*Rangel Alves da Costa
Estou no sertão. Estou nas distâncias
sertanejas de Poço Redondo, no sertão semiárido sergipano e meu berço de
nascimento. Já é fim de tarde, ou a boca da noite como se diz por aqui. O sol
já se foi em sua pujança de fogo e queimor. As nuvens se acinzentam,
dissipam-se pelos espaços. Os horizontes já perderam o avermelhado abrasado tão
próprio do entardecer. A última arribação já passou. Pássaros em seus ninhos e
mataria em silêncios sussurrantes. O negrume se aproxima. As cores da noite
abrem suas portas à lua grande, aos astros noturnos, aos voos das estrelas. A
cidade toma-se por um manto saudoso, nostálgico, entristecido. Os cafés já
estão sendo preparados nas cozinhas. Os pães estão sendo colocados sobre a
mesa, e talvez o cuscuz e outras comidas. O cheiro do café sobe pelos ares, sai
pela porta da frente e vai fazendo a festa aromatizada por todo lugar. As mãos
em prece para a oração da noite. Velas acesas, deuses rogados, um Deus
venerado. As mãos passando as contas do rosário. A fé, a fé. Hoje o sino da
igrejinha talvez não brade. Ainda assim ele sempre ecoará nas mentes sertanejas
tão abnegadas de fé e religiosidade. Vento soprando, uma porta aberta, a lua. E
a magia da noite começa assim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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