SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 4 de junho de 2012

MINHA RUA ESTÁ BONITA (Crônica)


                                          Rangel Alves da Costa*


Acerca de meia hora atrás saí lá fora para olhar o tempo, avistar a lua imensa lá em cima, sentir no rosto o clima bom da brisa da noite, e acabei me deliciando com o silêncio que se faz agora.
Os meus olhos caminharam pelas casas, quase todas apenas térreas, simples, algumas com arquitetura antiga mais trabalhada, apenas uma ou outra com muros e o restante se apertando uma na outra. Quase rua interiorana, com feição de lugar distante.
Minha rua é assim mesmo, muito simples, pacata, calma e silenciosa nas noites dos sábados e domingos. Noutros dias não é assim não. Por ficar na região central da cidade, bem próximo ao comércio, os outros dias da semana são de uma barulheira só até as sete horas da noite.
Depois disso tenho o prazer de ouvir o barulho dos meninos – e são muitos – correndo, gritando, jogando bola, brincando de se esconder ou simplesmente passeando de calçada em calçada. Colocam o gato na rua e saem correndo atrás do bichano, trazem à exposição de toda noite o brinquedo novo adquirido. É uma festa a meninada.
Mas não sei por que hoje eles não estão brincando na rua. Estranho porque não está chovendo, não é tarde da noite e não há nada diferente que os impeça de sair para a brincadeira de toda noite. Estranho, mas também agradável.
E agradável porque tudo fica mais silencioso e calmo, com menos vozes conhecidas ecoando bem ali depois do meu portão, pertinho de onde escrevo agora. Ouço tudo porque basta levantar e com poucos passos já estou praticamente na calçada. E foi assim que fiz há instantes atrás quando saí para observar a noite lá fora.
Naquele instante observei uma coisa que me encheu de contentamento. Desde uns dois meses que toda noite pessoas da rua se reuniam para cortar plástico e fazer bandeirinhas, depois amarrar barbantes de poste a poste para pregá-las cuidadosamente. Um verdadeiro trabalho artesanal em louvor às festas juninas, principalmente São João. E agora a rua toda enfeitada.
Na noite de quinta-feira passada subiram em escadas e foram esticando os barbantes enfeitados com bandeirolas. Colocavam num lado da rua e no outro, ziguezagueando as cores multicoloridas. Um trabalho perfeito mas cujo resultado só é plenamente visível quando olhado de outros trechos da rua ou de lugares mais distantes.
Contudo, nessa noite olhei tudo atentamente e meus olhos se encantaram com aquela festa pelo alto, com a dança das bandeirinhas ao vento. Espetáculo maravilhoso, pois o silêncio permite ouvir um farfalhar como de folhas em arvoredos, em fins de tarde nos jardins. E tudo isso para preservar a força da rua como uma das que mais se enfeitam para o ciclo junino.
Nos próximos dias a rua inteira estará iluminada de lado a outro; balões serão colocados nos barbantes, novas palhas de coqueiros ganharão os postes e as frentes das casas. E quando chega a véspera de São João a rua tem seus acessos fechados para veículos, um verdadeiro arraial surge no meio da rua, sanfoneiros e quadrilhas chegam para animar ainda mais um povo já contente demais pela lindeza de sua rua.
Chuvinhas, traques, rojões, foguetes, fogos de todas as cores iluminarão as noites de tantos festejos. As famílias reunidas nas calçadas, ao redor do arraial, bebendo, brincando, assando milho na brasa, brincando de batizado na fogueira. Tem gente que até faz churrasco e coloca uísque sobre a mesa, já outros se contentam apenas em observar a festança.
Não danço forró nem valsa; nunca aprendi a dançar nada. Do mesmo jeito não estou bebendo nada que contenha álcool. Mas nada me impedirá de fazer o que faço todo ano, que é convidar alguns amigos para a calçada da casa e ali servir o vinho, a cerveja, a canjica, o arroz doce, o mungunzá, o amendoim, o milho cozido e para assar. Também um frango caipira, um pernil de porco, uma guloseima para a bebida não surtir muito efeito. E quem quiser que dance a dança da alegria.
Mas isto será em breve, daqui alguns dias. No momento vou retornar ao portão, sair para a rua, olhar mais uma vez a minha rua enfeitada, beijar suavemente a face da lua.




Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 

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