Rangel Alves da Costa*
Dentro da mesma pessoa habita uma selva de
seres impensáveis e um céu de alados inimagináveis.
Dentro de um único ser se digladiam as forças
do bem e do mal de forma incessante. E a pessoa nem sempre pode ou sabe dominar
o combate interior.
A feição e o jeito de ser, tantas vezes
alheios ao que se desenrola por dentro, não servem como qualquer reflexo da
realidade interior.
O que se mostra na face pode estar
internamente invertido, o que se propaga como realidade pode existir de outra
forma nos meandros da alma.
Infelizmente o ser humano não pode fugir de
sua realidade dualista. É o bem e o mal, o sim e o não, o positivo e o
negativo, o riso e a dor, a alegria e o sofrimento.
A filosofia do ser humano é sempre maniqueísta.
O sujeito se divide entre o desprezível e o angelical. Seu espírito pode ser
sempre bom, sua matéria tende a ser negativa.
Como criação divina, o homem foi destinado ao
bem, ao encontro da felicidade. Contudo, enquanto vivente da realidade, se
transforma segundo as conveniências.
E as conveniências significam o grau de
proteção pessoal que a pessoa sempre carrega consigo. Para se proteger não mede
as armas nem as consequências das atitudes tomadas.
As conveniências humanas dificilmente ouvem a
voz interior, tendente a ser boa e compassiva. O coração aconselha que não, mas
o ser exterior insiste em contradizê-lo.
Tais aspectos podem ser visíveis em frases
como use a razão e não a emoção, é preciso pensar duas vezes antes de agir, aja
como pessoa e não de forma instintiva.
Não é fácil separar esse joio do trigo. Por
mais que o ser humano queira mostrar seu pujante e florido trigal, não poderá
negar a existência das ervas daninhas.
Uma situação difícil de resolver. Há de ter
muito cuidado para não querer tirar o joio a todo custo e ter de destruir
também o trigal. Há de reconhecer onde vinga e cresce o mal.
Tal situação afeta não só a própria pessoa
como as demais. A pessoa se desestabiliza entre as forças guerreando em si e
tende a provocar desgastes perante outros.
O próximo nada tem a ver com o estado de
instabilidade do outro e acaba sendo vítima de seus erros, incertezas e inconsequências.
E até com graves repercussões.
Algumas situações de vida servem como
possíveis soluções para tão difícil problema da pessoa consigo mesma e que
acaba se alastrando de forma medonha e voraz.
Assim como a pedra bruta é trabalhada, assim
como uma montanha é transformada em planície, assim também o ser humano pode se
transformar sem deixar de ser o que é.
Contudo, deverá haver o necessário
reconhecimento da existência de monstros e anjos dentro de si, deve reconhecer
que vive entremeada de flores e espinhos.
Como no mundo impiedoso ninguém pode ser
totalmente bom nem nunca é totalmente mau, há de saber lidar com os anjos e
monstros para não deixar que a parte boa não seja devorada pela parte má.
E mais. É muito mais fácil domar os instintos
para torná-los bons a insistir em tornar o lado ainda puro em maldade. A
bondade se oculta, mas continua existindo.
Os monstros são muitos dentro de um só ser
humano. O egoísmo, a soberba, a arrogância, a violência, a falsidade, tudo isso
vive entocado nos labirintos do ser.
Os anjos também são muitos e grandiosos. A
compreensão, a bondade verdadeira, o senso de pacificação, a sensibilidade, a
valorização de si mesmo e do próximo, tudo isso somado ao amor e à constante
vontade de viver pelo e para o bem.
Mas nem os anjos nem os monstros são
exteriormente visíveis na pessoa. Daí mais uma chance de não permitir que o mal
vença as propensões bondosas do coração.
Infelizmente os anjos e os monstros
continuarão povoando o mesmo ser. Cabe a cada um mostrar que os seus labirintos
não assustam aos que comungam da bondade da alma.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
E eu penso que os anjos e os demônios convivem muito bem entre eles. Nós é que os separamos.
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