Rangel Alves da Costa*
Tenho uma amiga que de vez em quando afirma
preferir encontrar um fantasma que um intelectual. Já outra assevera ser mais
fácil entender a letra do canto da sereia ao que pretende dizer o filósofo pedante
discorrendo acerca da metafísica do ser enquanto razão do não ser. Jamais
comunguei com tais pensamentos, mas também não lhes retiro a razão.
Realmente, coisa difícil de digerir é
assistir uma palestra ou mesmo qualquer conversa de alguém que se assume como intelectual,
expondo seu pedantismo e com o linguajar expelido para comprovar a qualquer
custo sua superioridade mental. Ao invés de facilitar o entendimento,
explicando conceitos com uma linguagem usual e inteligível, sempre prefere
rebuscar de tal modo que acaba complicando tudo.
“Ora, porque o ser, no seu íntimo abismal que
se eleva ao patamar do irreconhecível psicanalítico em si existente, nada mais
que a esfera engendrada num dismorfismo plasmódico que lhe sutura a esfera
preordenamente concebida para torná-lo inter e exteriorizadamente amorfo. Eis
que a discinesia extratemporal que lhe permite disfuncionalizar as funções,
carreiam metabolismos inibidores ao ser que não é porque antecedido da vazão de
outro ser que já num mesmo ser, ainda que não o seja o mesmo”.
Ou ainda: “A realidade precede a realidades
anteriores que, se procedentes historicamente, acaba sendo reconhecível somente
no seu instante anterior ou que pretende enquanto posteridade. Por isso o
homem, que não é outro ser senão o ser gerado em momentos distintos, continua
irreconhecível no hoje, pois ainda naquele momento anterior ao ser presente.
Noutras palavras, a realidade é irreal à medida que a irrealidade, negação que
é da realidade, nega não só sua existência como todo ser que nela existe, pois
o homem não é senão aquele fruto de um momento irreal que se tornou em realidade
irreal. Entenderam?”.
Não, claro que não entendi, e nem estou
disposto a ouvir todo tipo de coisas só porque vem da boca de quem se acha o
suprassumo da sabedoria, a luz mental do mundo, a suprema intelectualidade. Não
me sinto nem um pouco à vontade com rebuscamentos desnecessários, com teorias
que não se transformam em palavras, com digressões que nem os da mesma academia
conseguem entender. Ademais, ser intelectual não significa ter de dizer
diferente o que bem poderia ser dito de modo mais inteligível e compreensível.
Contudo, não significa que a sociedade seja
ignorante, que não tenha capacidade de entender o significado das palavras, dos
conceitos, teorias e seus contextos. Não. O problema reside no linguajar
imposto pelos ditos intelectuais e outra coisa não serve senão para delimitar o
poder do saber perante a ralé supostamente analfabeta. Desse modo, quanto mais rebuscamento
há na palavra, ainda que esta se torne praticamente incompreensível, mais o
pretenso intelectual se sente como ser culturalmente superior.
Mas também como forma de manipular aqueles
que suportam suas divagações. Sei que muitos não aceitam, mas será preciso
afirmar que as realidades da vida, do ser e do mundo, acaso sejam objeto de
explanações, podem muito bem ser explicitadas de modo diferente. Não vejo
nenhum cabimento em dificultar o entendimento se deseja ser compreendido. Se o
objetivo maior é chegar ao entendimento de determinada realidade, então que se
procure a superfície e não as profundezas.
Veio-me agora à mente quanta dificuldade deve
ter alguns críticos de arte, de teatro ou de literatura, para escrever ou falar
as pérolas que acabam forjando. E vão do conteúdo à forma, do contexto à interiorização,
do sombrio ao obscuro, num entrelaçamento tal que acabam deixando tudo na
obscuridade. E de uma repórter televisiva já ouvi, ao comentar acerca de uma
exposição: “O artista conseguiu dar forma ao inatingível, ao inexplicável, com
cores que penetram na alma e desvendam a realidade interior de cada um. Não são
apenas pinturas, mas pinceladas que caminham pelas veias e chegam ao nosso
inconsciente”. Entenderam?
Prefiro, pois, ouvir falar de extraterrestres
a escutar um intelectual. Giorgio Tsoukalos vai logo dizendo que foram os seres
interplanetários que fizeram tudo que há na terra, e pronto. E tudo mesmo, as
pirâmides, os grandes templos, a sua casa, eu e você. Mesmo que suas teorias
não sejam aceitas, não é tão insuportável ouvi-lo dizer baboseiras sobre os
alienígenas. Diferentemente ocorre com essa gente que pensa que é do outro
mundo, a intergaláctica intelectualidade. Que gente mais raeliana.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Pois é, Rangel, de que adianta ter conhecimento sobre um assunto, se não consegue transmitir o que sabe, de forma simples e compreensível.
Quanto aos extraterrestres...Nós somos extraterrestres, sabe-se lá de que planeta viemos e para onde iremos um dia.
Abraços!
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