SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 26 de maio de 2013

NEGRA LINDA (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Bem poderia dizer, minha negra linda, como dito por Sulamita no Cântico dos Cânticos: Sou negra e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como as cortinas de Salomão...
Olhos de lua e pele na beleza da noite. Negra, negra linda. E por mais dizer: a mulher sem véu e na pureza cristalina da ternura.
Um dia ela passou por mim; outro dia eu passei por ela. Espero ansiosamente o dia que haja um encontro sem que ela venha e eu vá, mas de dois que caminham sabendo o que desejam encontrar.
Não possui olhos de lua não. Seu brilho depende do estado de espírito, do sorriso na alma, do contentamento a que se entrega. Na última vez que a vi, seus olhos possuíam um brilho encantadoramente diferenciado. Será que quer namorar comigo?
Não, negra linda, não me queira ainda como namorado não. E não antes que eu escreva os poemas que preciso eternizar, não antes que eu busque mil flores no jardim, jamais antes que eu faça uma serenata debaixo de sua janela. E também não antes que me faça merecedor do seu amor.
Tenho pensado muito em você, negra linda. Gosto de avistá-la com a ventania desgrenhando seu cabelo levemente encaracolado; gosto de vê-la mordendo a maçã e ficar com batom da fruta nos lábios; gosto quando olha a paisagem do entardecer e sorridente abre os braços.
Negra linda, minha negra. Já percebi que gosta de usar adornos e bijuterias, mas tudo tão simples e bonito que parecem artesanalmente feitos para o seu jeito de ser. Miçangas, colar de conchas, pluma de avestruz como brinco, uma flor no cabelo.
Por que tanto gosta de andar descalça, saltitante em cima das pedras nuas? Ah, se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes...
Encomendei uns presentinhos e acho que haverá de gostar. Estou esperando uma concha de mar sem segredos, uma rede bonita de corda de caroá, uma garrafa trazida pelas águas e com uma carta de amor bem antiga, uma folha ainda com o orvalho, uma cuia de araçá bem docinho.
Mas queria mesmo presenteá-la com um pedaço de nuvem, um buquê de estrelas, um jardim de primavera, um sol no meio da noite, uma lua cheia antes do entardecer. Tudo isso você bem merece.
Ontem passei por aí e joguei por sua janela um papelzinho embrulhado. Procure-o se não encontrou ainda. Encontre, pois é um poema escrito enquanto a chuva caía e eu imaginava você debaixo dela, dançando a alegria da vida.

Açaí amora sem roupa
bela nudez de mulher
minha negra linda
e seu jardim florido
me fazendo faminto
me fazendo sedento
ávido por beijar a fruta
no virgem pomar
doce sabor de desejo
um suave saborear
mel que na boca festejo
gosto sublime de amar.

Eis, negra linda, o que consegui escrever e chamei de poema. Não sei se vai gostar ou não, mas tenho certeza que ficaria bem melhor se eu o declamasse como um segredo, bem pertinho de sua face.
Mas também corria o risco de apenas dizer “te amo”.

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Ateliê Tribo de Judá disse...

Ela vai amar ...ô se vai...totalmente lindo em palavras e gestos.
Desejo-lhe uma linda semana.
beijos
Joelma