Rangel Alves da
Costa*
Tenho
escrito alguns livros. Mais de quinze já publicados e mais uns quatro já
devidamente finalizados. Gosto de dialogar com as letras, usar de suas
ferramentas e possibilidades, mas não me considero escritor. E não porque a
tradição literária brasileira concede às grandes editoras o direito de escolher
quem deva ser ou não reconhecido como escritor.
Decidem
transformar qualquer leite derramado ou maribondo de fogo em literatura e não
há o que fazer. De jabuti em jabuti, há um conchavo levando ao mesmo covil. De
hora pra outra e o sem pé nem cabeça está sendo garbosamente elogiado pela
crítica tendenciosa e bajuladora, senão devidamente paga para encontrar
qualidades no imprestável.
Agora vá
um escrevinhador qualquer e peça para que seu livro seja apreciado pela
editora. Nem recebido será pelo adjunto do subordinado ao editor. Quer dizer,
aquele trabalho feito com tanto esmero e dedicação, numa junção de inventividade
e persistência, sequer será analisado para uma possível publicação. E a
absoluta incoerência: gente que recebe antecipadamente para escrever as
baboseiras que quiser e outros que têm de mendigar qualquer apoio para ter sua
obra impressa.
Fato é que
escrevo, e escrevo continuamente, só isso. Meus livros, na grande maioria, só
tiveram viabilizadas suas publicações porque recorri às editoras, geralmente
localizadas no sul do país, que disponibilizam livros por encomenda. Os livros
ficam no catálogo virtual à disposição e quem quiser adquiri-los basta fazer o
pedido. O livro chegará em casa pelos correios.
Contudo,
vários problemas incorrem na escolha desse sistema de publicação. Mas não há
saída, ou envia seu trabalho arduamente construído ou ele permanecerá
engavetado, de leitura exclusiva para traças e pó.
Publicar
um livro com recursos próprios é algo severamente dispendioso, e sem garantia
de sequer reembolsar os valores pagos, eis que todo mundo canta a literatura
com ardor e devoção, mas poucos comparecem para adquirir um livro por trinta ou
quarenta reais. É a total desvalorização da cultura e principalmente do
escritor.
Conseguir
apoio ou patrocínio para uma publicação é um sacrifício sem fim. Recentemente
publiquei um livro biográfico e sei o quanto sofri para conseguir alguma coisa.
De início, para meu espanto, o principal órgão patrocinador da sergipana - o
Instituto Banese Cultural - me deu uma resposta inacreditável: O Instituto, que
tanto patrocina apadrinhados e baboseiras, não tinha condições de ajudar.
Acreditam?
Conheço
alguns jornalistas e “intelectuais” que escrevem sobre artes, cultura e
literatura, com conveniências e afiadas críticas, mas que jamais colocaram a mão
no bolso para comprar um livro sequer. Participam dos lançamentos apenas para
bebericar e bajular figurões, mas não querem nem saber de contribuir com o
escritor. Ficam esperando serem agraciados, e com esmeradas dedicatórias.
Na
publicação sob a encomenda a realidade é igualmente dificílima para o escritor
solitário. Uma vez enviado, graficamente trabalhado e colocado à disposição, o
autor praticamente se vê órfão de sua obra. Pode retirar do catálogo quando
quiser, mas não será a melhor medida quando se tem a certeza que as outras
editoras jamais abrirão as portas para autores desconhecidos.
E
desconhecidos permanecerão porque não têm sobrenome famoso, não são apadrinhados
pela intelectualidade iletrada, não são reconhecidos como absolutamente nada,
ainda que sua obra supere em muito alguns livros cujo marketing editorial os
fazem figurar por muitas semanas entre os mais vendidos. A política editorial
se volta, pois, para o nome do autor. Tanto faz que as páginas estejam em
branco ou que o texto não tenha qualquer valia literária.
Mas
voltando aos problemas da venda virtual dos livros, eis que um dos maiores diz
respeito à insignificante quantia que o autor recebe por obra vendida. Para um
preço razoável, em torno de trinta reais, o autor terá apenas cinco por cento.
Se quiser ter direito a dez por cento, então o livro passará a custar cinquenta
reais, ou mais. E logicamente as vendas serão inviabilizadas pelo preço. Quer
dizer, quem escreve fica praticamente alienado de seu produto, pois o grosso da
lucratividade fica com a editora.
A verdade
é que nesse país de tantas contradições, a literária é apenas mais uma. Porém a
mais gritante: uns escolhidos que sobrevivem da literatura e tantos outros que
nem esmolas recebem. E nenhum país será culturalmente reconhecido com apenas
alguns homens e seus livros, eis que os verdadeiros guerreiros das letras
continuam excluídos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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