Rangel Alves da Costa*
Alguns aspectos dos relacionamentos amorosos
possuem analogia, ainda que meramente alegóricas, com a política partidária, principalmente
no que se referem a paqueras, namoros, compromissos, casamentos, traições e
términos de relações. Sem falar na imputabilidade da culpa feita de parte a
parte, onde cada um é tido como responsável pelo fim da relação e, portanto,
merecedor de todo tipo de desonra e achincalhe.
Os últimos acontecimentos políticos
envolvendo flertes que não foram além de paquera, namoros desfeitos antes mesmo
de acontecerem os primeiros afagos, términos de relações tidas como certas e
duradouras e, logicamente, sinais de deslavadas traições, dão a exata dimensão do
quanto as relações andam complicadas. Quem já se sentia beijado foi rejeitado,
quem já se sentia abandonado foi abraçado, quem tinha de finalmente decidir
acabou recebendo a flor, ainda que a desejasse mais perfumada.
Assim como nos compromissos desfeitos de
casamento, nas relações políticas não ocorrem apenas os abandonos à beira do altar
e as juras rompidas já depois das solenes celebrações, mas principalmente
verdadeiras desonras tanto para enamorados como para aqueles que já se supõem
de aliança na mão. E assim porque, reconhecidamente, o que mais impera nos
relacionamentos partidários são as traições, os namoros escondidos, uma
verdadeira lascívia. Poucos são aqueles que respeitam os compromissos firmados
e muitos são aqueles que fazem dos partidos verdadeiras alcovas para amantes de
todos os tipos.
Mesmo sem previsão na lei civil vigente, o
rompimento dos esponsais ou compromisso de casamento certamente gera reflexos
profundos naquele que foi abandonado ainda na fase do noivado. As consequências jurídicas são meramente
indenizatórias, pois o que se sentiu prejudicado pela quebra do compromisso de
casamento pode entrar com ação de perdas e danos, responsabilizando civilmente
o outro. No âmbito partidário, o rompimento dos esponsais são regras das quais
as traições são espécies.
Ora, se tem conhecimento de candidatos que já
davam como certo o casamento com determinados políticos. Mesmo que uns sempre
achassem os outros intragáveis, imprestáveis, verdadeiros estorvos, ainda assim
corresponderam aos olhares e sorrisos, espalharam esperanças pelo ar, aceitaram
os versos recebidos e até se propuseram a marcar encontros às escondidas. Mas
nem tão escondido assim, vez que de vez em quando eram avistados passeando
quase de mãos dadas, sorridentes, felizes, propensos a aceitar de vez um ao
outro.
Os flertes foram muitos, as paqueras também.
No intuito de conquistar de vez o coração do pretendente ainda indeciso, dizem
que alguns candidatos se esmeraram em oferecer paraísos, se danaram a fazer
promessas mirabolantes, permitiram até que os políticos desejados escolhessem o
que desejassem naqueles apaixonados corações. O problema é que os apaixonados
não imaginavam como seria difícil dobrar aqueles coraçõezinhos que insistiam em
ficar em cima do muro.
Verdade é que os namoros se alongaram até os
instantes de decisão. Havia chegado o momento de dizer sim ou não, de afirmar
se aceitavam ou não assumir de vez o namoro. E estando os pretendentes aflitos,
todos nervosos, mas levando flores e um baú de promessas, eis que os pretendidos
se mantiveram silenciosos nas suas portas até se lançarem eufóricos aos braços
do outro. Que tristeza para os rejeitados, simplesmente trocados pelos seus
rivais do mesmo amor. Quanta alegria para os escolhidos, vez que enfim podiam
afirmar para o mundo que haviam encontrado as verdadeiras paixões de suas
vidas.
Assim são os namoros políticos, as paqueras
partidárias, as tristezas e alegrias nos coraçõezinhos apaixonados. Até aí tudo
bem, pois uma relação pode não dar certo com um e se tornar uma maravilha com
outro. Contudo, não há nada mais doloroso quando o candidato já se sente amado,
verdadeiramente trocando alianças no altar, e de repente o seu grande amor é
avistado aos beijos e abraços com outro. Mas em se tratando de política, nada
disso será visto como traição, e sim como uma fraqueza da carne que se entregou
não se sabe em troca de que ou quanto.
Desses namoros políticos nascem as perfeitas,
porém momentâneas, relações conjugais. Mostram-se tão unidos, sobem no altar
tão sorridentes, fazem tantos planos, que até parece que viverão a paz da
eternidade. Não na saúde e na doença, não riqueza e na pobreza, mas até que as
promessas deixem de ser cumpridas perante a insaciabilidade do cônjuge. E de
repente, aquilo que se afeiçoava à união duradoura começa a fraquejar. As
relações se azedam, o casamento começa a acabar.
Mas antes que acabe de vez, outro candidato
já manda flores e marca encontro às escondidas. E, sem nenhum pudor ou
preocupação com que os outros pensem, eis um novo amor se formando. E, do mesmo
modo que ocorre com o divórcio, aquela boca antes beijada já não vale mais
nada, aquela pessoa antes tão amada e respeitada passa a síntese de tudo que
não presta no mundo. Até que o novo namoro acabe em casamento, até que a união
se desfaça no próximo pleito eleitoral.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Infelizmente o nosso país está recheado desses personagens que mandam e desmandam nas decisões politicas. O povo assiste a tudo passivo e, se reagir contra, pode até sofrer perseguições cruéis.
Como diziam os mais velhos: o reisado é o mesmo só muda o caboclo.
Postar um comentário