Rangel Alves da Costa*
Que venha e chegue logo. Estou cansado de esperar, de ver o tempo passar e sempre as mesmas horas açoitando os mesmos dias. E depois os anos, depois o cansaço por esperar, e depois...
Imagino que a vida não seja isso não. Creio piamente que não seja só isso não. Acordar para o dia, viver para as horas, ter que acostumar com a mesmice de sempre, com a mesma notícia, o mesmo carteiro que apenas passa, a mesma janela aberta, o mesmo olhar, a mesma ventania.
Não que eu tenha me afastado da realidade lá fora, que eu não tenha buscado caminhar por aí, que eu não tenha lutado para conseguir o riscado no caderninho e plantado na mente. Vou atrás com ânsia, com sede, vontade de conseguir tudo. O problema é que o desencanto sempre me recolhe ao mesmo canto.
É difícil, mas o que corro o risco de conseguir não vai além da conquista de outros que não pensam em alcançar nada mais significativo na vida. Não aceito isso em ninguém e muitos menos em mim. Por mais que os outros acabem acostumando, jamais irei me contentar em apenas comer, beber, adormecer e acordar, e ainda por cima dizer que tudo é maravilhoso.
O que é verdadeiramente maravilhoso na vida é ter sempre um sonho para ser transformado em realidade, lutar pelo aparentemente impossível por saber que tudo é possível de ser conseguido, cismar de botar o pé na nuvem e andar, criar asas de passarinho e voar, ter a certeza de um dia entrar como rei no palácio da felicidade.
O que é divinamente maravilhoso na vida é subir na montanha com a certeza do diálogo com Deus; é acreditar nos anjos bons e tê-los sempre ao lado, guiando, confortando, mostrando os caminhos; é ter a fé e a religiosidade como santuários no firmamento do meu coração; é ser templo e igreja, capela e catedral, tudo dentro de mim.
O que é maravilhosamente na vida é ter a certeza que um dia a visita chegará. Ainda que esteja recolhido na penumbra do quarto, entristecido no beiral da janela ao entardecer, desesperançado pelo que acontece ao redor, ter a certeza que virá o anúncio da chegada daquele que não me canso de esperar.
Mas não imagine que a visita será de um ex-amor que foi embora e voltará para tentar reconciliação; de um amigo viajante que estará de retorno; do poeta que vem me pedir para forçosamente dizer que seus versos são belos; do engraxate que um dia prometi uma roupa nova quando começasse a estudar. Nem pense nada disso, pois nada disso será.
A visita que tanto espero não chegará num passo nem a galope, voando nem de automóvel, de roupa nova ou no traje de todo dia. A visita tão aguardada não entrará pela janela nas asas de passarinho, não chegará no sopro do vento, não estará aqui pela luz do sol nem pelo brilho da lua.
Por consequência, para receber a visitação não prepararei almoço nem janta, não vestirei roupa nova, não precisarei ter à disposição refrigerantes, licores ou vinhos. Também não precisarei me preocupar com doces, salgados e bolos; não colocarei toalha nova na mesa nem cortinado mais vistoso. Tudo será muito simples, conforme a simplicidade da minha visita.
Uma coisa é certa. Desde já - e todos os dias - abrirei todas as janelas e portas, colocarei cadeira de balanço na varanda, esticarei a rede na varanda, limparei as folhas que caem e se espalham pelo jardim. O ar de limpeza e a ventilação nos ambientes não permitem que o desconhecido venha se instalar por aqui. E quero receber minha visita com a purificação maior que a vida requer.
Nem palmas nem campainha, nem grito nem toque. O meu coração sentirá quando ela chegar e for se instalando. Os meus olhos certamente brilharão e a minha boca se abrirá num sorriso. Como hei de cumprimentar a esperança?
Direi apenas que vá entrando para nunca mais partir. Direi que somente ela, a esperança, a visita tão esperada, será capaz de tornar o próximo momento e o dia de amanhã no melhor que se deseja na vida.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Lindo texto... trate bem a esperança, pois em alguns momentos na vida, apenas ela o visitará.
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