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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 93


Rangel Alves da Costa*


“Ah, tempos idos...”.
“Doces tempos de antigamente...”.
“Até quando a gente nem existia...”.
“Mas já estávamos lá...”.
“Na semente, na raiz...”.
“Na linhagem, na descendência...”.
“Na veia e no sangue...”.
“No sobrenome, na história...”.
“Para nascer um dia...”.
“Criança puxando o fio...”.
“Criança esticando a existência familiar...”.
“Novos e velhos num mesmo seio...”.
“Para depois as pedras serem repostas...”.
“Enquanto uns são chamados à eternidade...”.
“Outros tomam assento e lugar...”.
“Mas na verdade, quase nada de novo...”.
“Dizem que nascemos metade nossos pais e metade nossas mães...”.
“Que eram metades de outras metades...”.
“Mas não há rompimento com as metades antigas...”.
“Porque as características hereditárias continuarão existindo...”.
“Ainda que as características pessoais vão tomando outras feições...”.
“Contudo, chega um dia que as primeiras raízes tendem as ser esquecidas...”.
“Cabe aos herdeiros preservar suas raízes...”.
“Não herdeiros de bens, mas sucessores da história familiar...”.
“Até porque muitas vezes a pessoa não é reconhecida senão através da família...”.
“O peso da linhagem, do sobrenome...”.
“Surge a lembrança do avô, do bisavô, do pai...”.
“E naqueles o reconhecimento da pessoa...”.
“E caberia a esta fortalecer cada vez mais o nome familiar...”.
“Nem sempre age assim por diversas razões...”.
“Muitos acreditam que só a grandeza, o poder e a riqueza são motivos de orgulho familiar...”.
“Pensar assim é desvalorizar as pessoas...”.
“Deveriam ter imenso orgulho pelo bisavô que foi tropeiro...”.
“Foi artesão ou lavrador...”.
“Comerciante ou bodegueiro...”.
“Pelo tio que foi caixeiro-viajante...”.
“Outro que foi alfaiate...”.
“A tataravó que foi rezadeira...”.
“A bisavó que foi beata de quase morar na igreja...”.
“A avó que foi doceira de mão cheia...”.
“O pai que foi vaqueiro, comboieiro...”.
“Ou que foi poeta de cordel ou tocador de rabeca...”.
“Ou ainda maquinista...”.
“Um tio que foi seresteiro...”.
“E outro um almofadinha apaixonado...”.
“Uma tia professora...”.
“E a outra que fazia renda de bilro...”.
“Um irmão que é funcionário público...”.
“E o outro desempregado...”.
“Pouco importa a profissão...”.
“E menos importa ainda o que é se a raiz familiar for reconhecida...”.
“E dizem que é bisneto de sicrano...”.
“É o neto de beltrano...”.
“E ninguém vai relembrar e dar valor a quem passou pela vida sem nada fazer...”.
“Mas a quem se sobressaiu naquilo que fez...”.
“Daí as portas se abrirem...”.
“Daí os tratos e olhares diferenciados...”.
“Não há muito tempo que o pai da mocinha só aceitava namoro de filha com rapaz de família honrada...”.
“Pouco sobre ele prevalecia diante da família...”.
“E até parecia que a mocinha pretendia namorar o passado...”.
“Mas lá é moradia da honra, do respeito...”.
“A certeza que aquele possuía raiz de decência...”.
“Tudo em nome da família...”.
“Desde o primeiro grão ao que nasceu agora...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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