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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 30 de março de 2011

TER APENAS O QUE TENHO (Crônica)

TER APENAS O QUE TENHO

Rangel Alves da Costa*


Ser contente por ter apenas o que tenho e além disso ser eternamente agradecido por ter a vida e nela ter apenas o que tenho.
Ter apenas o que tenho, quando os outros dizem que tenho tão pouco ou quase nada, mas não sabem da minha felicidade por ter tanto nessa medida do que tenho.
Apenas ter o que tenho e querer sempre ter mais, porém sem sentir que é pouco o que tenho e não querer além do que realmente necessito ter.
Apenas ter o que tenho e espalhar pelo mundo essa alegria e satisfação por ter tanto no que tenho e desse tanto ainda ofertar ao próximo por não fazer falta ao que tanto tenho.
Ser imenso e tudo pelo que tanto tenho, humildemente orgulhoso pela riqueza que tanto tenho, com infinita riqueza no que tenho e mais posso ter, pois tudo que é acrescido ao ter de quem é agradecido pelo que tem é uma imensidão que se tem sem ter que ser vista por ninguém.
Ter apenas o que tenho como a planta que se farta no pingo e não na trovoada; como a rica manhã que surge num pontinho distante de luz; como o beija-flor que escolhe uma flor e não um jardim; como o faminto que agradece o pão e não exige o prato; como aquele que ouve a palavra e não o grito; como o amor imenso que se satisfaz na presença; como a dor que não aceita remédio e apenas um toque de mão.
Ter apenas o que tenho porque tenho demais e me satisfaço e me basto. Tenho paz, saúde, esperança, coragem e fé. Tenho Deus a meu lado, tenho santos e anjos, tenho crenças e realizações.
Ter tanto no que tenho e ter a certeza que terei aquilo que um dia possa me faltar. Se tenho fome me contento com o alimento que tenho; se tenho sede fico saciado com a água da moringa; se tenho frio me veste e acolhe qualquer roupa que tenha; se tenho falta de alguma coisa tenho onde buscar porque sei onde terei: dentro de mim mesmo, no meu esforço, no meu trabalho.
Ter apenas o que tenho porque também tenho as manhãs, os dias e as noites; minhas estações são iguais às outras estações que se tem; minhas plantas também adormecem e orvalham; minhas alegrias são desses poucos motivos que tanto tenho.
Tanto contentamento pelo que tanto tenho é porque não existe aquilo que não posso ter. Coisas existem que sei que tenho demais, como a certeza de tanto ter, tanto respeito ao outro que merecer, tanto amor ao ser que me queira ter.
Tenho muito e tenho na medida e mais porque tenho um nome e sobrenome que não desonram a honra que tenho nem outra raiz desse nome que eu possa fazer, pois se o homem é a medida do que é e a família que possa ter, então a máxima felicidade é o alcance desse tudo que se possa ter.
Ter apenas o que tenho e por isso mesmo não ter nada do que reclamar é ter a consciência de que nascemos sem ter para ter tudo aquilo que nos é designado ter, pois está escrito:
“Não seja o vosso adorno o que aparece externamente: cabelos trançados, ornamentos de ouro, vestidos elegantes; mas tende aquele ornato interior e oculto do coração, a pureza incorruptível de um espírito suave e pacífico, o que é tão precioso aos olhos de Deus” (I Pe 3 4,5).
“O fogo queima na proporção da lenha que há na floresta; a ira do homem inflama-se na medida de seu poder, e desenvolve-se em proporção de sua riqueza” (Ec 28,12).
“Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça. Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará. Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que tem” (Mc 4 23,28).
“Finalmente, tende todos um só coração e uma só alma, sentimentos de amor fraterno, de misericórdia, de humildade” (I Pe 3,7).





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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