*Rangel Alves da Costa
Seu Cirineu tem um chapéu que voa. Não tema
asas, não é movido a dispositivo que o faça voar, mas voa o chapéu de Seu
Cirineu. O velho sequer sabe por que assim acontece. Na verdade, ele nem sabe
se o seu chapéu voa. Mas sempre acontece ao entardecer quando o velho sai à
malhada de sua casa, lá nos confins do fim do mundo, e se põe a imaginar a vida
e a pensar em tudo. Viúvo, solitário, diz a si mesmo que ainda tem forças até pra
voar. E também pra fazer peraltices. Por isso mesmo que quando está ali na
malhada, distante de olhas forasteiros, ele de repente corre, de repente pula,
de repente brinca feito uma criança. E quanto mais o vento sopra mais ele pula,
quer dar cambalhotas. E é quando seu chapéu voa. Sai de sua cabeça, toma os
ares, esvoaça e vai voando. E sem chapéu, o menino-velho vai fazendo suas
traquinagens de virar-mundo de cabeça pra baixo. Quando se cansa de tudo, de
tanto reviver e tanto brincar, retoma sua idade, sua existência, sua real
situação. E então chora. Chora muito. As lágrimas nunca caem ao chão, mas sobre
o chapéu que já pousou como mão acolhedora daquela tristeza.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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