Rangel Alves da Costa*
Nunca duvidei do acerto na constatação feita
em 2010 pelo técnico René Simões acerca do jogador Neymar. Naquela ocasião, o
então técnico do Atlético de Goiás disse à imprensa que aquele menino (Neymar)
tinha tudo para ser um péssimo exemplo no futebol.
O péssimo exemplo ao qual se referiu René
Simões dizia respeito ao comportamento indisciplinar do então jogador do
Santos, que ainda iniciando a carreira já demonstrava não passar de um
predestinado a reincidir na má conduta. Eis as palavras do treinador:
“Estou extremamente decepcionado. Estou desde
garoto no futebol e poucas vezes vi alguém tão mal-educado desportivamente.
Sempre trabalhei com jovens e nunca vi nada assim. Está na hora de alguém
educar esse rapaz, ou vamos criar um monstro. Estamos criando um monstro no
futebol brasileiro”. E ainda: “O que esse rapaz tem feito é inaceitável. Algo
precisa ser feito, Neymar tem de ser educado logo. Desse jeito, ele vai virar
um monstro”.
O menino cresceu e fez prevalecer sua fama de
craque. O monstro ficaria oculto aos cuidados do tempo. Não se pode negar as
qualidades futebolísticas do jogador, mas qualidades estas que não foram
aprimoradas nos aspectos comportamentais, morais e éticos. O crescimento
futebolístico não veio acompanhado de uma postura digna de um craque de uma
equipe grande e de um selecionado brasileiro. E o atleta – também fora de campo
– deveria respeitar o prestígio alcançado e a verdadeira devoção que muitos lhe
dedicam.
Contudo, nunca deu exemplos maiores que
precisava dar. Desse modo, para muitos passou a ser fácil criticá-lo e repudiar
algumas de suas atitudes e feições comportamentais. Pessoalmente, nunca
valorizei jogadores cheios de cortes e penteados para jogar futebol, nunca
apreciei jogadores que saem dos estádios para noitadas, baladas, para curtições
rodeados de modelos e esbanjando riqueza.
Não é porque é jovem e milionário que se deve
aceitar todo tipo de molecagem. O craque do campo deve também dar exemplo na
conduta lá fora. Se faz do futebol uma arte, pessoalmente se torna uma
tragédia, um exemplo maior de como não deve ser uma pessoa idolatrada. Seu
comportamento sempre me fez lembrar o atacante Adriano com suas amizades
suspeitas e o ex-Polegar Rafael Ilha e sua vida desregrada e até criminosa.
Talvez em Neymar ainda estejam latentes tanto
o médico como o monstro. O médico como um cirurgião da bola, alguém que a molda
e a faz tomar vida e encantamento. Mas também aquele monstro citado por René
Simões, só que com outra feição. O monstro na molecagem que continuou tendo, no
espertalhão que se tornou, no mentiroso que acabou se revelando, no treiteiro
que acabou assumindo ser. E agora a Receita Federal e o Ministério Público
querem provar muito mais.
Mas tal comportamento parece ser coisa de
sangue, de raiz. O mau-caratismo de Neymar filho sempre foi evidente, a conduta
trambiqueira de Neymar pai também. Nem um nem outro já demonstrou possuir o
menor caráter, integridade comportamental ou lisura nas ações. Jamais li numa
rede social qualquer comentário enaltecedor com relação ao pai. De forma
unânime, sempre apontam o caráter duvidoso desse misto de pai e empresário e
sua sede incontida por dinheiro, seja de forma escusa ou não.
E o que se assoma agora, dentre outras
acusações, é a falta de ética profissional e empresarial. Na final do mundial
de 2011, quando jogaram Santos e Barcelona e o time catalão meteu quatro a zero
na equipe santista, Neymar entrou fingindo ser jogador do Santos, vez que, por
baixo dos panos, já havia acertado tudo com o adversário, até recebido uma
fortuna por antecipação. Quer dizer, uma atitude inaceitável para um jogador de
futebol com a fama por ele alcançada. E tudo maquinado pelo pai.
A transferência para o Barcelona desde muito
que rende reportagens escandalosas. O presidente do Barcelona foi a primeira
vítima, e agora a Receita Federal e o Ministério Público estão com provas
suficientes para enquadrar os dois Neymar. O pai e o filho são acusados de
criar empresas de fachada, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica,
falsificação de documentos, sonegação fiscal, dentre outros crimes. E
certamente haverá denúncia criminal.
Haveria de se dizer que Neymar, o filho,
pisou na bola? Logicamente que não, pois tudo premeditado e conduzido pela “experiência”
do pai. Difícil agora é sair da marcação implacável da justiça, principalmente
diante dos últimos escândalos no mundo fuetebolístico. E que seja um gol de
letra para o judiciário brasileiro.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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