Rangel Alves da Costa*
Há quem suporte acompanhar o horário político
eleitoral e, mais ainda, prestar atenção nas falas dos candidatos. Os seus
defensores sempre alegam que é a oportunidade de o candidato apresentar suas
propostas, se tornar melhor conhecido pelo eleitor e, no caso de reeleição,
prestar contas das realizações no seu mandato. Já outros, diante das mesmices,
das mentiras e das promessas irrealizáveis, comungam da ideia de que bastaria
trazer de volta a Lei Falcão: mostrar o retrato, o número, e pronto. E quanto
mais rápido melhor.
Ainda outros possuem uma proposta ainda mais
radical. Ao lado das exigências antidemocráticas ainda em pleno vigor no país
da democracia, como a obrigatoriedade do voto e a transmissão da Voz do Brasil,
o horário político eleitoral deveria ser expurgado de vez dos lares
brasileiros. Quem quiser se tornar conhecido e reconhecido nas urnas que trabalhe
cotidianamente para tal, vez que o trabalho em prol da comunidade possui voz
própria que não precisa ser forçadamente relembrada.
Contudo, são apenas impressões da população
perante a proximidade de cada pleito e a busca incessante de votos pelos
candidatos. Igualmente às obrigatoriedades citadas, as falações do horário
eleitoral continuarão por muito tempo. E por um único motivo: o voto. Há
obrigatoriedade de voto porque o candidato precisa ser votado; há
obrigatoriedade da Voz do Brasil porque o governo, os senadores e deputados
precisam ter seus nomes citados para serem votados; há propaganda eleitoral no
rádio e na televisão pelo mesmo motivo. Desse modo, não há interesse algum do
governo ou do parlamento modificar aquilo que lhe favoreça na aquisição do
sufrágio.
Contudo, diante de sua dolorosa perenidade,
alguma iniciativa popular deveria tentar transformar em lei a proibição de
certos comportamentos dos candidatos. Alguns aspectos seriam de relevância:
proibir que postulantes afirmem que vão fazer aquilo que não é de sua
competência; proibir que candidatos ao legislativo se comprometam em oferecer
moradia para todos, acabar com o desemprego, proteger integralmente os idosos e
as crianças, acabar de vez com os problemas da saúde e da educação; proibir que
os postulantes aos cargos majoritários sequer citem ou critiquem os
adversários, vez que a decisão será do eleitor.
Considerando ainda que o horário eleitoral
continuará como penosa sina, mas que
muitos se sentam diante da televisão até com bebida e pipoca, de bom alvitre
que estes tomassem algumas precauções. A não ser para tomar conhecimento das
novas caras que vão surgindo nem precisaria ouvir os relatos biográficos, as
propostas e as promessas, eis que tudo repetido de outras eleições passadas.
Sempre repetem as velhas e repugnantes fórmulas. Quase todos tiveram origem
humilde, são trabalhadores, honestos e honrados, mas que principalmente
abraçaram a causa política para lutar pelo povo, proporcionar-lhe saúde, emprego,
moradia e dignidade. Alguém já ouviu isso no século passado?
Aqueles velhos conhecidos dos metiês
partidários, nomes demasiadamente experimentados de outros pleitos ou mesmo no
exercício de função parlamentar, ainda assim nada realmente novo conseguem apresentar.
E assim acontece porque esgotaram seus rosários de promessas não realizadas, de
compromissos não cumpridos com a população. Os mais sinceros ainda dizem que
pretendem se eleger novamente para continuar lutando pela melhoria de vida da
população, sem adentrar em pormenores. Mas fato é que muitos são eleitos e
reeleitos, e por diversas legislaturas, e a continuidade da luta não apresenta
qualquer resultado visível.
De qualquer modo, releva observar os
discursos antagônicos lançados pela maioria dos deputados federais que são
candidatos à reeleição. Pelo afirmado, a atuação parlamentar se transformou
numa luta titânica para conseguir recursos. E ecoam por ter enviado tantos
milhões para obras em tais e tais municípios, ter amealhado vultosos recursos
para pavimentação de diversas localidades. Mas não dizem que tudo foi
conseguido através de emenda parlamentar e que a apresentação de emendas é o
mínimo que um deputado pode fazer. E têm de apresentá-las ao orçamento para
obter verbas para os seus redutos eleitorais. É apenas um dever enquanto
parlamentar, e não algo como se fosse coisa do outro mundo.
Outros discursos servem apenas para mostrar o
quanto acreditam na ingenuidade, na ignorância e no esquecimento do eleitor. Assim
ocorre, por exemplo, quando ecoam o discurso do novo, da transformação e da
esperança. Do mesmo modo quando afirmam que fazem política não por profissão,
mas por compromisso, ou quando dizem que se voltarão unicamente aos anseios da
população ainda que para tal discordem do governante. Apenas falação, apenas
conversa pra boi dormir, vez que político só é transformador enquanto não
eleito, só é novo enquanto não se inicia nas velhas e conhecidas práticas.
A maioria dos próprios candidatos sabe muito
bem que o discurso se distancia muito da realidade. Nenhum eleito, até mesmo
porque vinculado a uma base partidária, consegue fazer sozinho qualquer verão.
E por mais que assuma o mandato revestido da pureza do trigo, no momento
seguinte já estará em meio ao joio. E de difícil separação na política. E o que
infelizmente se vê é a prevalência da máxima do porco e do farelo. Quem entra
na pocilga é logo atraído para se misturar e comer do mesmo prato. A
incongruência é que os que rejeitam compartilhar nem sempre são reconhecidos
pelo eleitor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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