*Rangel Alves da Costa
Neste domingo, retornando do sertão em ônibus
de linha, eis que de repente um jovem sentou ao meu lado. Feição entristecida,
melancólica, mas deixei pra lá, pois se tratando de um desconhecido. Logo ele
cochilou, mas adormecimento rápido. Em seguida ouvi de sua voz que tentava
dormir para esquecer e não havia jeito. Então, mesmo não querendo me intrometer
demais, perguntei o que estaria acontecendo. “Separei da mulher!”. No mesmo
instante fiquei historiando toda aquela situação em minha mente. Ele tão jovem
e certamente ela ainda em plena flor da juventude, casados e já separados, foi
o que fiquei imaginando. Na condição de advogado, mas sem querer falar sobre
minha formação, apenas perguntei se haviam separado judicialmente ou não. “Não,
saí de casa. Brigamos e saí de casa. Agora estou pensando em ir embora para bem
longe. Só assim não volto nunca mais”. As palavras dele. Daí em diante eu tentei
mostrar que era somente uma situação passageira, coisa própria de casal, mas
que logo chegariam a um acerto e tudo voltaria à normalidade. Fiz, então, a
pergunta fatal: Tem filhos. A resposta foi que havia uma criancinha de apenas
dois anos em meio essa história toda. O que fiz então foi reorientar minhas
palavras, colocando agora a filha como fator fundamental para a resolução do
problema. Mas ele insistiu dizendo: “Ela é complicada demais, é mais dura que
pedra, nunca reconhece um erro...”. Sei como é difícil ter e amar uma mulher
assim. Eu mesmo não sou casado, mas tenho uma namorada que certamente é dois
milhões de vezes mais complicada que a esposa daquele jovem.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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