*Rangel Alves da Costa
Sou
sertanejo das distâncias, lá do sertão sergipano, e cada sertanejice que vejo
me deixa mais soberano. Na feira o pote e o abano, roupa feita e pedaço de
pano, prosa de fulano e sicrano. Um cheiro de coisa boa, tanta fruta que
amontoa, carne de gado e leitoa, tudo pra escolher dependendo da pessoa. O
vendedor de farinha, o tempero da cozinha, capão gordo e galinha, e também
peixe sardinha. Pote de barro e moringa, garrafa cheia de pinga, lavanda que
aberta respinga a bela flor da caatinga. Panelada de comida igual a que Jarde
fazia, a fome se faz desabrida e pede comida em bacia. Manoê e macasado, pastel
no óleo assado, caldo de cana gelado. Rolo de fumo e sal grosso, um
converseiro, um alvoroço, coisa tão própria do Poço. E o vendeirim vai
chegando, quase falando e cantando, pra vender o seu milagre que no tabuleiro
vem carregando. Remédio pra espinhela, remédio pra dor na goela, pra curar
erisipela, pra apaixonar a donzela. Tem óleo de peixe boi e pomada milagreira,
cura ferida e frieira, o machucão da brincadeira. Tudo isso me encanta e me faz
mais sertanejo, amo tudo o que vejo e de tudo tenho desejo, mas o que eu mais
queria é que daqui a cem anos e dia as futuras gerações sentissem a mesma
alegria.
E no meio
da feira ainda ouvir aquilo que o coração quer sentir:
Eis o
cordel da donzela
moça flor
de maior formosura
que vivia
na sua janela
na mais
sublime compostura
se achando
a Cinderela
queria um
príncipe à altura
mas um dia
a tão singela
eis que se
danou em loucura
chamava
moringa de panela
de lua
brilhosa em escura
e saio no
mundo pela cancela
dizendo
ser o príncipe sua cura
tanta
loucura era a dela
que tudo
se fazia em amargura
todos
pranteavam por ela
e ela na
naquela clausura
um dia
subiu no altar da janela
e foi deu
adeus à sua brandura.
O cordel
vai sendo cantado e passado de boca em boca. Tudo ali é muita coisa, nada de
coisa pouca. Conta-se a história da viúva e as aventuras da louca, o que
importa é contar até a voz ficar rouca. Também grita o vendeirim querendo vender
o seu mel, mas logo se ouve um escarcéu entre duas sertanejas rasgando papel e
véu, tudo por causa de macho e o seu belo chapéu. Arroz doce e mungunzá, erva e
folha pra chá, nambu gorda e bonita e a perna de preá. Bala doce e pirulito pra
molecada chupar, manga doce e cajá, broa de milho e juá. Tem de tudo nessa
feira, de coisa séria a besteira. Mas ninguém perde uma só, e se falta o
dinheiro é coisa de fazer dó, querendo comparar um tiquinho e do tempero nem o
pó. Vá lá você mesmo e veja, escolha o que mais deseja, duvide que não volte de
novo onde a melancia esteja.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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