Rangel Alves da Costa*
Os deuses, entidades e seres imaginários que povoam a mente e até a fé de pessoas das mais diversas culturas, não se distinguem muito dessas mesmas pessoas quando precisam do único Deus. Também necessitam da graça divina para continuarem mantendo seus status de protetores.
Não se imagine, pois, que o Grande Xamã invoque o deus do fogo e a divindade tribal tenha o poder de satisfazer todas as necessidades da tribo. Esse deus do fogo é criado espiritualmente e surge quase como um mero aspecto de proteção a mais. E só é criado porque alguém acredita que é possível ter uma garantia terrena, mas nada em comparação com a proteção celestial.
Mesmo no mundo primitivo, principalmente entre os povos cultuadores de divindades pagãs, ainda assim prevalecia a crença numa força criadora superior. Assim, o grande celeiro de deuses jamais se mostrou suficiente para a proteção que buscavam. Portanto, os deuses só se justificam pela existência de um grande Deus.
Os ídolos não são onipotentes, onipresentes ou oniscientes; portanto, faltam-lhes os atributos da presença constante sobre tudo e todos. Do mesmo modo, os deuses pagãos só possuem a força de ativação da crença perante as pessoas que os cultuam. Assim, são entidades de valor reduzido. Suas ações nunca vão além da crença que se tem nos seus poderes. O que nem sempre se confirma.
As denominações são muitas para identificar cultos a deuses familiares ou circunscritos a tendências tribais, primitivas ou ancestrais. Politeísmo, monoteísmo, xamanismo, panteísmo, animismo, tribalismo, mitraísmo, totemismo, druidismo, xintoísmo, dodecanteísmo, dentre tantas outras. Em muitas sociedades serão tantos deuses quanto mais fragilizada for a crença dos povos. Por se relacionarem demais com suas divindades, acabam fragilizando os cultos.
Ora, os deuses cultuados estão envoltos em características humanas ou possuem poderes sobrenaturais específicos. Seja no totem ou num talismã, num deus olimpo ou numa divindade céltica, sempre haverá a representação do bem, do mal, da construção, da destruição. E não cabe que se faça tal destinação ao Deus da Criação. Nos atributos deste é que estão inspirados os poderes benéficos das divindades.
Em religiões antropormórficas, por exemplo, os deuses carregam em si características de humanos, de homens comuns, mas com poderes sobrenaturais. Tal fato já indica que ao equiparar-se ao homem comum obviamente se põe em obediência a uma força superior, e que não será Zeus porque outro deus superior não existe senão o próprio Deus.
No politeísmo, os deuses, masculinos, femininos ou de sexualidade indefinida, possuem personalidades próprias e, ao modo, dos governados, agem sob atribuições, pois não possuem poder sobre tudo, mas apenas dentro de certos contextos. Ademais, as deidades são tão diversas como são as aceitações pelos grupos onde são cultuados.
Isto significa que uma divindade das chuvas não se volta para proteger contra feitiçarias, uma entidade de proteção aos homens não será a mesma que protegerá as mulheres. E mesmo que todas as divindades fossem reunidas, e todas trazendo sua cota de poderes e atribuições, ainda assim não se aproximariam da verdadeira divindade, do poder de Deus.
Quando os povos se vêem em extremas aflições, em situações de flagelos e penúrias, quando a peste e a morte começam a exterminar tribos inteiras, povos inteiros, e a todos os deuses já se ergueram louvores e súplicas, então restará rogar pelo Deus único, aquele que é o primeiro e o último refúgio. E somente deste virá a salvação para as atribulações da vida.
Erroneamente imagina-se que as culturas politeístas, cuja religiosidade se baseia na adoração e culto de vários deuses, tornando em verdadeira divindade objetos, animais e outros seres, reverenciavam apenas seus ídolos. Pelo contrário, pois os deuses das culturas primitivas politeístas eram adorados ritualmente, eram idolatrados ocasionalmente e exercendo função espiritual bastante definida, mas não de modo a terem, por exemplo, um tronco de madeira como o grande Deus.
Sabiam que os seus deuses, seus ídolos e suas imagens possuíam uso restrito, voltados que eram para o diálogo com os mortos, conhecer os segredos dos vivos, saber do tempo certo para as colheitas, proteger contra enfermidades. Mas noutras situações buscavam uma proteção mais efetivamente profunda. E tal proteção só era possível tendo ciência da existência de um Deus único, infinitamente superior aos ídolos terrenos.
E se alguma força ou poder esses deuses possuem, tal será o dom para reconhecer que não são absolutamente nada sem a crença primitiva do povo e que, principalmente, precisam de Deus no espelho do bem ou do mal que possam realizar. Do mal porque ainda que fujam das lições divinas estão se mirando pelo avesso do sublime espelho.
Poeta e cronista
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