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quarta-feira, 2 de julho de 2014

É TÃO DIFÍCIL SER PROFESSOR?


Rangel Alves da Costa*


A formação docente requer reflexões úteis e necessárias. O que costumeiramente se apregoa nem sempre é considerado na sua prática. E havendo prática coerente com os objetivos educacionais, a formação deverá realmente ser comprometida não só com a melhoria da educação, mas também com a transformação de toda a sociedade. Neste sentido, a formação do educador deve ser para a transformação e não apenas para reproduzir conteúdos, de modo socialmente descompromissado e politicamente inerte.
Contudo, se há ineficácia na formação e o problema tenha reflexo na sala de aula, a culpa não será somente daquele incapacitado para ensinar, mas também da própria instituição que forma e da escola que acolhe o docente sem conhecer sua postura educacional e de mundo. Ora, também o professor é um sujeito crítico, alguém que tem posicionamentos, postura ideológica, partidarismos. E tais aspectos não são observáveis naquele que não teve uma boa formação.
Eis que a formação do indivíduo implica também na formação de sua postura ideológica e de seu comprometimento e ação diante da realidade. Do mesmo modo, a ação do indivíduo enquanto docente deve ser também de busca de transformação daqueles que vão à escola não apenas para aprender conteúdos, como alguém que aleatoriamente vai acumulando, mas para sistematizar conhecimentos verdadeiramente úteis. Além de que necessitam ter suas mentes sempre abertas para realidades muito maiores.
Desse modo, uma formação docente comprometida com a transformação social deve, necessariamente, evidenciar o perfil e conhecimentos desejáveis do educador para uma intervenção inteligente e ideologicamente engajada - porém sem politização partidária - na realidade escolar. Ora, o professor jamais deve ter uma postura de passividade diante da realidade concreta. Sua interferência, contudo, deve ser no sentido de trazer e permitir a reflexão sobre os diversos cenários existentes e deixar que o professor alunado construa seu entendimento.
A nova postura requerida na prática educacional não mais permite que o educador esteja comprometido apenas com a reprodução. Não se admite mais que o professor ainda se conserve com mero retransmissor de conteúdos. Deve-se buscar uma educação para o mundo, para o conhecimento e reflexão da realidade, para sua crítica e intervenção diante de fatos concretos. Urge, assim, uma prática cuja dimensão política e social seja a pedra fundamental para a transformação não só da escola como da própria educação, e principalmente do alunado. Urge ainda que a formação seja a mais abrangente possível e o conhecimento significativo, de modo que a formação docente priorize a multiplicidade de conteúdos e de saberes.
Uma postura pedagógica que reflita a realidade através do ensino exige que o educador consiga fazer a ponte entre conteúdos e fatos concretos do mundo e da vida, eis que o trabalho pedagógico nada mais é que uma comunicação entre a educação e o mundo real. Cabe ao professor ter a capacidade de articulação entre conhecimentos, buscar na interdisciplinaridade uma forma de abranger conceitos. E basicamente que consiga tornar a sala de aula um espaço de solidariedade e favorecer o desenvolvimento do aluno nos aspectos cognitivo, emocional e moral. Necessário, pois, que a ação docente possibilite ao educador uma visão não só do fazer educacional, mas  também de sua importância como instrumento de transformação da realidade através de seus alunos.
De qualquer modo, urge que se considere a educação como uma forma de compreender as transformações mundialmente ocorridas. Incabível que tantas mudanças de conceitos, visões e paradigmas, ainda permitam que o fazer educacional permaneça inerte, colhendo ainda de seus antepassados. Tal contexto exige a formação de um professor que reflita o seu tempo e que também procure dialogar criticamente com as transformações, e por isso mesmo objetivando uma educação comprometida com as exigências desse novo tempo.
Em síntese, o que se defende é uma formação docente mais ideológica, crítica, reflexiva, mais universalizante e menos conteudística. E cabe ao educador alcançar uma postura coerente com a realidade da vida e do mundo. Ora, quando o ensino passa a exigir novos saberes, novas formas de conhecimento e uma junção interdisciplinar e transversal de conceitos, logo se tem a porta de entrada para esse novo fazer educacional.
Não há milagres nem mirabolâncias, apenas ação coerente com as exigências da nova realidade educacional e da utilização dos mecanismos de informações colocados à disposição de todos. Basta que o educador lance mão do vasto repertório de possibilidades e torne o ato de educar um ato de reflexão tão vasto quanto o próprio conhecimento.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

erO professor é apenas uma peça neste trabalho, pois as responsabilidades de outros também tem que ser cobrada, pois somente o professor não consegue fazer os milagres que a sociedade lhe impõem. Família e governos estão empurrando suas mazelas para a a escola que se vê acuada a tentar resolver problemas estratosféricos.