Rangel Alves da
Costa*
A dor e a
tristeza de um ano atrás fizeram, pelos caminhos da superação e do
reconhecimento, que este 1º de novembro se transformasse num dia muito,
muitíssimo especial. Eis que os eventos alusivos a um ano de despedida terrena
de Alcino Alves Costa, O Caipira de Poço Redondo, acertadamente abdicaram de
toda relembrança dolorosa e melancólica para se transformar numa grandiosa
comemoração pelos seus grandes feitos.
A ideia
surgiu do Padre Mário, um grande amigo de Alcino, que mesmo não estando mais
prestando os serviços sacerdotais na Paróquia de Poço Redondo, decidiu que
deixaria as distâncias e retornaria à cidade especialmente para tornar a data
num evento sem igual em todo o sertão sergipano. Entrou em contato com
familiares e disse o que desejava ter nesse dia: uma celebração da vida daquele
que foi um verdadeiro guardião da história e da cultura do sertão.
Padre Mário |
No dia
anterior e o Padre Mário já se fazia presente na cidade, sempre alegre e
acolhedor, cheio de luz e encantamento, adorado indistintamente por todos, um
jovem pregando os ensinamentos divinos a partir de uma cadeira de rodas, pois
acometido de deficiência física que o impede de normalmente caminhar. E para
sua imensa satisfação, eis que tudo saiu conforme o combinado.
A partir
das cinco da manhã fogos de artifício anunciaram que as comemorações estavam
sendo iniciadas. As portas começaram a se abrir e as pessoas foram saindo de
suas casas e seguindo em direção à Praça da Matriz. Nesta, uma banda marcial já
estava em formação para dar início à alvorada festiva. E daí em diante as
caixas, trompetes, tambores, clarinetes e outros instrumentos, começaram a
espalhar pelos quadrantes da manhã aquelas músicas sertanejas tão apreciadas
por Alcino.
Em
seguida, após passar defronte à residência de tantos anos do Caipira de Poço
Redondo, todos seguiram rumo ao cemitério local. No campo santo, a visita ao
túmulo e outras homenagens emocionantes. Após as dez foram iniciadas as visitas
ao memorial provisório, cujo acervo é composto de originais de obras escritas
por Alcino, manuscritos, correspondências, fotografias, além de objetos
pessoais e placas recebidas como homenagens.
Neste
acervo, exposto exclusivamente para as comemorações, destacam-se os discos em
vinil de música caipira, os livros publicados, as obras sobre o cangaço que
serviam de leitura e pesquisa, e até “bonecas” de livros que ainda não foram
publicados. Banners e fotografias enfeitavam as paredes e objetos típicos do
sertão, além de plantas cactáceas, deram ao ambiente a rusticidade sertaneja
tão admirada por Alcino. Os visitantes foram muitos, mas principalmente uma
imensa leva de estudantes que chegavam para conhecer relíquias daquela pessoa
tão importante no seu lugar.
Às quatro
da tarde a cavalaria sertaneja se reuniu defronte a Igreja Matriz. Cavaleiros
enfeitados, com lanças e imponência sem igual, estavam prontos para a
cavalhada. Cada aproximação da dupla de cavaleiros à entrada da matriz, com
homem e animal se curvando em devoção, formava uma cena de indescritível
beleza. E em seguida o aboio entoado do cavaleiro escolhido para cantar os
feitos do grande homenageado.
Alcino Alves Costa |
Pelas ruas
e em todo lugar, o ecoar das canções sertanejas compostas por Alcino. E todos
aguardando ansiosamente a hora da missa. E que momento mágico a celebração
comandada pelo Padre Mário, acompanhado do igualmente iluminado Padre Murilo.
Com a igreja completamente tomada, pessoas em lágrimas e até desmaiando e
outras absorvidas pela grandiosidade do momento, eis que surgem as vozes
caipiras acompanhadas de violas, eis que surgem as velhas beatas entoando as
rezas antigas escolhidas ao gosto do homenageado.
A igreja, ornamentado
com banners e motivos sertanejos, proporcionava uma sensação da presença do
próprio Alcino. E então Padre Mário se pôs a fazer com que os corações
apertassem, as bocas silenciassem trêmulas e os olhos lacrimejassem. Um sermão
para ficar eternamente guardado no coração de cada sertanejo, pois o sacerdote
parecia mais iluminado do que tudo naquele momento. E depois as palavras de
familiares e amigos e outras apresentações tipicamente sertanejas.
Após a
missa, já passando das nove da noite, dois eventos defronte a matriz: a
apresentação de um grupo de xaxado e o lançamento da biografia do grande mestre
sertanejo, além de farta comida típica para os presentes. Uma noite realmente inesquecível.
Um dia que foi a verdadeira feição de Alcino. E certamente ele estava por ali
todo contente, de sorriso largo e havaiana nos pés.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Pois é Dr. Rangel, o mestre ALCINO ALVES COSTA merecia exatamente um evento do porte que você, os amigos e a Cidade de Poço redondo realizaram nesse final de semana. Creio também que o livro A BIOGRAFIA de Alcino terá uma grande aceitação por parte dos nossos Nordestinos, uma vez que o mesmo foi escrito numa didática de fácil compreensão, demonstrando todos os passos da vida do CAIPIRA DE POÇO REDONDO. Parabéns aos coordenadores do evento.
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha-Ba.
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