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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UMA IGREJINHA, E TÃO IMENSA... (Crônica)

UMA IGREJINHA, E TÃO IMENSA...

                               Rangel Alves da Costa*


Por mais que o passar dos anos vá povoando a mente com fatos novos, acontecimentos do passado existem que anda e vira e retornam à imaginação. Gosto que essas coisas me cheguem assim porque só consigo compreender a existência de hoje puxando a velha corda do passado para saber o que foi feito, o que foi construído lá pela ponta e em meio a outros nós.
Pois bem. Sem delongas porque hoje é o aniversário do dia seguinte ao dia seguinte ao meu aniversário, e assim por diante, e tenho de comemorar. Aliás, a coisa que mais comemoro na vida é cada segundo, cada minuto no meu viver. Fico tão contente com isso que todos os dias, já próximo a hora de deitar, acendo uma vela e faço minhas orações agradecendo por tudo, pela imensa festa da vida.
Acendo minha vela e faço minhas orações ao pé do altar da minha igreja. Podem não acreditar, mas tenho uma igreja sim. Podem também chamar de oratório, mas pra mim é uma imensa igreja, linda, de madeira envernizada, porta e laterais com vidraças, uma cruzinha no alto, santos, imagens sacras, uma abóbada com anjos voando logo abaixo e o meu Deus enchendo todo esse ambiente, e também minha vida, de alegria e fé.
E todas as vezes que estou limpando essa minha igrejinha lembro-me de outra igrejinha muito famosa lá no sertão onde nasci, em Poço Redondo. Na verdade não era tão famosa assim, mas pelas circunstâncias em que foi construída, conservada e aos fins destinados, nem toda catedral vaticana pode se honrar de ter tanta história. E uma história pra lá de estranha, com uma trama novelesca envolvendo brigas, ódios, rancores, um verdadeiro cisma religioso.
Eis que uma tia paterna, Izabel ou Bebela como chamavam, irmã de minha avó, mulher de posses, comerciante no ramo de tecidos, dona de uns dos poucos automóveis da cidade, um dia, já com idade avançada, resolveu construir uma igrejinha num terreno seu, numa parte lateral do seu imenso quintal, só que bem ao fundo da igreja matriz. Templo este em louvor a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município.
Até aí tudo bem, pois é mais que comum famílias mandarem construir igrejas nas suas propriedades, terrenos ou até mesmo nos seus jardins. Fazem isso por religiosidade, devoção especial a algum santo, como pagamento de promessas. O problema é que aquela igrejinha construída foi erguida única e exclusivamente como demonstração de força e desavença da minha tia com a diocese e com o sacerdote de então, vez que, depois de muitos anos, lhe haviam tomado as chaves e o poder de mando da matriz.
Na condição de zeladora maior da igreja matriz, tendo as chaves aos seus cuidados, cuidando de toda limpeza, ordenando que fizessem isso ou aquilo, verdade é que minha tia já se achava parte inseparável do templo. Não apenas pelo fervor religioso e pela beatice extremada, mas também por toda uma vida dedicada àquele ofício, sentiu-se verdadeiramente traída quando anunciaram o fim do seu poder.
Até hoje não sei dos motivos exatos das desavenças entre ela e o sacerdote, tendo por trás a diocese, mas soube algo envolvendo uma ordem que ela tinha dado e o padre desconsiderou tal resolução e passou por cima da autoridade da zeladora. Era uma situação difícil, pois chegava padre e saía padre e ela no seu inabalável mister, sendo até considerada um tipo de sócia da igreja.
Só sei que ela entregou as chaves e decidiu cortar relações não só com o sacerdote, mas também com tudo que dissesse respeito ao templo. E mais, mandou imediatamente construir uma igrejinha por conta própria, coisa pequena, com cerca de três metros de frente por cinco de comprimento, bem nos fundos do outro templo, e lá instalou sua fé.
Verdade é que os fiéis, até por medo de confrontar o poder religioso instalado na matriz, não acompanharam minha tia nesse verdadeiro Cisma, nessa separação e dissidência da igreja matriz. E mesmo continuando entristecida com o acontecido, verdade é que ela se manteve tão devotada quanto antes, mas agora expressando sua fé somente na sua igrejinha.
Não era a igreja matriz, grande e suntuosa para a cidade, mas apenas uma igrejinha. Contudo, tão imensa quanto o tamanho da fé e devoção.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

BOM DIA, ESTOU FAZENDO A ARVORE GENEALÓGICA DA MINHA FAMÍLIA MENA PERES E ROMEIRO DE QUE FAMÍLIA É A ISABEL BEBELA
marcelomena06@hotmail.com