SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 22 de setembro de 2018

Palavra Solta – fim de tarde num mundo chamado sertão



*Rangel Alves da Costa


Estou no sertão. Estou nas distâncias sertanejas de Poço Redondo, no sertão semiárido sergipano e meu berço de nascimento. Já é fim de tarde, ou a boca da noite como se diz por aqui. O sol já se foi em sua pujança de fogo e queimor. As nuvens se acinzentam, dissipam-se pelos espaços. Os horizontes já perderam o avermelhado abrasado tão próprio do entardecer. A última arribação já passou. Pássaros em seus ninhos e mataria em silêncios sussurrantes. O negrume se aproxima. As cores da noite abrem suas portas à lua grande, aos astros noturnos, aos voos das estrelas. A cidade toma-se por um manto saudoso, nostálgico, entristecido. Os cafés já estão sendo preparados nas cozinhas. Os pães estão sendo colocados sobre a mesa, e talvez o cuscuz e outras comidas. O cheiro do café sobe pelos ares, sai pela porta da frente e vai fazendo a festa aromatizada por todo lugar. As mãos em prece para a oração da noite. Velas acesas, deuses rogados, um Deus venerado. As mãos passando as contas do rosário. A fé, a fé. Hoje o sino da igrejinha talvez não brade. Ainda assim ele sempre ecoará nas mentes sertanejas tão abnegadas de fé e religiosidade. Vento soprando, uma porta aberta, a lua. E a magia da noite começa assim.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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