SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 31 de maio de 2013

TEMPOS DISTANTES (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Segundo Lord Byron, todos os tempos, quando passados, são bons. Acrescento apenas que talvez pelo reconhecimento e valorização daquilo que ficou para trás. O passado é bom à medida que vale a pena reencontrá-lo.
O novo, o agora, dificilmente é visto como algo exemplar, como vivência que mais tarde será boa saudade. Somente na peneira das realizações é que as ações se tornam dignas de relembranças. Há, pois, um recorte nos acontecimentos, deixando que apenas uma parte seja o reflexo de tudo.
Os retratos e fotografias, as cartas e os bilhetes, pequenas joias e bijuterias, embrulhos com seus segredos, pequeninas lembranças guardadas em baús, se tornam tão essenciais na relação entre presente e passado pelo valor sentimental proporcionado pelos anos.
O que ficou para trás é rebuscado por uma imperiosa necessidade de existência presente. Ao se sentir no vazio dos dias e na nulidade nas realizações, a real importância do ser humano só é reencontrada perante os feitos passados.
Assim, o passado é a outra pessoa que ninguém quer afastar de si, pois sendo verdadeiramente ela mesma e espelhando o melhor que há. Por isso mesmo que os retratos e as cartas passadas possuem o dom da renovação espiritual, ainda que de maneira dolorosa e triste.
Mas é compreensível a aflição e o entristecimento no reencontro com o passado. Ali os laços familiares, as primeiras raízes, os amores deixados para trás, os encontros desencontrados, toda uma história que acabou permanecendo com aquela feição.
No reencontro, o desejo incontido de voltar no tempo para rever ou realizar de modo diferente muito daquilo que tomou outra feição. Ou mesmo apenas reviver cada passo de momentos felizes e inesquecíveis. Porém tarde demais, restando apenas enxugar a lágrima.
Mas não somente o tempo passado guardado em baús, em trancas e fechaduras, mas também o tempo da memória mental, do pensamento vivo a cada açulamento na relembrança. De repente, e se está imaginando algo muito distante, feito um dia ainda criança, praticado num inesperado momento.
E o passado também do espelho, da idade, do calendário, do tempo mesmo. Olhar-se diante do espelho e perceber as marcas, as mudanças, os cabelos brancos, os olhos com menos vivacidade, ou tudo aquilo que represente transformações no percurso de vida. Ah, quanto tempo já passou desde o sorriso diante da boneca de pano ou do carrinho de madeira envernizada!
A tabuada, o caderno de caligrafia, a professorinha, o banho nu debaixo da chuva, o cavalo de pau amigo da mataria, a casinha de boneca, a fruta do quintal do vizinho, a descoberta da sexualidade, o primeiro beijo, o primeiro amor. O primeiro tudo e a eternidade no pensamento. Daí o doce reviver de tais inesquecíveis momentos.
O tempo rememorado quando enxerga um vaso de flores, a cortina da janela balançada pela ventania da tarde, o café que cheira um aroma antigo lá na cozinha, a cristaleira ainda mesma do tempo da mamãe, a cadeira de balanço ainda do tempo do papai. E aqueles retratos em preto e branco na parede, aqueles sorrisos distantes, aqueles olhares profundos e tão presentes.
Há o velho banco no jardim, a árvore frondosa que ainda persiste no quintal, os velhos discos guardados em mala de couro. Há uma Bíblia marcada com folha seca, um caderno com receitas de bolo, um chapéu guardado num canto do guarda-roupa, um velho anel de noivado. E vozes que ainda ecoam na melodia da existência.
Tempos distantes, tempos passados. Mas o tempo não precisa ser tão envelhecido para ser saudade. A memória do ontem é a mesma daquela que rebusca primórdios. A validade da relembrança está na importância que se dá ao acontecido, ao ido, ao vivido. Por isso que o segundo atrás já pode ser visto como joia preciosa guardada em baú. Contudo, somente o tempo dirá por quê.
Por tudo isso não me nego em reencontrar o meu ontem. Compartilho presente e passado na necessidade de continuar existindo. Se sou o que sou agora é porque fui construindo a minha estrada, a minha feição. E nada do que eu trouxe e sou deixou de ser aquilo que veio primeiro, desde as primeiras raízes, desde um tempo muito distante.
  

Poeta e cronista
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Amor, meu amor (Poesia)



Amor, meu amor


Amor, meu amor
guardei a palavra
alegre e contente
para dizer agora
amor, meu amor

tantas vezes ouviste
a mesma palavra
amor, meu amor
mas jamais assim
depois da distância
depois da saudade
sem poder repetir
amor, meu amor...


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 270


Rangel Alves da Costa*


“Fim dos tempos...”.
“Fim dos dias...”.
“Mundo desumano...”.
“Mundo diferente...”.
“Contramão de tudo...”.
“Beirais de abismo...”.
“Fendas de precipício...”.
“Pai contra filho...”.
“Filho contra pai...”.
“Família desagregada...”.
“Inimigos no mesmo sangue...”.
“Veias que são cortadas...”.
“O pecado dentro da igreja...”.
“O padre em pedofilia...”.
“O martelo da justiça corrompido...”.
“A corrupção de toga e sentença...”.
“A criança que já é moça...”.
“A menina que engravidou...”.
“O menino sem brinquedo...”.
“Menino brincando de mundo...”.
“A religião movida a dinheiro...”.
“O pastor movido à cobiça...”.
“O fiel feliz com o engano...”.
“A miséria mudando de nome...”.
“A pobreza com outro conceito...”.
“Tudo enfeitado para o engodo...”.
“A fome continuando a mesma...”.
“O jovem sem tempo para viver...”.
“O jovem com tempo para morrer...”.
“A ilusão da vida na droga...”.
“O amanhã que não existe mais...”.
“Nada de respeito e cordialidade...”.
“Porque o mundo é de desconhecidos...”.
“Vizinhos não existem mais...”.
“Amigos desapareceram de vez...”.
“A desconfiança em tudo...”.
“O medo em todo lugar...”.
“A violência que grita e assusta...”.
“Os muros que não protegem mais...”.
“Os jornais sangrando...”.
“As notícias chorando...”.
“Tudo guerra e morte...”.
“Tudo miséria e dor...”.
“O tapa na cara do outro...”.
“A arma no momento seguinte...”.
“A morte apenas mais uma...”.
“A vida quase nenhuma...”.
“Um povo sem fé...”.
“Um povo sem oração...”.
“Um povo soberbo e egoísta...”.
“Um povo sem Deus no coração...”.
“Um resto da humanidade...”.
“Um resto de qualquer coisa...”.
“Nada que um sopro da ira divina...”.
“Não torne em labaredas...”.
“Ou faça de vez virar pó...”.
“Porque tudo pó...”.
“Mas nem isso é mais...”.
“Apenas imundície e sujeira...”.


Poeta e cronista
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quinta-feira, 30 de maio de 2013

O NINHO DO PASSARINHO (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Depois de muito tempo de voo procurando um galho seguro numa árvore frondosa, enfim o pássaro encontrou um lugar apropriado para construir seu ninho.
Fez inúmeros outros voos para juntar garranchos, folhas secas e tufos de algodão, e depois cuidadosamente erguer os costados de seu ninho. Um só vão, aberto, mas de profundidade adequada para deitar os ovos e chocá-los.
Uma moradia digna de um passarinho preocupado com seu futuro. Não demoraria para a filharada chegar e esta precisava nascer em ninho seguro, protegido das ameaças que rondavam por todo lugar.
Ameaças pelo ar e pela terra, e até pelo tronco e galhos da árvore. Gaviões malvados voavam em busca de ninhos desprotegidos e fáceis de destruir. Mas não sem antes quebrar os ovos e sangrar de morte as pequeninas vidas acaso existentes.
Mas também as cobras com suas crueldades silenciosas. Pareciam sentir cheiro de ninho, de ovos e de filhotinhos recém nascidos. Depois subiam sorrateiramente para engolir tudo. Quando o passarinho voltava não encontrava mais nada.
E eis que o pássaro construiu o seu ninho e nele depositou os seus ovos. Cinco, branquinhos e pequeninos. No momento certo, quando o tempo ficou mais quente e as nuvens começaram a mudar de cor, ele deitou em cima dos cinco e ali ficou transmitindo o calor da formação da vida.
Numa manhã sentiu fome e resolveu dar um rápido voo para procurar alimento. Não iria longe porque teria de voltar antes que a temperatura dos ovos esfriasse muito. Bicou numa fruta e noutra e depois voltou num rasante ligeiro.
Contudo, coisas terríveis aconteceram no breve instante em que se ausentou do seu ninho. Já duravam dois dias que uma cobra esperava o momento certo de agir. Primeiro permaneceu escondida embaixo sentindo o cheiro do ninho. Depois foi subindo devagarzinho no tronco, em direção ao abrigo passarinheiro.
Durante um dia inteiro procurou se ocultar por trás das folhagens, de modo a não ser avistada por aquele passarinho nem por nenhum outro. Acaso fosse descoberta corria o risco de ser alcançada pelo bico devorador e impiedoso do gavião. O gavião malvado mantinha uma inimizade profunda com todo tipo de cobra.
Escondida no seu lugar, deixando somente a cabeça fixamente voltada para observar o ninho, nem a língua cortada em tridente era colocada pra fora. Mas os olhos brilharam quando viu o passarinho alçando voo e deixando sua morada desprotegida. É agora, pensou a serpente. E seguiu se arrastando ligeira.
Assim que alcançou o ninho, de olhos brilhentos e agora açulando a língua num incontido e venenoso prazer, a cobra devorou, um a um, os cinco ovos. Deixou o ninho intacto porque ainda tinha outra maldade a fazer. Astúcia de víbora.
O passarinho ficou em tempo de enlouquecer quando pousou na beirada do abrigo e não avistou os ovos lá dentro. Sentiu o cheiro fétido daquela presença maldita, mas nem teve tempo de pensar em nada. Estava completamente tomada de desespero pelo acontecido.
Quando ia dar o primeiro pio de tristeza e dor foi vorazmente atacado pela cobra. Cantou sua última agonia já na boca venenosa. O bote foi tão certeiro que não havia como se esquivar, fugir, voar. E no instante seguinte as penas já estavam esvoaçando ao redor, caindo de cima da árvore.
Depois de cuidadosamente engolir o passarinho, a cobra espanou o ninho com o rabo e este se espatifou lá embaixo. Em seguida, de barriga cheia, resolveu que ficaria ali mesmo até fazer digestão.
Mas nem teve tempo de cochilar. De repente avistou o gavião malvado voando na sua direção. Seu algoz estava a caminho, o único pássaro que dilacerava cobras estava quase lhe alcançando. Então, sem saída, sabendo que iria ser morta, resolveu enfrentá-lo.
Quando armou o bote ouviu o pio do gavião dizendo que nem pensasse em atingi-lo. E ouviu também uma pergunta: Por que fez isso com o ninho, com os ovos e o passarinho? E ela mesma repetiu: Sim, por que fiz isso com o ninho, com os ovos e o passarinho?
Inesperadamente o gavião foi embora. E a cobra ficou se perguntando por que tinha feito aquilo com o ninho, os ovos e o passarinho. E depois, entristecida, disse que seria perdoada pela lei da natureza, da sobrevivência.
Mas não entendia porque os homens destruíam seus iguais, vez que sua sobrevivência obedecia a outras leis. E desceu da árvore e seguiu em busca de calcanhares humanos e dos seus ninhos dilacerados pelas suas próprias ações.
  

Poeta e cronista
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Para um menino poeta e triste (Poesia)



Para um menino poeta e triste


Pelos quintais deixei
pomares de uma doce infância
pelas calçadas larguei
as tardes embaladas ao vento
pelas ruas abandonei
os brinquedos e a reinação
por todo canto deixei
pedaços e marcas de ontem
porque achava que os dias
nada levaria tão longe assim

quero meu cavalo de pau
quero minha bola de gude
não avisto roupas nos varais
para serem esvoaçadas
não avisto a vizinhança
gritando a janela quebrada
queria correr pela mataria
sem sentir espinho no pé
e de lá trazer araçá maduro
para um menino poeta e triste.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 269


Rangel Alves da Costa*


“Amor em tudo...”.
“Tudo pra falar de amor...”.
“Mesmo amor desamado...”.
“Ainda amor de um dia...”.
“Querer é prenúncio de amor...”.
“Sentir é amor cimentando...”.
“Gostar é aprender a amar...”.
“Amar é expressar o amor...”.
“E ele estará presente...”.
“Na melodia que chega distante...”.
“Na saudade que faz doer...”.
“Na lágrima que escorre ao entardecer...”.
“Fotografia também diz do amor...”.
“Cartas antigas e tão amadas...”.
“Um bilhetinho, um verso...”.
“A rosa que tristemente murchou...”.
“Uma flor deixada à janela...”.
“Uma serenata debaixo da lua...”.
“Ah, lua, lua...”.
“Lua de tanto amor...”.
“De sonhos, viagens, abraços...”.
“Namoros silenciosos...”.
“Sussurro sem a boca saber...”.
“O amor no segredo da concha...”.
“O amor no perfume da brisa...”.
“Uma palavra só...”.
“E o coração já ouve demais...”.
“Já estende a mão...”.
“Já firma o passo...”.
“Caminhar pela estrada florida...”.
“Um amor que necessita ser...”.
“Precisa existir e ser amado...”.
“Viagem de cavalo alado...”.
“Uma promessa ao pé do altar...”.
“Tudo se faz para encontrar o amor...”.
“Abre a janela da tarde...”.
“Colhe flores no jardim...”.
“Compra uma maçã do amor...”.
“Desenha no tronco outro nome junto ao seu...”.
“Em tudo vê o outro...”.
“Em tudo sentir o outro...”.
“Uma presença na ausência...”.
“Um cheiro de pele e de corpo...”.
“Um aroma e uma certeza...”.
“Surgirá na curva da estrada...”.
“Descerá da carruagem bonita...”.
“Trará um sorriso de mar...”.
“E na boca um barco pra viajar...”.
“Ao mar amar...”.
“Singrar, singrar...”.
“Pois a gaivota anuncia...”.
“Que na ilha da solidão...”.
“Não há mais solidão...”.
“Pois o barco chegou...”.
“Com amantes navegantes...”.
“Para o beijo do entardecer...”.
“A carícia do anoitecer...”.
“E o amor da eternidade...”.


Poeta e cronista
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quarta-feira, 29 de maio de 2013

UM CAMINHO DE ANTIGAMENTE (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


São muitas as estradas, muitos os caminhos, muitas as veredas. De canto a outro e o passo querendo seguir, cortar poeira, experimentar as pedras e os espinhos. Mas também realizar, encontrar ou reencontrar aquilo que contenta a alma e alegra o espírito.
Abrir a porta de casa e sair não é tarefa fácil como se pensa. Os labirintos são muitos e os inimigos estão à espreita. Há uma curva na estrada e uma ventania que sopra incessantemente. Contudo, o passo que segue o coração não há que temer os percalços. Adiante se vai porque tem de chegar.
E segue cantando a cantiga de um tempo cheio de alegria e felicidade. Porque noutros caminhos, noutras estradas que ficaram atrás, caminhava um povo festejando a bonança da existência e a glória na realização, por mais árdua que fosse. Um povo bom e respeitoso, amigo e encorajado na vida.
Pelo caminho por onde seguiu meu passado também quero seguir. O passo de meu ancestral, da minha linhagem e veia, preciso seguir. Como não posso retornar e retomar aquele passo primeiro, não posso abrir a mesma cancela de um tempo ido, faço do que tenho agora o início da mais bela das caminhadas.
Como fizeram ontem, também faço hoje. Meu caminho não se faz senão no passo da nostalgia, do reencontro com as coisas belas e significativas da vida. Eis que por todo lugar há um lugar pra chegar, e neste o prazer de expressar os sentimentos mais puros e sublimes.
Vou pro mato, vou caçar araçá maduro. Dizem que hoje quase não existe mais, mas hei de encontrá-lo escondido, se ocultando de tudo por medo da humana devastação. E direi que só quero uma mão cheia do seu pequenino e precioso fruto, certamente o mais delicioso de toda a natureza. Eis que o pai do meu bisavô tinha um pé de araçá na varanda.
Vou sair ao entardecer, vou caminhar pelas ruas do meu sertão. De calçada em calçada, de rua em rua, debaixo de pé de pau, como é bom cumprimentar o amigo e perguntar como vai, desejar um mundo de felicidade. Dar a benção aos mais velhos, ouvir seu dedo de prosa, considerar a sua boa lição. A mãe de minha avó fazia assim, tinha prazer em ser assim.
Vou caminhar sem destino, seguir além da cidade, passar pelas malhadas, capoeiras e descampados, acenando pra um e outro na sua janela, proseando com quem encontrar, conversando sozinho, mas principalmente com as pedras e os passarinhos. Já não se caminha assim, dificilmente alguém se dispõe a caminhar por aí, beber da fonte da natureza, ser uma cor na imensa paisagem. Meu avô todo dia fazia seu caminho na natureza.
Vou visitar um amigo, fazê-lo surpreendido com minha presença. Tudo tão perto e sempre distante, erroneamente deixando que o tempo e outros afazeres se intrometam na essencialidade da vida e acabem afastando as pessoas boas, os bons e cordiais conterrâneos. Preciso saber como vai, como tem passado, como está a saúde, a família, a vida. A mesma alegria que sentirá seria a minha ao toque da porta. Assim também fez aquele que veio atrás de mim, num tempo muito distante.
Vou alegrar o espírito, preciso alegrar a alma. Tenho de saber onde há um leilão daqueles feitos por Alzira antigamente, com bolo, canjica, galinha assada, garrafa de aguardente, e tudo no quem dá mais. Ouvir o toque do zabumba, a cadência do pandeiro, o trinado melodioso do fole de oito baixos. E pela sala de reboco a sertanejada em festa, numa suadeira animada, na saia que roda feliz. Assim brincaram os meus passados, e também quero participar dessa festa.
Vou acordar bem cedinho, até antes disso, pois ainda na madrugada. Quando o galo cantar já estarei de xícara à mão para o gole de café. Depois vou caminhar pelo silêncio matinal e sentir como a vida renasce a cada dia. E logo alguém vai abrir uma porta, a comadre vai varrer a calçada, o menino passar com gaiola de passarinho. E pelo ar o cheiro gostoso do café torrado, do milho ralado, de toda delícia. Assim fazia minha bisavó, minha avó, minha mãe. Hoje não posso deixar de fazer.
Verdade é que as pessoas precisam acompanhar os passos da realidade e viver, mas não podem esquecer a essência do ser. E ser o hoje sem perder a memória, a bela nostalgia da existência, rebuscando o melhor da essência passada, para ser moderno e eterno.


Poeta e cronista
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O ser e o nada (Poesia)



O ser e o nada


Nasci numa cuia de cobre
num dia de puro ferro
na cor da madeira de lei
com veias de largo aço
em tudo o agudo metal
menino inquebrantável
disse o ferreiro do lugar
que me forjou a lâmina
da espada da coragem
companheira de toda vida

venci lutas e batalhas
fiz ajoelhados os inimigos
ergui a bandeira do reino
no mais alto da existência
até chegar na ventania
o sopro voraz da idade
e as marcas que enferrujam
os seres inquebrantáveis
e ser ainda ameaçado
pelo frágil relógio do tempo
e o seu segundo final.

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 268


Rangel Alves da Costa*


“Maria tinha saia rodada...”.
“João tinha chinelo de pé...”.
“Zefinha um espelho quebrado...”.
“Luiz um cavalo alazão...”.
“Tanta gente tendo...”.
“E ela não tinha nada não...”.
“Porcina sonhava ser miss...”.
“Tibério queria ser rei...”.
“Doninha se achava a mais bela...”.
“Tonico um conquistador...”.
“Tanta gente sonhando...”.
“E ela sem ter sonho a sonhar...”.
“Das Dores tinha uma amante...”.
“Clarindo pulava janelas...”.
“Tazinha queria um homem...”.
“Pedrito não gostava de nada...”.
“Tanta gente amando...”.
“E ela no desamor...”.
“Raimunda vendia banana...”.
“Tição peneirava farinha...”.
“Cidoca apimentava comida...”.
“Quelé misturava aguardente...”.
“Tanta gente na lide...”.
“E ela sem ganha-pão...”.
“Bastiana amanhecia no cabaré...”.
“Mané passeava na noite...”.
“Florinda conversava com as flores...”.
“Tevinho pintava as unhas...”.
“Tanta gente diferente...”.
“E ela no seu igual...”.
“Osmunda comprou móvel novo...”.
“Teodomiro pintou a fachada...”.
“Banguela bateu prego nas cadeiras...”.
“Zoiudo apareceu com radiola...”.
“Tanta gente assim...”.
“E ela sem ser fazer nada...”.
“Fatinha ganhou anel de noivado...”.
“Osmiro deu um beijo na boca...”.
“Flor queria se separar...”.
“Beraldo fazendo promessa...”.
“Tanta gente tudo...”.
“E ela simplesmente nada...”.
“Marilda apareceu de buchão...”.
“Nicanor carregou a espingarda...”.
“Totonho fazendo promessas...”.
“Dagô espalhando fofocas...”.
“Tanta gente diferente...”.
“E ela a mesma coisa...”.
“Simplícia foi atacada por lobisomem...”.
“Sinésio viu alma penada...”.
“Vanésia deu um grito na noite...”.
“Osmerino deu um chilique pra trás...”.
“Tanta gente com medo...”.
“E ela na impassibilidade...”.
“Jorginho passou brilhantina no cabelo...”.
“Mundico derramou um loção sobre o corpo...”.
“Pedrinho parecia um artista...”.
“Vanaldo com seus poemas floridos...”.
“E ela abriu a janela...”.
“E pelos quatro se apaixonou...”.
“Depois se trancou eternamente...”.
“Para escolher um amor...”.


Poeta e cronista
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terça-feira, 28 de maio de 2013

TIA ZULMIRA E SEUS GATINHOS (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Tia Zulmira, lá do Tabuí, não tinha mesmo jeito. Entrava o mês já praticamente sem dinheiro algum da aposentadoria contada que recebia, pois em poucos dias gastava tudo com seus gatinhos. O nome de um era Tonico, outro era Tição, e mais Jorginho e Quelé.
Quatro moleques desavergonhados. Mas dissesse isso a Tia Zulmira pra ver se não saía com uma quente e outra fervendo. Cuidava daqueles gatinhos melhor que a si própria, vez que deixava de comprar muito do que necessitava para colocar botinha no pé de um gato ou outro. Mas dissesse isso a ela...
Certa feita tacou um cabo de vassoura na cabeça do carteiro só porque o coitado se meteu a besta de perguntar por que ela colocava chocolate na boquinha de um preguiçoso igual a Quelé. Não se meta na minha vida nem na do meu gatinho, seu descarado de uma figa. Foi o que o homem dos envelopes esparramados ouviu.
Uma amiga dos velhos tempos, uma tal de Dorinha do Anil, já nem achava mais jeito de alertá-la sobre o perigo que era criar aqueles gatinhos como bichanos que precisavam de dengo e, principalmente, de presentinhos e lembrancinhas. Sabia que não era gatinho coisíssima nenhuma, mas tinha de dizer assim sob pena de se tornar vítima da revolta da Titia Zuzu. Assim era chamada, quase num miado, pelos seus peludos.
A amiga dizia apenas que aqueles gatinhos já tinham donos, principalmente donas, e que já estavam bem crescidinhos para serem sustentados com papinhas, chocolates, bolinhos, camisas, bermudas e notinhas dobradas, que ela, às escondidas, colocava abaixo do pelo. Tudo mundo já sabia disso e não se comentava noutra coisa. Foi o que alertou a do Anil.
E imediatamente foi colocada da porta de casa pra fora, enxotada, mas não sem antes ouvir uma da boca raivosa de Tia Zulmira: Não admito que abra a boca pra falar de meus gatinhos. Faz isso por inveja, por não ter um gatinho sedoso como o Jorginho, um peludinho como o Tonico, um miadorzinho feito o Quelé, um afogueado como o Tição. Por isso cuido deles como eu quiser.
Os parentes, depois de uma luta inglória, de pedir, de implorar para que ela esquecesse aqueles gatinhos e utilizasse seus rendimentos pra sobreviver com dignidade, já haviam desistido de qualquer iniciativa nesse sentido. Não gostavam, principalmente, que ela continuasse sendo falada de boca em boca como a velha solteirona que dava leitinho na boca de quatro marmanjos, chamando-os ainda de meus gatinhos.
Tia Zulmira não se importava um tantinho assim com o que diziam ou pensavam. Ora, na sua solidão de muito tempo, sentindo uma falta arrepiante de uma costelinha ao seu lado, achava mais que justo que adotasse como seus aqueles gatinhos. Ademais, eram tão mansinhos, obedientes, só miando mais alto quando ela se esquecia de dobrar o dinheirinho e colocar debaixo do pelo.
Mas depois que a notinha era ali cuidadosamente colocada, com muito zelo e acariciamento, então tudo voltava ao normal. Contudo, a situação complicava quando Tia Zulmira achava por bem dar banho nos seus bichanos. Enxugá-los zelosamente então. Toda vez que preparava a bacia para dar banho de cuia, os gatinhos faziam a maior reinação, a ponto de querer azunhar a pobre da solteirona.
Só se acalmavam quando ela redobrava o valor da notinha. Sua sorte era que cada gatinho tomava banho em dias diferentes, pois do contrário não havia notinha que desse cobro de tanta esperteza dos bichanos. Mas um fato estranho acontecia nesses momentos molhados. Não se sabe bem o motivo, mas toda vez que um gatinho tirava as botas e ficava totalmente pelado para o banho, então Tia Zulmira arregalava os olhos, avermelhava, fazia menção de que iria avançar sobre o gatinho, mas depois desmaiava.
Gatinhos malvados aqueles. Nunca a solteirona despertou tendo um a seu lado. Parece que se assustavam com o desmaio da bondosa mulher e corriam de lá. Não sem antes procurar mais uma notinha nos bolsos dela. Mas um dia aconteceu uma tragédia indescritível, coisa de doer no coração.
Parece que estava endoidando, mas aconteceu. Tia Zulmira resolveu doar o décimo terceiro recebido a um só dos gatinhos. Escolheu Tição, o afogueado, porque achava que miava melhor. Mas exigiu em troca que ele lhe desse uma azunhadinha.
No outro dia a pobre mulher foi encontrada toda azunhada e sorridente, numa inexplicável felicidade. Porém sem vida. Sem nenhuma daquelas sete que os seus gatinhos possuíam.
  

Poeta e cronista
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As flores (Poesia)



As flores


A semeadura das flores
a colheita das flores
o perfume das flores

fui jardineiro assim
pelas estações da vida
amigo da terra e semente
cultivando o bom viver

na semeadura das flores
na colheita das flores
no perfume das flores

o outono seca as flores
os arvoredos se dobram
aos açoites das ventanias
que levam homem e vida

partirei na tarde de outono
e o vento já sopra ao longe
sinto essa última estação
porque já não existem flores

e tanto que semeei flores
fiz a colheita das flores
senti o perfume das flores.

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 267


Rangel Alves da Costa*


“Há uma gente no cais...”.
“Há um povo do cais...”.
“Uma pedra de cais...”.
“Uma gente...”.
“Há um barco no cais...”.
“Um barco nas águas do cais...”.
“Uma vela...”.
“Há uma fé beirando o cais...”.
“Uma vela acesa no cais...”.
“Flores e perfumes no cais...”.
“Macumba de cais...”.
“Devoção de cais...”.
“Aguardente nas bocas do cais...”.
“Uma lua na beira do cais...”.
“Amantes caminhando no cais...”.
“Prostitutas de beira de cais...”.
“Tanta vida no cais...”.
“Tanta esperança no cais...”.
“A sobrevivência no cais...”.
“Tanta morte no cais...”.
“Uma gaivota no cais...”.
“Um bêbado procurando seu cais...”.
“As ondas que molham o cais...”.
“O apito se ouve do cais...”.
“A embarcação procura o cais...”.
“Cestos de frutas no cais...”.
“Gente que desce no cais...”.
“Gente que parte do cais...”.
“Tamarindo e rapadura no cais...”.
“Coco e banana no cais...”.
“Todo o Recôncavo é um cais...”.
“Em todo lugar há um cais...”.
“Jorge Amado é um cais...”.
“Com seus moleques de cais...”.
“Seus marinheiros de cais...”.
“Nos coronéis tanto cais...”.
“Desce a ladeira e vai ao cais...”.
“Adormece na beira do cais...”.
“A desvalia da vida no cais...”.
“A infância riscada no cais...”.
“Belo por do sol o do cais...”.
“Lua bonita no cais...”.
“Uma melodia por todo o cais...”.
“As águas avançam no cais...”.
“Nomes na areia do cais...”.
“Promessas nas pedras do cais...”.
“Aflições nas águas do cais...”.
“A mulher aflita no cais...”.
“O barco não volta ao cais...”.
“Seu amor não retorna ao cais...”.
“E sem ele a vida é um cais...”.
“Os olhos molhados de cais...”.
“O lenço derramando um cais...”.
“Um nó na garganta do cais...”.
“Coração arrebentando no cais...”.
“Barco sozinho no cais...”.
“O amor, grande amor...”.
“Nunca mais...”.


Poeta e cronista
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segunda-feira, 27 de maio de 2013

SOBRE PALAVRAS E SOMBRAS (Crônica)

Rangel Alves da Costa*


Com razão, às vezes você pensa que tem pensamentos originais, possui atitudes únicas e fala aquilo que jamais alguém ousou falar. Que bom se fosse assim. Contudo, principalmente na palavra, tudo que criamos como linguagem é apenas uma repetição.
Mas certamente não falou para ficar grafado nos murais da história. Em meio aos diálogos, às conversas e proseados, simplesmente disse algo oportunamente diferente. Somente mais tarde é que vai lembrar-se daquela palavra ou frase bonita. Mas dificilmente a repetirá no mesmo contexto e no mesmo sentido.
Entretanto, muitas vezes não sabe que sua proeza verbal não possui qualquer originalidade. O mais primitivo dos homens já havia grunhido muito de sua façanha oral; os cochichos do mudo já a espalhou  várias vezes; o iletrado já a havia repetido sem dar qualquer importância. Assim, ninguém tomou como sua a palavra tida como sábia.
Por isso mesmo, sejam palavras bonitas ou feias, encorajadoras ou deprimentes, sábias ou inoportunas, não importa como sejam, tudo que se dirá adiante já foi dito por alguém algum dia. Se foi dito por você, tudo bem. Mas acredite, outra pessoa já asseverou o mesmo. Sem falar das outras que se reputam autoras.
Além disso, a frase brotada como ramo dourado não está imune aos perigos de se transformar em galho seco no passo seguinte. É que as pessoas vão transformando palavras e frases segundo requerem as situações, e aquilo pensado para ser dito num colóquio amoroso pode ser propagado totalmente diferente num momento de refrega, por exemplo.
Certamente que despem a frase ou a palavra e dão-lhe uma vestimenta qualquer. Algo tão doce quanto o mel se transformará num amargor angustiante. Por exemplo, quantos entendimentos podem passar a ter uma frase simples como “Assim que eu retornar trarei o que você bem merece”?
Um velho amigo certo dia me segredou que as palavras deveriam ser o último recurso de linguagem a ser utilizado pelo homem. E acrescentou que as palavras ditas são frias, perigosas, quase sempre dúbias, servindo como instrumento de mentira e manipulação. Dificilmente alguém confirma no olhar aquilo que diz com a boca, disse ainda.
E concluiu afirmando que os gestos e acenos, ainda que possam ser entendidos distorcidamente, não dão azo a tanta dubiedade. Uma mão acenando um adeus sempre será uma mão acenando um adeus; um beijo soprado na mão sempre será um beijo soprado na mão; um dedo verticalmente colocado no lábio sempre será um pedido de silêncio; um olhar entristecido não tem o dom de esconder alegria.
Mas a palavra é inevitável. Ela surge, se expressa, alça voo, corre. E dependendo da ocasião ou circunstância pode fugir totalmente do controle do falante. Outras vezes não sai nem como palavra, mas ultrapassa muros e se impõe como gritos, urros, alaridos. Ou simplesmente não sai da boca. A boca quer dizê-la, e até diz, mas ela continua presa na garganta, no véu da comoção ou do espanto.
Uma vez no mundo, passa a caminhar por si mesma. No instante seguinte da palavra dita e ela já poderá ecoar de forma totalmente oposta ao seu sentido original. Quando não é assim, quando não é completamente transmudada segundo o momento, vai ganhando contornos e nuances tão suaves que dificilmente alguém imaginará que aquilo que ouviu num instante já tomou banho e foi perfumada.
Verdade é que a originalidade da palavra não depende daquilo que se tenha como criação própria, pois tudo numa junção do já tantas vezes dito, mas apenas pela força que a mesma possa expressar. Não precisa ser algo tão bonito, florido ou que saia aromatizada da boca. Simplesmente que chegue ao outro como voo leve, como brisa suave, como verdade que se ouve e se assimila, pois dita com o coração.
Mas quando digo que estou com saudade, por favor não contradiga meus sentimentos. Ademais, não consigo viver um instante sem estar com saudades. Perante as dores e tristezas de agora, somente recordando os bons frutos da estrada para ir seguindo adiante. Tocando boiada e vida.
  

Poeta e cronista
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Meu sol, minha lua (Poesia)



Meu sol, minha lua


Quando eu era menino
lá no sertão esturricado
guardava pedaço de sol
guardava pedaço de lua
numa cumbuca fechada
com medo que amanhã
noutro lugar pela vida
tudo isso fosse saudade
difícil demais de reviver

há muito que saí de lá
parti de mala e cuia
e vim parar noutro lugar
com um sol diferente
e uma lua sem beleza
e às vezes me dá vontade
de abrir aquela cumbuca
com sol e lua lá dentro
mas sempre acho melhor
entrar lá dentro e viver.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 266


Rangel Alves da Costa*


“Um rosário...”.
“Um terço...”.
“Uma conta de fé...”.
“O povo precisa...”.
“Precisa da crença...”.
“Para sobreviver...”.
“Na palavra da Bíblia...”.
“Na vela acesa...”.
“Na fita do santo...”.
“No retrato na parede...”.
“No benzimento...”.
“E na adoração...”.
“Porque não há vida...”.
“Sem a fé que a proteja...”.
“Porque não há viver...”.
“Sem a benção do céu...”.
“Faz do oratório um céu...”.
“Do lar a casa do Pai...”.
“Da promessa a certeza...”.
“Da proteção para todos...”.
“Por isso invoca os santos...”.
“Fala com os anjos...”.
“Fica ajoelhado...”.
“Aos pés do acredita...”.
“E depois reforça o desejo...”.
“Na missa...”.
“Na hóstia...”.
“Na confissão...”.
“Na fuga ao pecado...”.
“No temor da condenação...”.
“Eis um povo que acredita...”.
“Que vive da crença...”.
“No perdão e na salvação...”.
“E por isso os hábitos antigos...”.
“O jejum...”.
“A obediência...”.
“O toque na água benta...”.
“A novena...”.
“A ladainha...”.
“A santa missão...”.
“A quermesse...”.
“O fogo da fé crepitando...”.
“A devoção incontida...”.
“Porque Deus há de curar...”.
“Porque Deus há de ajudar...”.
“Porque Deus vai agir...”.
“Contra os pecados e vícios...”.
“Vai afastar as tentações...”.
“Vai trazer paz e sossego...”.
“Vai renovar a família...”.
“Vai salvar a alma impura...”.
“E fazer liberto o condenado...”.
“Para tudo há jeito...”.
“Na fé que o povo tem...”.
“E tão grande é esse céu...”.
“O paraíso em cada um...”.
“Que nenhuma pobreza afasta...”.
“A suntuosidade e a riqueza...”.
“Da igreja em cada coração...”.
“Tudo em nome de Deus...”.
“Que é pai, filho e irmão...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com