Rangel Alves da Costa*
De vez em quando a gente sai caminhando por
aí, pelas tardes calorentas das ruas de Ará, e passa a meditar a cada passo
sobre sua história e sua transformação. Não precisa ser pessoa idosa para
conhecer o quanto a capital sergipana foi modificada. Os retratos antigos em
preto e branco não deixam mentir. Alguns prédios faustosos ainda são avistados
com suas fachadas e interiores relegados ao tempo e suas cores musguentas e
corroídas. Mas também construções grandiosas que foram ou estão sendo
restauradas, mais observáveis nos arredores da Praça Fausto Cardoso.
Verdade que a maioria desses prédios
suntuosos, de beleza arquitetônica apaixonante, já foi tombada e nenhuma obra
de reforma ou restauração pode ser feita sem a permissão do serviço do
patrimônio histórico. E não é tarefa fácil obter licença sequer para cimentar
uma pilastra que esteja caindo. Daí o problema com a manutenção e preservação
desses monumentos tendentes a ser verdadeiros escombros da história. E o que é
tão belo vai ficando cada vez mais feio, frágil, parecendo que poderá desabar a
qualquer instante.
A chamada Rua da Frente, desde o mercado à
Praça Fausto Cardoso, possui um precioso acervo de edificações cujas fachadas
já demonstram a pujança histórica e arquitetônica. Prédios que por muito tempo
serviram como lojas e sede de empresas, após o fechamento destas ficaram
praticamente entregues às forças impiedosas do tempo. Alguns destes prédios
foram caindo aos poucos, e até colocando em risco a vida dos aracajuanos que
por ali caminham. E certamente outros terão suas paredes desmoronadas a
qualquer momento, dado o estado precário de sustentação.
O que fazer, então? Com a resposta os
organismos estaduais e federais que cuidam do patrimônio histórico. Creio que
buscando os exemplos de outras cidades históricas será possível uma intervenção
eficaz de modo a assegurar a permanência das edificações que ainda continuam de
pé. Salvador, Olinda e cidades mineiras encontraram mecanismos de revitalização
e reforma que deram excelentes resultados. Mas como é um processo
demasiadamente burocrático, sempre marcado pela negativa de verbas, urge que
tais organismos se sintam verdadeiramente responsabilizados pela preservação do
patrimônio histórico e arquitetônico aracajuano, e não apenas como esferas de
manutenção de antiguidades.
Mesmo com todos os problemas que vem sendo
acumulados ao longo dos anos e das omissões administrativas, Aracaju continua
como uma cidade belíssima, verdadeiramente encantadora. Mas o turista sempre se
encanta porque se depara com uma realidade que lhe parece a ideal pela beleza e
acolhimento. Contudo, o aracajuano possui uma percepção diferente de sua
cidade, visualiza mais realisticamente a realidade. E por isso mesmo sabe que
muito poderia ser feito para torná-la mais atrativa e cativante. E a partir de
ações que não demandam altos custos, apenas percepção de suas carências e boa
vontade administrativa.
Não sei se os coretos existentes na Praça
Fausto Cardoso e o sanitário público mais adiante, na Praça Almirante Barroso, já
foram tombados. Os dois coretos (um defronte ao antigo palácio de governo e
outro próximo à assembleia) e a fonte com colunas ao meio ainda estão bem
preservados. Como fazem parte da praça famosa, toda vez que há um reparo por
ali há também manutenção e pintura de tais estruturas. Mas o sanitário público
(de 1927), bem ao fundo da Câmara de Vereadores, está em situação deplorável,
sem qualquer serventia naquela localidade, a não ser como ponto de drogados e
desocupados.
Aliás, a Praça Almirante Barroso merecia um
cuidado bem maior da administração municipal. Além de se situar na região
central da cidade, em meio a Câmara de Vereadores, Procuradoria do Estado,
Palácio-Museu Olímpio Campos e o Palácio Fausto Cardoso (Escola do Legislativo),
é local que costuma reunir amigos para proseados de final de tarde. Além do
sanitário em estado lastimoso, não há conservação do restante do espaço nem
qualquer tipo de segurança, principalmente na direção das agências bancárias. O
que deveria ser um local acolhedor e seguro acaba se tornando perigoso demais.
E não raro que por ali acampam desde pedintes a ociosos.
Ainda com relação aos coretos da Praça Fausto
Cardoso, ao menos o que fica defronte ao Palácio-Museu poderia ser utilizado
para retretas ao entardecer. O espaço interior é suficiente para o
posicionamento de bandas e filarmônicas, mesmo com número menor de componentes.
Tal musicalidade faz muita falta aos aracajuanos e não deixaria de ser uma
forma de levar à juventude um conhecimento maior sobre a música viva dos
desfiles comemorativos, dos quartéis, das escolas e sociedades musicais. Seria,
assim, uma junção de nostalgia musical com a arte tão difundida pelo maestro
Leozírio Guimarães.
Hoje é Dia de Retrata, eis o nome de um
programa radiofônico dominical apresentado por Jairo Alves de Almeida e que
busca preservar a musicalidade das filarmônicas. E o grande número de ouvintes
e de pessoas que por ali passam certamente ficaria agradecido se pudessem
reencontrar na praça pública aqueles sons tão audíveis ao coração. A retrata ao
entardecer, a partir de um coreto de praça, assim um reencontro com o seu
passado que Aracaju tanto precisa ter.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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