*Rangel Alves da Costa
O amor pelo Palmeiras certamente nascido
pelos olhos do coração. Mas qual a cor de sua camisa, qual a cor de uma bola,
como são as vestimentas dos jogadores, o que contém a sua bandeira, como é um
campo de futebol, como dois times se confrontam, como são as pessoas presentes
ao estádio, quais as cores ali presentes? Perguntas que não serão respondidas
pelos olhos do garotinho que no último domingo acompanhou, ao lado da mãe, a
partida de seu Palmeiras contra o Corintians.
Completamente cego, o menino, depois
identificado como Nickollas, de 11 anos, acompanhou todo o jogo através de sua
mãe, dona Silvia. Ela, além de mãe carinhosa, cuidadosa, verdadeiramente digna
de ostentar o nome de mãe, passou a ser a visão do próprio filho. Juntinho
dele, pacientemente ia narrando cada lance do jogo, cada emoção da partida. A
imagem captada pelas câmaras televisivas simplesmente mostrou não o inesperado,
mas uma cena de impressionante comoção.
Os dois devidamente uniformizados, o garotinho
vestido em camisa com um dos símbolos mais antigos do Palmeiras, apenas com o “P’
estilizado do Palestra de antigamente, parece imóvel na cadeira do Allianz
Parque (estádio do Palmeiras) onde está sentado. Sua mãe, com olhos voltados
para o campo, mas também ao filho, abre sua boca exatamente para narrar o que
acontece na partida. Com cegueira total, de olhos completamente fechados, o
garotinho Nickollas frui apenas as sensações do que lhe é repassado.
Talvez, num instante ou noutro, a mãe tenha
dito: “Olha filho, o Palmeiras está muito bem, está atacando mais que o
Corintians e certamente logo sairá um gol...”. E mais adiante tenha gritado: “Gol,
filho, gol do Palmeiras. Foi o Deyverson quem fez o gol...”. Com os arroubos da
torcida ao lado e ao redor, logicamente o menino saberia que o seu time havia feito
um gol. Contudo, só houve a certeza pelo grito e pela confirmação da mãe.
Somente ela possuía os seus olhos para tudo certificar.
Mas no tudo e no todo, imagens de mãe e filho
verdadeiramente comoventes. Não pelo fato de um menino cego ter ido acompanhar
uma partida de futebol junto com sua mãe, mas das cenas em si, das imagens
mostrando a preocupação da mãe em narrar tudo ao filho, do modo como a mãe se mostra
ao lado do filho, procurando transmitir com a maior fidelidade possível tudo o
que ocorria dentro do gramado e mesmo pelos arredores. Uma mãe que naquele
momento se torna os olhos do filho, que procura fazer com que seu pequeno não
se sinta tão distanciado daquilo que ama.
Mesmo com a voz da mãe, com a narrativa
paciente e cuidadosa de sua bondosa genitora, o que estaria se passando atrás
do véu daqueles olhos fechados? Imagens, ilusões, distorções, realidades, tudo
aquilo que é possível uma mente imaginar quando os olhos nada podem confirmar.
A noite eterna do cego, mas o brilho eterno do cego. Olhos que não veem, mas olhos
que avistam a realidade e suas cores através daqueles que lhes guardam
compreensão e amor. Principalmente o profundo amor.
Assim Nickollas, o menino cego e torcedor. De
olhos fechados, apenas sentindo, certamente enxergou mais que mil olhos
abertos, e todos com luz. Avistou, através de sua mãe, o mundo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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