SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 10 de abril de 2014

RUA POÇO REDONDO


Rangel Alves da Costa*


Por favor, desde muito que preciso de uma informação, e nada do outro mundo, apenas saber se em Aracaju existe alguma rua com o nome Poço Redondo. Sim, um logradouro em homenagem ao maior município sergipano em área territorial (1.232,123km²/ IBGE). Isto mesmo, ao menos uma travessa com a denominação do município do alto sertão sergipano que faz divisa com os estados de Alagoas e Bahia e que possui o maior número de assentamentos para trabalhadores rurais.
Para facilitar, informo ainda que é o município onde está situada a Gruta do Angico, localidade ribeirinha do São Francisco onde Lampião e parte de seu bando foram chacinados em 38. E ainda que, mesmo continuamente castigado pelas secas, possui uma das maiores bacias leiteiras de Sergipe (em Santa Rosa do Ermírio); é o décimo oitavo em número de votantes no estado (16.980 eleitores - TSE - dez/2013) e o décimo primeiro em número de habitantes (32.949 - IBGE/estimativa 2013).
Para refrescar a memória e ajudar na possível localização do logradouro, cito ainda que Poço Redondo é a povoação nordestina que mais filhos forneceu ao mundo do cangaço, que já foi cenário para filmes e documentários (Sargento Getúlio, A Mulher no Cangaço e Aos Ventos que Virão, dentre outros). Terra de Alcino Alves Costa, guardião maior da história sertaneja, de Zefa da Guia, do Morro da Letra, da comunidade quilombola da Serra da Guia, da nascente do rio Sergipe e do ponto mais alto do estado (Serra Negra, com 742 metros, na divisa com Pedro Alexandre, na Bahia).
Se não me engano, os municípios sergipanos são sempre homenageados com nomes em ruas na capital, e talvez alguém me possa dizer onde fica a Rua Poço Redondo. Todo mundo sabe onde ficam as ruas Capela, Geru, Japaratuba, Porto da Folha, Muribeca, São Cristovão, Santo Amaro, Itabaiana e Itabaianinha, Laranjeiras, Nossa Senhora das Dores, Itabi, e assim por diante. Algumas no centro, outras mais afastadas, mas existentes. E onde fica a Rua Poço Redondo?
Ora, mas uma capital que tanto homenageia países, estados, capitais, municípios, datas, autoridades, personagens históricas e até desconhecidos, certamente que não se esqueceu de colocar numa rua ou avenida a placa indicativa com o nome Poço Redondo. Contudo, impossível encontrar. Já procurei saber nos correios, já perguntei a carteiros e taxistas, mas ninguém soube prestar qualquer informação. Será que os vereadores aracajuanos, que são os responsáveis pelas indicações, poderão informar?
Estranho e lamentável que assim aconteça. Relegar Poço Redondo ao plano do esquecimento, ao desmerecimento de sua lembrança num simples nome de rua, não significa apenas uma imperdoável falha dos vereadores aracajuanos. Mas principalmente a prova incontestável que sempre houve preconceito e discriminação com este município distante, empobrecido, vivendo sua sorte nas lonjuras do semiárido esturricado pelas estiagens do dia a dia.
Segundo a Lei Orgânica do Município de Aracaju, no seu art. 90, “g”, compete à Câmara Municipal, com a sanção do prefeito, dispor sobre a denominação de ruas, vias e logradouros. Assim, a escolha dos nomes dos logradouros aracajuanos é um ato de responsabilidade dos vereadores, através de indicação transformada em lei. Na indicação, contudo, deve haver a motivação que justifique o merecimento. E o que justifica, por exemplo, colocar nomes sem qualquer vínculo com a cidade ou o estado ou até repetir nomes de ruas e jamais prestar uma singela homenagem a um município sergipano?
 Não conheço acerca dos juízos de valor e de realidade que pautam os nobres edis aracajuanos nos seus trabalhos legislativos. Também não sei das motivações que possuem ao fazer indicações para nomear logradouros, quais as justificativas apresentadas nem sobre as escolhas dos nomes. Só sei que desde muito tempo cometem graves injustiças ao não reconhecer e valorizar aquilo que é sergipano de história e raiz.
E talvez seja o reconhecimento e a valorização que ainda não foram tidos com relação a Poço Redondo. E diferentemente ocorreu com a indicação de nomes de generais da ditadura para conjuntos residenciais, como o Médici e o Castelo Branco. E também do nome dos milicos para ruas e avenidas, como a João Batista Figueiredo (na zona de expansão). E não se deve esquecer a Avenida 31 de Março, no Ponto Novo, uma homenagem ao golpe militar de 64.
Contudo, na condição de orgulhoso poço-redondense, não venho implorar que agora os nobres vereadores aracajuanos tomem ciência do histórico erro e coloquem o nome Poço Redondo num logradouro. Já desde mais de dez anos que trato na imprensa sobre esse fato. Ademais, não é colocando seu nome numa via esquecida lá pelos cafundós do judas que o problema estará resolvido. E talvez a ausência seja mais significativa que o reconhecimento forçado, pois persistirá a mesma discriminação.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Graça Pereira disse...

Achei graça esta tua procura de informação e quase uma luta de justiça... Nasci em Moçambique onde vivi os melhores anos da minha vida...Vivo agora no Porto mas, a minha terra está sempre presente e procuro saber (através do Fb) o que é feito desta e daquela rua...mudaram de nome e então agora como se chamam ? e...velhinha catedral um monumento setecentista porque não cuidam dela e a deixam cair aos pedaços?
Acreditas como eu sofro??
Fui jornalista em Moçambique e lutei sempre pela minha cidade e dói vê-la tão mal cuidada...Compreendo a razão da tua procura e digo-te: não desistas nunca.
Abraço
Graça