SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 5 de maio de 2013

ENTRISTECIDA (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Quem a avistasse não tinha outra sensação: ela estava triste, entristecida. O problema é que vinha assim desde muito.
Imaginaram ser algo passageiro, mas não. O outono passou e ela continuou abatida, melancólica, infeliz.
Mas não havia motivo algum para ser assim. Afinal, tão jovem, bonita, um verdadeiro encanto aos olhos de qualquer um. Porém sem palavras, sem sorriso, sem qualquer contentamento no semblante.
Não adiantava fugir das pessoas, da família, dos amigos. Quando se trancava no quarto, as paredes pareciam olhá-la piedosamente; a cama e o travesseiro só faltavam perguntar por que vivia assim tão descontente e amargurada.
Ela sabia que sentiam assim, e dava graças a Deus porque ainda não tinha sido interrogada pelos objetos do seu próprio quarto. Não tinha o que responder, intimamente sabia. Contudo, não teve a mesma sorte lá fora, adiante da janela, ao redor de casa.
Verdade é que fugindo das pessoas costumava se afastar de casa e ficar sozinha ao lado das plantas, sentada no banco do jardim ou mesmo em cima de uma pedra que havia por ali. E foi diante desses seres inesperados que teve de revelar seus sofrimentos.
Ao tocar numa flor, ouviu: Por que vive tão triste?
E respondeu: Não sou triste, apenas não escondo o que me aflige. E nem me faça revelar um dos motivos para minha aflição.
A flor insistiu: Não revele, mas você não tem motivo algum para ser assim. Parece uma flor da mais bela das estações...
E já lacrimejando ela falou: Flor, bela flor. Menina que mais parece uma flor. Oh quanto isso me dói ouvir isso. Nem imagina o quanto eu queria ser uma flor. Mas não para que alguém chegasse, me achasse bonita e me arrancasse do galho, e ser destruída instantes depois. E sim pela paz que transmite e pelo aroma sublime que exala...
Saiu chorosa, de cabeça baixa, sem ao menos ouvir o que a flor lhe tinha a dizer. E mais adiante sentou no banco tomado de folhas secas. Estava mais triste ainda quando, de repente, ouviu de uma folha ao lado:
Oh minha linda, não cabe em ti tanta tristeza. Dê-me um sorriso que direi quantos jardins há em teu semblante...
Ao abaixar a cabeça e olhar quem falava, acabou molhando a folha com uma lágrima. E disse:
Mas não estou nem sou triste. É que não vejo nem sinto nada que me traga alegria, me faça sorrir ou me diga que amanhã será bem melhor. Apenas sou verdadeira, e se choro é porque meus olhos desejam assim.
Ao que a folha retrucou: Acredito nas tuas palavras, pois não posso desacreditar quem não tem motivos para mentir. Contudo, sei que as lágrimas escorrendo dos teus olhos possuem outros motivos.
Então disse a mocinha: Oh mundo, oh vida. Jamais deveria revelar isso. Eu queria simplesmente ser igual a você. Sim, uma folha, uma folha seca, uma folha morta, mas que fosse lembrada por qualquer ventania da vida e levada para bem longe...
Disse isso e levantou no mesmo instante, deixando a folha completamente encharcada de lágrimas. E seguiu adiante, dando voltas pelos arredores, cada vez mais chorosa e entristecida.
Estava nesse intenso lacrimejar quando ouviu uma voz. Olhou para o lado e avistou a pedra onde costumava sentar para alimentar seu entristecimento. E da pedra ouviu:
Nada perguntarei sobre sua tristeza. Conheço em passo e remanso cada laço desse lacrimejar. Sobre ti, silenciosamente ouvi e tudo senti. Mas agora decidi ser igual a você. Vou inventar uma tristeza e sair chorando por aí. Quer chagar até aqui e tomar o meu lugar?
Não. Respondeu a mocinha.
Mas a pedra insistiu: Serás a pedra e eu serei a flor que tu és. Venha para o meu lugar, venha ser pedra. Levantarei agora e tomarei seu belo semblante, seu jeito doce e sublime, seu rosto florido.
Não, não quero ser pedra. Disse a mocinha. E do rochedo ouviu: Mas parece uma pedra. Não sabe nem sorrir. Não sabe nem cantar.
Sei. Respondeu a mocinha. E depois sorriu e cantou. E gostou de sorrir e cantar. E novamente sorriu e cantou. E a pedra chorou de felicidade.
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com   

2 comentários:

Nal Pontes disse...

Oi, só hoje é q descobri seu blog. já estou seguindo aqui. Obg por seguir meu cantinho. Te convido a conhecer o meu outro cantinho. Dei uma olhada na sua crônica, li só o começo, estou ocupada agora, mas volto para ler outra hora, quero ver o final. Desejo um domingo maravilhoso na preseança do Senhor Jesus. Um abraço.

LAO disse...

es un placer leer tus bellas palabras amigo Biogranel, tienes mucho mensaje