SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 18 de julho de 2014

O METEOROLOGISTA


Rangel Alves da Costa*


Nos bons tempos do Jornal Nacional um dos momentos mais esperados era o aparecimento da moça do tempo. A bela não era meteorologista, apenas uma jornalista apontando o dedo em direção a mapas e mostrando as possibilidades climáticas para o dia seguinte. Chove aqui chove acolá, amanhã o sol aberto naquela região, e assim por diante. E a maioria das previsões se confirmava, desde geadas, temporais e outras situações.
Até mesmo o velho sertanejo, homem que sabia ler a carta climática apenas olhando para a formação e as feições do tempo adiante e ao redor, não escondia sua confiança nas previsões que a moça fazia. Mas hoje, quando aquele tipo de apresentação não existe mais e as previsões lançam mão de tecnologias climáticas de ponta, o velho sertanejo só se dá por satisfeito quando ouve a voz de um famoso meteorologista sergipano anunciando as chuvaradas ou as estiagens para os dias seguintes.
Sua confiança no famoso meteorologista é tanta que até faz aposta na vizinhança. Não porque acredita fielmente no que o homem diz, mas porque desacredita cegamente em tudo o que ele diz. E confirma: Se ele disser que vai chover não chove de jeito nenhum; se disser que vai ser dia de sol em todo o estado então pode preparar o guarda-chuva. Mesmo que esteja chovendo desde dois ou três e ele aparecer pra dizer que as chuvas vão continuar, pode ter certeza que as nuvens vão parar de se derramar.
O sertanejo não está errado não, eis que realmente assim acontece. Ninguém sabe se por falha ou obsolência nos equipamentos do instituto onde trabalha, se por descuido na apreciação dos mapas ou se por erro mesmo. O problema é que erra sempre. Não acerta uma. A única certeza climatológica que há é que as condições climáticas serão opostas ao que ele previu. Acaso ele apareça para dizer que amanhã vai chover e logo a certeza de um lindo dia ensolarado.
Quem descuidadamente ouve suas explanações talvez acredite em tudo que afirma sobre as condições do tempo nos dias, semanas ou meses seguintes. E assim porque ouve falar em massa quente de ar que se forma no oceano, em aumento ou diminuição de correntes frias, em pressões atmosféricas que provocam aumento de umidade e chuvas na zona litorânea, e assim por diante. Mas que depois se mostram sem validade nenhuma, pois nada acontece daquele modo.
Aconteceu assim anteontem, dia 16 de julho, em entrevista radiofônica reprisada ontem ao amanhecer. Eis que o famoso homem do tempo sergipano foi convidado a falar sobre as chuvas que caíam fortes, contínuas e abundantes na capital sergipana e em grande parte do estado, mas bastou dizer que esta quinta-feira seria também de chuvas ao longo de todo o dia e o sol logo apareceu. Rompeu as nuvens e brilhou o dia inteiro. E as contínuas chuvas previstas pelo meteorologista?
Parece praga do homem do tempo. Choveu na terça e na quarta mais forte ainda, e o dia inteiro, mas só porque ele disse que as chuvas continuariam não caiu mais uma gota sequer. Disse claramente que a quinta-feira na capital sergipana seria o dia inteiro com o tempo fechado e chuvaradas caindo a qualquer momento. Mas o sol abriu desde a manhã e assim permaneceu até a boca da noite. Só mesmo na madrugada que a chuva voltou a cair, mas assim vem acontecendo desde muito.
E também desde muito tempo que suas previsões não se confirmam. Outro dia ouvi alguém dizendo que a seleção brasileira só teria chance de ser campeã se o nosso homem do tempo afirmasse que ela seria logo eliminada. E no meio político ninguém quer ouvir que ele esteja prevendo a vitória deste ou daquele candidato a governador. Acaso afirme que um será eleito e este pode se dar como derrotado.
Mas é bom que assim aconteça. Se ele abrir a boca pra falar em dia ensolarado, logo cuido de lançar mão da galocha e do guarda-chuva. O pior é se ele disser que Dilma vai ser derrotada. Deus me livre!


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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