Rangel Alves da Costa*
Os maias não estavam errados. O mundo não acabou no dia 21 de dezembro de 2012 porque não havia nenhuma profecia nesse sentido. Se há algum culpado pela boataria, pelo oba-oba, pela semeadura do alvoroço e do medo, este nada tem a ver com a sabedoria da grande civilização mesoamericana.
O problema todo reside nas descabidas interpretações que alguns estudiosos e pesquisadores dão àquilo que não têm condições de explicar. Não se pautando em estudos sérios, convincentes, acabam trazendo invencionismos à realidade e transformando em descrença e motivo de achincalhe o que deveria ser explicado de outra forma, realisticamente. Talvez busquem holofotes, uma fama qualquer.
Ora, o calendário maia existe, é permeado de datações, mas foram buscar nos Baktuns (notações da contagem dos ciclos) supostas previsões de que o mundo acabaria em 2012, pois o dia 21 de dezembro seria o desfecho de mais um ciclo da vida. Como não encontraram nada que deixasse induvidosa tal previsão, então foram juntando cacos, criando explicações inverossímeis para dar sustentação ao ridículo.
Verdade é que estudiosos e pesquisadores existem que se pautam única e exclusivamente em tentar provar o improvável. Para se ter um exemplo, existe uma linha de defensores da chamada Teoria dos Astronautas Antigos que afirma de pé junto que nada na vida teve ou tem a participação de Deus. Simplesmente Deus não existe, porque tudo foi criado pelos extraterrestres, que continuam interferindo em toda a existência.
Do mesmo modo existem aqueles que fazem ilações inexistentes para apregoar profecias de toda sorte. Basta ver que em todo sinistro mundial surgido logo vão buscar uma explicação em Nostradamus para o ocorrido. Assim foi com a ascensão do nazismo, a queda das torres gêmeas, dentre tantas outras. E o que o vidente não profetizou será agora pressagiado para fundamentar o inexistente.
E assim vão surgindo absurdos tais como: “Profecia de Nostradamus menciona Gangnam Style como sinal do fim do mundo. De acordo com interpretação de uma previsão feita por Nostradamus, sucesso do rapper coreano Psy seria uma das trombetas do apocalipse”. E assim vão interpretando como querem os escritos do vidente e jogando na mídia o temor do momento. O pior é que tem gente que acredita.
São tais situações absurdas – e sempre objetivando ativar negativamente no fragilizado inconsciente coletivo – que vão tornando o mundo de cabeça pra baixo, quando bastaria a preocupação em mostrar o que se evidencia diante de cada um, o que está mais que claro no olhar e na compreensão de grande parte da população: não precisa profecia para saber que o mundo vai acabar pela mãos do próprio homem, na sua ação destrutiva cotidiana.
O mundo não acabou no dia 21, porém já vem sendo devastado, dilacerado, destruído há muito. E a destruição total certamente virá, e mais rapidamente do que se possa imaginar. Ora, o mundo não é uma estrutura férrea indestrutível, não é uma fortaleza inexpugnável. É, isto sim, uma frágil formação, um ambiente contendo seres que precisam de proteção, cuidados, preservação.
Não precisaria que uma imensa bola de fogo caísse sobre a terra para acabar com as formas de vida. E não precisa que isso aconteça porque é no seio da própria terra, na própria vida terrena, que as forças destruidoras agem para devastar a natureza, para poluir o ambiente, para aumentar o efeito estufa, para derreter as geleiras antártidas. É, pois, o próprio homem que vai destruir o seu lar terreno.
Se trocar o calendário maia pelos atuais instrumentos do homem dá no mesmo, só que com efeito diferenciado. O calendário previa possíveis acontecimentos, enquanto os instrumentos humanos agem rapidamente para efetivar a destruição. E são coisas simples, apenas motosserras, agrotóxicos, resíduos tóxicos, construções que não levam em consideração nem o ambiente nem o homem, mas somente o progresso acima de tudo. Porém, até quando?
Até o dia da saturação. Chegará um tempo que faltará alimento as águas estarão contaminadas, seres humanos voltando ao estágio de selvageria. Depois de tantos inventos e infinitas tecnologias, o homem caçará feito bicho selvagem, terá o próximo como inimigo potencial e nem terá discernimento para saber que, enfim, seu fim se aproxima.
E será realmente fim.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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