Rangel Alves da
Costa*
Com acerto
e sabedoria, alguém já disse que por mais que a vida possa ser avistada do
começo ao fim, pois um só percurso do nascer ao morrer, a maioria das pessoas
insiste em fazer curvas na linha reta. Rompem as barreiras da estrada,
transgridem suas fronteiras, ultrapassam as laterais e adentram nas veredas do
imprevisível.
Mas nem
tanto imprevisível, considerando-se principalmente que muitos conhecem muito
bem as consequências nefastas advindas da simples opção de enveredar pelos
atalhos mais perigosos. É como se dissesse que não vá por ali e a pessoa seguir
adiante; não tente colher daquele fruto podre e o sujeito avançar com afoiteza;
implorar para que não entre por determinada senda e o indivíduo se fazer de
surdo.
Em
situações tais, logicamente que a pessoa será, ela própria, unicamente culpada
pelo pior que lhe possa acontecer. Quantas e tantas vezes os pais, com vozes
sempre repetidas de pedidos e rogos, imploram para que os seus não façam isso
ou aquilo, não andem rondando o perigo nem cometam o erro de ir se arriscar
perante o desconhecido. E nem sempre são ouvidos, e quase sempre sofrem
injustamente as consequências das ações danosas dos seus.
Depois
começam a ecoar as lamentações em torno do caminho espinhento escolhido pelo
sujeito. É de boa família, teve uma infância sob os maiores cuidados, nunca lhe
faltou nada, tudo tinha para grandes conquistas na vida, mas de repente passou
a agir de modo totalmente contrário ao imaginado. E diferente porque deixou de
seguir o percurso normal, a estrada que lhe caberia percorrer rumo às melhores
e possíveis realizações.
Certamente
que a linha reta citada é aquela da vivência comum, na normalidade da vida. Sem
antecipar-se aos fatos e sem antever os espinhos que estarão na estrada,
pressupõe-se que o ser humano nasce e caminha segundo o delineado como destino
até o dia do adeus terreno. E em tal percurso a infância, a adolescência, a
idade adulta e a velhice.
Do mesmo
modo, certamente que as linhas na curva reta dizem respeito aos atalhos e fugas
que a pessoa, por conta própria e risco, se permite adentrar. Quer dizer, tem
tudo para viver seu percurso sem trazer para si mesmo surpresas e
circunstâncias desagradáveis, porém procura modificar o traçado e incorrer em
afoitezas e perigos.
Com
efeito, por mais que muitos afirmem que sempre procuram viver zelando pela
pureza de seu espírito e alma, cuidando de si mesmos, agindo honestamente,
fugindo das armadilhas mundanas e evitando tudo aquilo que seja pernicioso,
traga desgostos e contratempos, a verdade é geralmente outra. Eis que agem, e
premeditadamente, para transformar a retidão da linha da vida em curvas e
precipícios intermináveis.
Na maioria
das situações, tem-se como normalidade da vida a convivência pacífica, a
semeadura para colher os melhores frutos da sobrevivência, a busca de
realizações e conquistas, o esforço para o reconhecimento social através do
trabalho. E isto se dá através da honradez, da coragem produtiva, do estudo, da
responsabilidade, do elevado esforço para sobreviver com dignidade e paz.
Tais
aspectos, que se reconheça, não devem ser vistos como características de apenas
alguns, pois todos, indistintamente, nascem com poder de realização e de seguir
dignamente pela normalidade da vida, percorrendo aquela linha reta inicialmente
citada. Portanto, tanto o pobre como o mais financeiramente aquinhoado, todos
possuem as características únicas da existência para usufruir, dentro de suas
capacidades, o melhor que a vida possa oferecer.
Contudo, jamais
poderá ser admitido como normal que a pessoa pretenda desconstruir a
normalidade da estrada e onde haja chão firme e flores do campo e passe a
semear ervas daninhas, espalhar pedras pontiagudas e espinhos perfurantes. E
também que vá além da margem da estrada em busca de labirintos, precipícios,
abismos e outras fendas destruidoras.
Há de se
reconhecer, contudo, o quanto difícil é seguir sempre pela linha reta da vida
sem que o seu curso seja desafiado. De repente, os próprios labirintos se
tornam até mais atraentes que o horizonte seguro. Espelham chamativas ilusões,
fantasias, experiências de toda sorte. E muitos, principalmente os mais jovens
e inexperientes, cessam a caminhada segura para experimentar as utopias fáceis
espelhadas no labirinto. Dificilmente pensam no que pode estar no outro lado,
nas sombras da destruição.
Talvez
ajam assim porque a caminhada pela linha reta da vida lhes parece previsível
demais. E se dizem que estudar, trabalhar, lutar para sobreviver, suar para
conquistar, tudo não passa de chatice cotidiana. Havendo novas coisas a fazer,
outras situações a experimentar, então nada melhor que arriscar. Pensam assim e
logo tomam outro rumo. Ao invés de prosseguir cimentando o futuro, preferem as
facilidades do desconhecido. Mas dificilmente conseguem retornar e retomar sua
estrada.
Daí que a
linha reta da vida, ainda que seja percurso previsível demais para muitos e sem
as experiências fulgurantes que as veredas ilusoriamente ofereçam, sempre foi o
caminho mais seguro para as grandes realizações. É cansativa, desafiadora, mas um
oásis para aqueles que a segue com retidão.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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