Rangel Alves da Costa*
Nos bons tempos do Jornal Nacional um dos
momentos mais esperados era o aparecimento da moça do tempo. A bela não era
meteorologista, apenas uma jornalista apontando o dedo em direção a mapas e
mostrando as possibilidades climáticas para o dia seguinte. Chove aqui chove
acolá, amanhã o sol aberto naquela região, e assim por diante. E a maioria das
previsões se confirmava, desde geadas, temporais e outras situações.
Até mesmo o velho sertanejo, homem que sabia
ler a carta climática apenas olhando para a formação e as feições do tempo
adiante e ao redor, não escondia sua confiança nas previsões que a moça fazia.
Mas hoje, quando aquele tipo de apresentação não existe mais e as previsões
lançam mão de tecnologias climáticas de ponta, o velho sertanejo só se dá por
satisfeito quando ouve a voz de um famoso meteorologista sergipano anunciando
as chuvaradas ou as estiagens para os dias seguintes.
Sua confiança no famoso meteorologista é
tanta que até faz aposta na vizinhança. Não porque acredita fielmente no que o
homem diz, mas porque desacredita cegamente em tudo o que ele diz. E confirma:
Se ele disser que vai chover não chove de jeito nenhum; se disser que vai ser
dia de sol em todo o estado então pode preparar o guarda-chuva. Mesmo que
esteja chovendo desde dois ou três e ele aparecer pra dizer que as chuvas vão
continuar, pode ter certeza que as nuvens vão parar de se derramar.
O sertanejo não está errado não, eis que
realmente assim acontece. Ninguém sabe se por falha ou obsolência nos
equipamentos do instituto onde trabalha, se por descuido na apreciação dos
mapas ou se por erro mesmo. O problema é que erra sempre. Não acerta uma. A
única certeza climatológica que há é que as condições climáticas serão opostas
ao que ele previu. Acaso ele apareça para dizer que amanhã vai chover e logo a
certeza de um lindo dia ensolarado.
Quem descuidadamente ouve suas explanações
talvez acredite em tudo que afirma sobre as condições do tempo nos dias,
semanas ou meses seguintes. E assim porque ouve falar em massa quente de ar que
se forma no oceano, em aumento ou diminuição de correntes frias, em pressões
atmosféricas que provocam aumento de umidade e chuvas na zona litorânea, e
assim por diante. Mas que depois se mostram sem validade nenhuma, pois nada
acontece daquele modo.
Aconteceu assim anteontem, dia 16 de julho,
em entrevista radiofônica reprisada ontem ao amanhecer. Eis que o famoso homem
do tempo sergipano foi convidado a falar sobre as chuvas que caíam fortes,
contínuas e abundantes na capital sergipana e em grande parte do estado, mas
bastou dizer que esta quinta-feira seria também de chuvas ao longo de todo o
dia e o sol logo apareceu. Rompeu as nuvens e brilhou o dia inteiro. E as
contínuas chuvas previstas pelo meteorologista?
Parece praga do homem do tempo. Choveu na
terça e na quarta mais forte ainda, e o dia inteiro, mas só porque ele disse
que as chuvas continuariam não caiu mais uma gota sequer. Disse claramente que
a quinta-feira na capital sergipana seria o dia inteiro com o tempo fechado e
chuvaradas caindo a qualquer momento. Mas o sol abriu desde a manhã e assim
permaneceu até a boca da noite. Só mesmo na madrugada que a chuva voltou a
cair, mas assim vem acontecendo desde muito.
E também desde muito tempo que suas previsões
não se confirmam. Outro dia ouvi alguém dizendo que a seleção brasileira só teria
chance de ser campeã se o nosso homem do tempo afirmasse que ela seria logo
eliminada. E no meio político ninguém quer ouvir que ele esteja prevendo a
vitória deste ou daquele candidato a governador. Acaso afirme que um será
eleito e este pode se dar como derrotado.
Mas é bom que assim aconteça. Se ele abrir a
boca pra falar em dia ensolarado, logo cuido de lançar mão da galocha e do
guarda-chuva. O pior é se ele disser que Dilma vai ser derrotada. Deus me
livre!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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