Rangel Alves da Costa*
A reputação de um homem é o que mantém o
outro de boca aberta ou fechada, já dizia o metido a sabichão Zeinha de
Menelau. E dizia mais: Até mesmo o falador e mentiroso tem de esconder sua
língua nos dentes antes de dizer qualquer coisa sobre pessoa de nomeada. Por
mais que deseje enlamear o nome ou manchar a imagem, terá de engolir sua
vontade diante da honradez e lisura já considerada até mesmo pelos
desconhecidos. E assim porque pessoas existem que levam consigo um escudo
contra invejas e aleivosias.
Já Totinha da Quixabeira afirmava que o nome
chegando antes do homem servia pra duas coisas: ou abrir ou fechar a porta.
Ninguém pode ser bem recebido se vai trazer consigo a fama do que não presta.
Mas se a pessoa é respeitada pela sua postura ou reconhecida pela decência,
então será chamado a entrar e festejado com água de moringa e doce de leite. E
finalizava seu pensamento com um ditado que repetia sempre como de sua lavra:
Quem tem o nome sujo paga preço alto ao vento pra não espalhar demais sua
presença, ainda que longe esteja.
Interessantíssimo era o entendimento sobre o
renome defendido por Flosina das Flores, uma prostituta que se arvorava de ser
exemplo maior de reputação. Segundo ela, se reputação significa o modo como a
pessoa é percebida pela sociedade, então não haveria lamaçal maior que o jogado
sobre si, sobre sua honra, pois quase sempre vista como desonrada pela escolha
de vida. Mas por outro lado - dizia -, se a reputação também for o
reconhecimento da honestidade na conduta e da retidão nos atos praticados,
então o meu pecado se transforma em santidade e passo a não dever nada nem ao
mais íntegro dos seres humanos.
Difícil dizer quem está com a razão, vez que
o conceito de reputação nem sempre comunga com as realidades. Com efeito,
consta dos livros ser a reputação a opinião que os outros possuem acerca de
determinada pessoa; é a percepção que os outros têm dos sujeitos, construída a
partir de informações sobre o que são e o que fazem no seu percurso de
existência; é o resultado das impressões que os indivíduos possuem sobre outros
indivíduos, implicando sempre numa valorização positiva ou negativa. Em
síntese, reputação é o que o outro vê em você, ainda que seu esforço seja
descomunal para ser reconhecido como se acha merecedor.
Mas da opinião de Flosina das Flores pode se
chegar a algumas considerações importantes. Mesmo prostituta, sem jamais negar
tal condição ou esconder sua opção, ainda assim se sentia como pessoa de
reputação ilibada, sem dar motivo algum para ser vista em contrário. E talvez
sua atividade enquanto prostituta não interferisse em nada no seu sentimento
pessoal de honradez e na normalidade de sua conduta social, e por isso mesmo
pudesse ser vista como pessoa séria, respeitadora e cumpridora de suas
obrigações. Contudo, pelo simples fato de ser prostituta sua desonra já estava
patente perante a sociedade. E então?
Então se percorre o nem sempre claro limite
entre o que a pessoa realmente é e naquilo que é transformada. São muitos os
exemplos em que acusações maldosas, insinuações infundadas e fofocas
acreditadas provocam danos profundos e de difícil reparação nos injustamente
afetados. Do mesmo modo, são muitos os casos onde as desonras são provocadas
por interesses pessoais. O problema maior é fazer com que a sociedade filtre as
informações repassadas e não tenha como verdade tudo que surge acerca dos
indivíduos. Ou acreditando tenha a virtude de se redimir a tempo e a contento.
Mas nunca acontece assim.
Sobre a reputação já disse Sócrates, o
filósofo grego, que a maneira de se conseguir boa reputação reside no esforço
em ser aquilo que se deseja parecer. E esforço grande mesmo e ainda assim com a
certeza de que sua fama será uma quando de sua presença e outra quando já tiver
virado as costas. Infelizmente é assim que costumeiramente se observa.
Dificilmente a desonra e a desonestidade são alardeadas na presença da pessoa
assim havida, eis que o fingimento de aceitação e respeito é a cal cimentadora
da pocilga que se vai construindo às escondidas. Assim que a pessoa dá as
costas já se tornou na vileza em pessoa. Atitude sempre reprovável, porém tão
costumeira quanto o verdadeiro respeito que a maioria das pessoas devota ao
próximo.
Desse modo, difícil é reconhecer até onde a
reputação pode incidir mesmo sobre pessoas tidas como exemplos maiores de
conduta social, vez que nunca são reputadas como íntegras pelo que
verdadeiramente fazem, mas pelo que os outros sentem a seu respeito. E logo se
vê que não é fácil obter o justo reconhecimento num mundo envolto de invejas,
concorrências pessoais, desonestidades e mentiras intencionalmente propagadas
para macular imagens, desonrar pessoas, tornar imprestável aquilo que é
essencialmente bom. Por depender do outro, do conceito que este cria e
alardeia, mesmo o mais reputado dos homens corre o risco de cair na desgraça
por uma língua ferina.
Contudo, pessoas existem cujas reputações são
as mais deploráveis possíveis. Mas não pelo que são pessoalmente, enquanto
indivíduos, e sim pelo que socialmente representam. O exercício de cargos e
funções, bem como o status de poder e governança, são portas abertas para que
verdadeiros lamaçais lhes sejam atribuídos. Porém nem sempre se perpetuam com
tais máculas, vez que o próprio povo tem o dom de tornar conhecida a má
reputação e depois cuidar de endeusar o enlameado. Assim ocorre na política.
Depois de eleitos são tidos e havidos como o que de pior possa existir, mas sempre
são endeusados quando apenas candidatos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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