Rangel Alves da
Costa*
Diferentemente
do jornalista que precisa produzir quase diante do fato, ou mesmo transcrevendo
o acontecimento, o escritor necessita de instante apropriado para criar. E
creio que é na solidão que a maioria se lança na busca de motivos, passa a
dialogar com situações e personagens.
Contudo,
bem sei que cada um possui seu jeito próprio de escrever. Mas também sei que
dificilmente a solidão e o silêncio não estejam presentes no ato da criação.
Imagino ser impossível viajar profundamente tendo interferências prejudiciais
ao redor.
Daí que
imagino o escritor como um ser eminentemente solitário. E de solidão
angustiante, vez que tem de provocar essa situação sob pena de perder-se na
multidão de qualquer obstáculo criativo.
E
angustiante também por outros motivos. Em muitas situações, a angústia já é
pessoal, já faz parte do escritor, e por isso mesmo ele procura desafogar-se
dividindo agonias e aflições com seus personagens.
Noutras
ocasiões ele apenas reflete o mundo que cria. Interage tão profundamente com
aquilo que gesta que de repente já não é mais ele, senão um ser preso às
amarras de um destino ainda indefinido. O problema maior é que o escritor tende
a se tornar num ser amargurado e entristecido.
Mas a
angústia maior está mesmo no ato da criação. Não só no ato de dar vida a
personagens, colocá-los num mundo, fazer com que tenham destinos que se
entrelacem ou distanciem, mas também pelo local ideal para que tudo isso possa
ser feito.
Ora, não
conheço escritores que encontrem a magia da escrita nas lan-house da vida ou em
ambientes barulhentos e festivos. Letras fortes não se sustentam ao desvão;
temas profundos não se firmam ao acaso. Deve haver um intenso comprometimento
entre o escritor e o mundo esculpido na pedra da eternidade.
Contudo
sei que muitos são capazes de magistralmente criar em qualquer ambiente e
situação. Poetas sentam em mesas de bares e esquecem que o mundo existe ao redor;
cronistas rabiscam situações cotidianas perante os fatos mais inusitados;
romancistas apreciam janelas das paisagens para situar sua obra.
Diferentemente
do ato de escrever, que deve ser quase como um exercício prisional, a busca de
inspiração não exige tanto recolhimento. Vejo Jorge Amado passeando pelos cais
da Bahia em busca de personagens; vejo Graciliano lançando o olhar pelas
vastidões ressequidas para criar os caminhos de seus retirantes; vejo Quintana
ao entardecer passeando pelas praças solitárias.
Muitas são
as janelas abertas pelo escritor e que nelas se debruçam em torno de visões e
imaginações. Em seguida fecha as janelas, cerra os cortinados da paisagem
adiante, e se põe, na escuridão necessária, a acender faróis nos beirais
distantes em dias chuvosos. Está entristecido, talvez necessite de um trago,
mas certamente caminhará até a rebentação.
E tenho
agora em mente a localização ideal dessa ambientação um tanto sombria,
solitária e silenciosa do escritor. E é isto mesmo que você imagina. Apenas um
local de recolhimento, de silêncio e esquecimento do mundo lá fora.
Que tenha
uma janela ao lado, um jardim de cor ou esmaecimento, uma luz acesa ou
claridade solar, ou que seja na mesa ou escrivaninha colocada num canto
qualquer. Tanto faz, eis que a ambientação terá um só formato: alguém sozinho,
vagando em pensamentos, tomado de angústias tantas que será difícil trazê-lo de
volta à realidade de outras angústias.
Um copo
bebido, um cigarro apagado, um escrito rasgado, uma folha caída. Triste,
silêncio e solidão. E alguém praticamente esquecido em meio a esse cenário. Eis
que se desfaz e se corrói para fazer surgir outros mundos, outras realidades.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
2 comentários:
Caro Dr. Rangel: O meu boa-tarde.
Certamente este não é o espaço correto para comentar sobre o livro VIDA E OBRA DE ALCINO COSTA. Mas, como sou péssimo em passar e-mail, peço permissão aos leitores do BLOGRANGEL-SERTÃO, para em breves palavras comentar sobre o referido livro.
EM ANEXO
Antonio Oliveira - Serrinha
PERSONAGEM DE UMA VIDA FRUTÍFERA
Comentar o livro TODO O SERTÃO NUM SÓ CORAÇÃO - Vida e obra de Alcino Alves Costa, é de indubitável facilidade. Isto porque, o ilustre e experiente escritor Rangel Alves Costa, transmitiu para seus leitores todo o percurso da vida do mestre Alcino, numa didática completamente compreensível para todas as classes que amam a leitura.
"Fico a pensar como seria o sertão nordestino se Deus não tivesse nos presenteado com Alcino Alves Costa. Com certeza seria imensamente pobre, além de menos conhecido". Estas são as palavras do Psicólogo e Pesquisador Júlio Cesar Ischiara.
Concordo plenamente com o nobre pesquisador Ischiara: Alcino, com o excelente desenvolvimento da sua inteligência, proporcionou e legou imensa riqueza para nós, pesquisadores, para sua querida gente de Poço Redondo, e para a Sociedade nordestina e brasileira.
O mestre Alcino não foi apenas um profícuo pesquisador e escritor, mas, foi muito além: Poeta, compositor, radialista, político competente, e enfim - um grande amigo. E, ainda fazendo minhas as palavras do Dr. Julio Ischiara, devo dizer: O mestre Alcino deixou muita saudade.
Mas, como descrever algo sobre o livro de autoria de Rangel, sem fazer alusão às primeiras páginas do mesmo, na introdução do Delegado e Escritor Arquimedes Marques com a sua experiência de longos anos na escrivaninha de um gabinete de delegacia de polícia e mesmo no silêncio do escritório de sua residência, dando vida às ideias dos seus escritos, sejam artigos ou livros.
Arquimedes fala da sua honrosa incumbência em elaborar a introdução de uma biografia tão merecida de um personagem que fez história, numa trajetória de bem vividos SETENTA E DOIS ANOS neste Planeta Terra, logo que, vivo ele continua em outra Esfera de vida.
Arquimedes fala: "A história do pai contada pelo filho é uma história real". E, "Quem herda não furta", são ainda suas palavras sobre a dupla de poetas: Rangel (filho); Alcino (pai).
Quando leio os escritos do Dr. Rangel, muitas vezes me confundo, pensando que estou lendo ALCINO, pela grande semelhança do poeta e escritor pai, com o poeta e escritor filho.
Na introdução, o Dr. Arquimedes começa fazendo um relato dos grandes feitos da vida do seu amigo Alcino, e, o autor do livro não oculta nada da trajetória do biografado, nem mesmo ter sido Alcino, sobrinho do ex-cangaceiro Zabelê, que, após abandonar o cangaço, aquele "pássaro" levantou asas em direção a terras desconhecidas, onde nunca mais a família teve notícias do seu paradeiro.
O amigo Alcino, (gestor do seu município por três vezes), veio a ser, salvo melhor juízo, o mais novo prefeito da sua terra nos tempos passados: Aos 26 anos, eleito Prefeito de Poço Redondo; novamente aos 32 anos; depois, aos 42 anos. Comprovação que soube fazer uma grande administração.
Outra coisa que admiro em Alcino: Possuindo apenas o curso primário, deixou um grande legado de produções, e teve o cuidado e a responsabilidade de formar médicos, advogado e engenheiro, alguns dos seus filhos, inclusive o autor desta grande obra - Advogado Rangel Alves Costa.
Abraços para o amigo Rangel, na passagem de um ano da transferência de seu pai para Eternidade.
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha - Ba.
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