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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

NAS MÃOS DE DEUS: UMA HISTÓRIA DE INJUSTIÇA - 3 (Conto)

NAS MÃOS DE DEUS: UMA HISTÓRIA DE INJUSTIÇA - 3

                                         Rangel Alves da Costa*


Após conversar ao telefone, a secretária informou às duas que o Dr. Auto Valente demoraria um pouco a atendê-las, pois estava elaborando uma petição com urgência, mas assim que terminasse primeiro conversaria com Dona Glorita e em seguida com Dona Leontina.
Sabendo que demorariam mais um pouco ali, então Glorita disse a Leontina que se não fosse muito incômodo ou doloroso até que poderiam conversar sobre os infortúnios dos seus filhos, para sentir se se tratava de algo parecido e se os dois episódios estavam encobertos pelo mesmo manto da injustiça.
Antes mesmo de dizer qualquer coisa sobre o caso Leontina, já chorosa antes mesmo de relatar o ocorrido, colocou a mão dentro da bolsa e dela puxou um lenço, objeto já vivido em verdadeiro dilúvio por dias e noites, em todos os lugares, bastando a mera recordação. Mas não para de lembrar um só instante. A seguir perguntou como era o nome da outra e começou a falar sobre o fato envolvendo o seu filho Jozué.
“Dona Leontina, não sei nem por onde começar e tudo porque enquanto falo aqui é como se estivesse vendo o meu filho detrás das grades daquela cadeia, rodeado por bandido de todo tipo, os marginal mais perigoso que possa existir, coisa como matador, estrupador, taficante, tudo gente que num presta e meu filho lá no meio e seno inocente. Um filho num ia mentir pra mãe, principalmente o meu, que fiz de tudo pra ele crescer como homem e ter sempre jeito de homem, em tudo na vida. Até aquele mardito dia o menino nunca tinha me dado uma percupação, um desavexame, um nadinha que me crontariasse. Bonoso que só, uma moça, uma pessoa de bem com todo mundo e muito amigueiro. Um menino que foi crescido assim num ia mentir pra mãe...”.
E a outra interrompeu para perguntar: “Mas de que ele está sendo acusado?”. E a mãe de Jozué prosseguiu:
“Tudo começo assim, vou dizer tintim por tintim. Jozué, meu menino, tinha vino do trabaio como ajudante de pedeiro e passou na casa de uma amiga ali mermo embaixo do pé do morro pra depois subir lá pra casa. E foi se demorano na casa dessa menina até que saiu de lá com a noite já aberta, escurecida. Assim que pegou o caminho pra subir na ladeira ia passando um carro da polícia lá por baixo e quano os policial da viatura avistaram ele gritaram dizeno que era pra ele parar. Sem dever nada a ninguém, Jozué parou e ficou esperano os policial que já vinha vino. Assim que chegaram perto, já tudo com arma na mão e apontada pra ele, depois de chutar e esbofetear ele por todo lugar, mandaro ele se virar pra parede, passaram a mão por todo lugar e depois cataram em tudo que foi bolso e num encrotaro nada, a num ser os documento. Então pegaro os documento dele e mandaro ele deitar no chão enquanto um dos policial falava pelo rádio com outras pessoa, dizeno o nome dele. Só sei que num demorou muito pra dizer que ele tava preso, já que tinha uma ordem de juiz pra prender ele e que na verdade se tratava de um bandido procurado pela polícia...”.
Nesse ponto Dona Leontina, já estava em ponto de quase não conseguir falar, misturando um choro persistente com as palavras dolorosas. A outra fez com que ela tomasse um copo de água, pediu para se acalmar e depois, quando já estava mais aliviada, perguntou por que os policiais afirmaram que uma pessoa inocente era um marginal tão perigoso, já com mandado de prisão e procurado pela polícia. E a mulher continuou, sempre se amparando do lenço:
“Dona menina, o que os homem dissero foi que o nome dele batia certinho com o nome do tal bandido, Jozué Miguel dos Santos. E dissero mai, poi dissero também que o nome da mãe do tal bandido era igualzinho ao meu nome, que é Maria Leontina dos Santos. E num ficou só nisso não, pois também dissero que o retrato do procurado batia em tudo com as feição do meu menino, que é moreno claro, magro, cabelo bem baixinho e com os olho meio esverdeado...”.
“Mas não é muita coincidência não, nome igual, nome da mãe também igual, as características físicas, tudo?”, indagou Glorita, enquanto providenciava mais água para a mulher beber pela boca e derramar pelos olhos. E quanto tomou outro gole de água, quase soluçando Dona Leontina prosseguiu:
“Mai minha fia, nesse mundo que tem gente demai é bem possive que muita gente tenha o mermo jeito e o mermo nome dos outro. O nome do meu menino é mermo Jozué Miguel dos Santos e o nome do outro também, tudo com a mãe de nome igual, mas só mudano uma coisa muito importante, mai que naquele momento os policial nem se preocuparo nem procuraro saber com mais cuidado. É que o nome do tal bandido se fala do mermo jeito que o nome do meu menino, mai só que o nome do outro se escreve de um jeito diferente. O meu Jozué é com a letra “zê” no meio e o nome do outro é Josué com a letra “si” no meio...”.
“Meu Deus do céu, não observaram esse pequeno detalhe e confundiram seu filho com o outro rapaz. Então, uma letra no meio do nome, que teria de ser a grande diferença entre os dois, acabou prejudicando o seu filho. E como ficou depois, minha senhora?”. Glorita fez essa observação de um jeito extremamente nervoso, revoltada, ela mesma já querendo chorar diante da situação narrada. De cabeça baixa, ajeitando a ponta do vestido, Leontina respondeu:
“Por causa disso, por causa do erro da polícia e da própria justiça que se calou depois pra o errado, meu filho continua pagando pelo que não deve. E talvez pague com a própria vida se esse erro continuar servindo de brincadeira lá dentro das vara da justiça. A cada passo que deram e dão tanto polícia como promotor, juiz e desembargador, todos eles estão matano meu filho aos poucos”.

                                                     continua...





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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