daqui...
- Mas vou sair, vou entregar a chave e vamos morar numa casinha bem menor, de modo que numa casinha pequenina a gente se sinta mais juntinho...
- Mas que ideia maravilhosa você teve. Então vai dar um apartamento de presente a outra e eu vou ter que sair daqui pra uma casa ainda menor, não é isso mesmo?
- É, meu amor, é. Nós já sabemos que nos amamos, que nos queremos. Então acho que não é nada demais eu dar um pouquinho desse amor imenso que tenho a uma gatinha...
- E essa gatinha tem família? Conheceu onde ela?
- Acho que você conhece a família dela e talvez até conheça ela. Moram naquela casa que mais parece um sítio...
- Ela tem um irmão que é da metade de sua idade e do seu peso, moreno de olhos verdes, musculoso, malhado, que tem um fusca?
- Ela tem um irmão assim mesmo. Você o conhece?
- É meu amante!
- O quê???!!!...
E deu um salto da rede pronto pra destruir o mundo.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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