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domingo, 6 de abril de 2014

APLAUSOS JOSÉ WILKER, VOCÊ FOI “FELOMENAL”!


Rangel Alves da Costa*


A teledramaturgia brasileira vem sofrendo perdas irreparáveis. No dia 13 de março morreu o ator Paulo Goulart, aos 81 anos; e agora, neste sábado, 05 de abril, foi a vez de José Wilker interromper o grande espetáculo de sua vida. E contando apenas com 67 anos de idade. Indescritível espanto, principalmente pela certeza que fatos assim não deixam cenas para os próximos capítulos.
Com a partida de José Wilker, o eterno Roque Santeiro, Mundinho Falcão, Juscelino Kubitschek, Lorde Cigano, Antônio Conselheiro, Vadinho de Dona Flor, Coronel Jesuíno, Giovanni Improtta e tantos outros personagens inesquecíveis, fica a certeza de que o conteúdo superou o tempo. E assim porque muito mais que o grande número de personagens que representou, conseguiu marcar cada um com a primorosa genialidade da interpretação.
Não será lembrada apenas a voz rouca, forte, solene, pausada, premeditadamente expressa; não serão recordados apenas os gestos quase didáticos, o olhar na profundidade requerida para o instante do personagem, o bordão dito com a naturalidade cotidiana. Não há que se negar Wilker, você foi “felomenal!”.
Mas a grandeza do ator estava no homem. A maestria na representação não era fruto nem da experiência nem de ensaios, mas da corporificação dos personagens já existentes no homem José Wilker. Ora, indo além de ser apenas ator, ele possuía uma visão de mundo que transportava para o cinema, o teatro e a televisão. Nestas esferas é que demonstrava toda sua potencialidade interior.
Engajado social e politicamente, possuidor de vasto conhecimento filosófico e sociológico, bem como de cultura popular, conseguia humanizar seus personagens de modo tal que a ficção ganhava corpo, carne, sangue e sentimentos. Eis que não era apenas ator de representar, mas de viver no fundo da alma cada ser que representasse, ainda que um coronel lascivo ou um bicheiro corrupto e trapalhão.
Para se ter ideia, são poucos os atores que conseguem ir além do dom da representação para buscar também o dom da compreensão do mundo e possibilitar maior realismo e humanização aos seus personagens. Na verdade, muitos sequer sabem expressar além daquilo que está escrito, tanto na ficção como na realidade. Já outros, como aconteceu com José Wilker, se tornam em verdadeiros teóricos perante a realidade social.
Por isso mesmo é que Wilker às vezes representava e outras vezes ensinava como representar. E fazia isso através do conhecimento, do engajamento, da contestação e do inconformismo. Isto talvez tivesse sido fruto de sua formação teatral no Movimento de Cultura Popular (MCP), do Partido Comunista. Sua visão crítica de mundo e da realidade é mais que perceptível nas suas entrevistas, nos seus escritos, documentários e enquanto entrevistador.
De qualquer sorte, só resta lamentar sua morte. E também temer que a teledramaturgia brasileira não consiga renovar seu elenco de mentes pensantes, críticas, inteligentes, que façam do ato da representação algo além de ser apenas um personagem. Bastava Wilker aparecer em cena para que tudo ao redor se tornasse coadjuvante, apenas um cenário para os seus movimentos e palavras tão fortes como a própria vida.
Pelo feito e merecimento, certamente que será sempre recordado. Quem haverá de esquecer a alma safada de Vadinho surgindo na cozinha ou no lado da cama para passar a mão na bunda de Dona Flor? Quem poderá esquecer as estripulias do bicheiro analfabeto e apaixonado, tudo fazendo para agradar a senhora do seu destino? Impossível esquecer o jovem Mundinho Falcão entre as facilidades da riqueza cacaueira e os infortúnios do coração.
Um vazio imenso sem José Wilker, principalmente quando os créditos não citarem o seu nome. Mas o tempo ruge e o inesperado acontece. Triste fim deste capítulo. Ainda assim hei de repetir: você foi “felomenal!”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Nal Pontes disse...

Grande ator, vai deixar saudades.