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quarta-feira, 1 de junho de 2011

A QUENGA E A ACOMPANHANTE (Crônica)

A QUENGA E A ACOMPANHANTE

                   Rangel Alves da Costa*


Em primeiro lugar me responda uma coisa: Qual a diferença entre aquela que abre as pernas por dinheiro, mas de nível superior, família importante, universitária e vivendo no luxo dos shoppings e butiques, e aquela que também abre as pernas também por dinheiro, mas é pobre, desempregada, mora na periferia?
No meu ponto de vista é tudo puta, tudo prostituta, tudo meretriz, ainda que nada tenha contra o exercício profissional ou amador de quem quer que seja, muito menos contra o modo como ele é exercido. Cada uma abre as pernas quando e como quiser, mas não se deve esquecer que não há diferenciação entre o tipo de mulher que faz isso por dinheiro.
Desse modo, não é admissível que se discrimine tanto a dita quenga do cabarezinho e se eleve até de moralidade aquela acompanhante de luxo. E observem que não estou falando da Maria Chuteira, pois age bem em ludibriar tanto jogador burro, com as desculpas ao animal.
Acompanhante porque soa bonito, leve, sem ferir a honra e a dignidade da tão encantadora mocinha. Acompanhante sim, porém mais correto seria ser chamada de caçadora, de dama de passarela de boate e festim, de presente de carne para velhos, carecas e barrigudos endinheirados, nos seminários, congressos e encontros empresariais. E como existem agenciadoras e organizadoras de tais eventos.
Tem que se dar um nome digno e pomposo a essa gente, pois nunca transa por dinheiro, nunca faz sexo como as demais, mas tão somente relacionamentos mais íntimos e relações eróticas mais envolventes. Ademais, nunca é vista saindo com ninguém nem sendo abordada perto do poste, mas quase como um encantamento vai surgindo nua nos quartos dos hotéis cinco estrelas, nas mansões e nos iates ao largo dos encantos da natureza.
 Essa mesma de cara de inocente, tão séria e difícil para quem não conhece o seu outro lado ou simplesmente é pobre demais para jamais ter o prazer de conhecer, é aquela mesma que tem uma vida - ainda que nascida na burguesia - totalmente bancada pelos favores sexuais que presta, pelo que corpo que vende, e por sinal caríssimo. Não é piranha de feirinha, de mercado, mas tubarão de entreposto importante, luxuoso.
 Essa sonsinha que faz pior do que muita bregueira de luz vermelha está sempre acima de qualquer suspeita. Nas altas rodas parece apenas mais uma beldade, perante as famílias parece mais uma inocente, perante os amigos e parentes parece mais uma solitária que precisa urgentemente arrumar um namorado e casar.
Quando sai da toca, a virgem se transforma na maior rampeira do mundo, numa voraz caçadora por cifras, altos valores, presentes valiosos, não importando se quem vai usá-la é novo ou velho, broxa ou viril, ou até se é homem ou mulher. Na manhã seguinte voltará a ser a mesma inocente, a mesma lindeza de mulher que todos se encantam só em vê-la passar
 Durante a parte do dia e da noite reservada para o exercício de sua vida paralela, ainda assim jamais será admitido que a veja como uma qualquer, mas apenas, e quando muito, acompanhante, pois a vadia que faz vida e busca seus clientes nas altas rodas sociais nunca é chamada ou vista como prostituta, rapariga, meretriz, mulher da vida, barregã, quenga. É sempre chamada de jovem madura, pessoa decidida e que sabe o quer, uma mulher inteligente chegada aos encantos de momentos mais íntimos.
Quenga de jeito nenhum, seria desmoralizar uma jovem tão bela e atraente, verdadeira modelo, com book espalhado por dezenas de recepções de hotéis e nas pastas dos cafetões e cafetinas. Ela não faz sexo, não transa, não trepa, mas apenas mantém encontros casuais descompromissados, como uma pessoa atraente que de repente se envolve com outra pessoa. Mas nunca demais, nunca coisa que se vá dizer que ela faz isso porque vende o seu corpo ou é prostituta. É assim o outro lado da moeda.
Já a moeda de botequim, do cabaré, do inferninho, que faz vida esperando clientes nas ruas, protegida apenas pela luz da lua, jamais negando ao que está disposta, que é mesmo transar com qualquer um por dinheiro, logo cairá na boca do povo de tal modo a nunca mais ser honrada na vida, ainda que mais tarde viva reclusa em devotamento religioso.
Essa, esse lado podre da moeda, assim denominado pela sociedade vesga e tendenciosa, é a única e verdadeira prostituta. A outra não. A outra é acompanhante. Acompanhante de qualquer um que tenha muito dinheiro, mas apenas acompanhante. Jamais prostituta. Ademais, é muito feio chamar uma jovem que tem uma genitália de ouro de prostituta, meretriz, quenga, vagabunda.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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