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terça-feira, 8 de julho de 2014

POLÍTICA: ESPONSAIS, TRAIÇÕES E DIVÓRCIOS


Rangel Alves da Costa*


Alguns aspectos dos relacionamentos amorosos possuem analogia, ainda que meramente alegóricas, com a política partidária, principalmente no que se referem a paqueras, namoros, compromissos, casamentos, traições e términos de relações. Sem falar na imputabilidade da culpa feita de parte a parte, onde cada um é tido como responsável pelo fim da relação e, portanto, merecedor de todo tipo de desonra e achincalhe.
Os últimos acontecimentos políticos envolvendo flertes que não foram além de paquera, namoros desfeitos antes mesmo de acontecerem os primeiros afagos, términos de relações tidas como certas e duradouras e, logicamente, sinais de deslavadas traições, dão a exata dimensão do quanto as relações andam complicadas. Quem já se sentia beijado foi rejeitado, quem já se sentia abandonado foi abraçado, quem tinha de finalmente decidir acabou recebendo a flor, ainda que a desejasse mais perfumada.
Assim como nos compromissos desfeitos de casamento, nas relações políticas não ocorrem apenas os abandonos à beira do altar e as juras rompidas já depois das solenes celebrações, mas principalmente verdadeiras desonras tanto para enamorados como para aqueles que já se supõem de aliança na mão. E assim porque, reconhecidamente, o que mais impera nos relacionamentos partidários são as traições, os namoros escondidos, uma verdadeira lascívia. Poucos são aqueles que respeitam os compromissos firmados e muitos são aqueles que fazem dos partidos verdadeiras alcovas para amantes de todos os tipos.
Mesmo sem previsão na lei civil vigente, o rompimento dos esponsais ou compromisso de casamento certamente gera reflexos profundos naquele que foi abandonado ainda na fase do noivado.  As consequências jurídicas são meramente indenizatórias, pois o que se sentiu prejudicado pela quebra do compromisso de casamento pode entrar com ação de perdas e danos, responsabilizando civilmente o outro. No âmbito partidário, o rompimento dos esponsais são regras das quais as traições são espécies.
Ora, se tem conhecimento de candidatos que já davam como certo o casamento com determinados políticos. Mesmo que uns sempre achassem os outros intragáveis, imprestáveis, verdadeiros estorvos, ainda assim corresponderam aos olhares e sorrisos, espalharam esperanças pelo ar, aceitaram os versos recebidos e até se propuseram a marcar encontros às escondidas. Mas nem tão escondido assim, vez que de vez em quando eram avistados passeando quase de mãos dadas, sorridentes, felizes, propensos a aceitar de vez um ao outro.
Os flertes foram muitos, as paqueras também. No intuito de conquistar de vez o coração do pretendente ainda indeciso, dizem que alguns candidatos se esmeraram em oferecer paraísos, se danaram a fazer promessas mirabolantes, permitiram até que os políticos desejados escolhessem o que desejassem naqueles apaixonados corações. O problema é que os apaixonados não imaginavam como seria difícil dobrar aqueles coraçõezinhos que insistiam em ficar em cima do muro.
Verdade é que os namoros se alongaram até os instantes de decisão. Havia chegado o momento de dizer sim ou não, de afirmar se aceitavam ou não assumir de vez o namoro. E estando os pretendentes aflitos, todos nervosos, mas levando flores e um baú de promessas, eis que os pretendidos se mantiveram silenciosos nas suas portas até se lançarem eufóricos aos braços do outro. Que tristeza para os rejeitados, simplesmente trocados pelos seus rivais do mesmo amor. Quanta alegria para os escolhidos, vez que enfim podiam afirmar para o mundo que haviam encontrado as verdadeiras paixões de suas vidas.
Assim são os namoros políticos, as paqueras partidárias, as tristezas e alegrias nos coraçõezinhos apaixonados. Até aí tudo bem, pois uma relação pode não dar certo com um e se tornar uma maravilha com outro. Contudo, não há nada mais doloroso quando o candidato já se sente amado, verdadeiramente trocando alianças no altar, e de repente o seu grande amor é avistado aos beijos e abraços com outro. Mas em se tratando de política, nada disso será visto como traição, e sim como uma fraqueza da carne que se entregou não se sabe em troca de que ou quanto.
Desses namoros políticos nascem as perfeitas, porém momentâneas, relações conjugais. Mostram-se tão unidos, sobem no altar tão sorridentes, fazem tantos planos, que até parece que viverão a paz da eternidade. Não na saúde e na doença, não riqueza e na pobreza, mas até que as promessas deixem de ser cumpridas perante a insaciabilidade do cônjuge. E de repente, aquilo que se afeiçoava à união duradoura começa a fraquejar. As relações se azedam, o casamento começa a acabar.
Mas antes que acabe de vez, outro candidato já manda flores e marca encontro às escondidas. E, sem nenhum pudor ou preocupação com que os outros pensem, eis um novo amor se formando. E, do mesmo modo que ocorre com o divórcio, aquela boca antes beijada já não vale mais nada, aquela pessoa antes tão amada e respeitada passa a síntese de tudo que não presta no mundo. Até que o novo namoro acabe em casamento, até que a união se desfaça no próximo pleito eleitoral.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente o nosso país está recheado desses personagens que mandam e desmandam nas decisões politicas. O povo assiste a tudo passivo e, se reagir contra, pode até sofrer perseguições cruéis.
Como diziam os mais velhos: o reisado é o mesmo só muda o caboclo.